A vilã

Capítulo 2

Meus pais me enviaram as fotos do nosso apartamento em Diadema. Não era pequeno como eu achei que seria, e segundo os meus pais, ficava bem perto da escola onde eu faria o segundo ano do ensino médio.

Durante o resto dos dias de aula, eu fiquei mais tempo com o Hugo enquanto a Bia aproveitava o namoro. Sentávamos sempre os quatro juntos em algum lugar da escola durante o intervalo, mas ninguém percebeu nada entre Hugo e eu, até porque já éramos amigos desde sempre. Nada mudou aos olhos da galera, mas, entre a gente as coisas estavam diferentes. Passávamos boas horas juntos depois da escola às vezes, sozinhos, às vezes com a Bia e o Eduardo, mas sempre juntos. Quando ninguém estava olhando nós aproveitávamos para dar uns bons amassos.

Os resultados finais sairiam uma semana antes do Natal, e a nossa galera combinou de fazer uma despedida, pra mim e para o final do ano, na casa do Eduardo. Eu não estava muito animada por se tratar de uma despedida, como se eu nunca fosse voltar, mas eles acabaram me convencendo de que seria legal e eu cedi.

Nossas notas foram boas e todos da galera passaram de ano. Alguns com facilidade e outros nem tanto, mas todos podíamos comemorar.

Eu não ficava sozinha com a Bia há muito tempo, mas no dia em que ela decidiu que iríamos às compras, isso foi inevitável. Os meninos se recusaram a ir, porque era um programa de meninas. No fim das contas, fomos nós duas. Ela não parou de falar do namoro nem um minuto, como se eu não soubesse todos os detalhes. Rodamos pelo shopping inteiro, até que a Bia encontrou o vestido perfeito segundo ela.

-Esse vai ficar lindo em você, Mia.

-Não vou de vestido.

-Porque não?

-Já tenho o meu look e ele é perfeito pra dançar sem me preocupar.

-Qual é Mia? Você vai de short?

-Claro. Quer algo melhor pra dançar sem mostrar a calcinha?

-Mas é uma despedida caramba. Não quer que as pessoas se lembrem de você deslumbrante em um vestido de tubinho azul?

-Tubinhos sobem.

-Tudo bem. Me ajuda a escolher alguma coisa pra mim então.

-Rodamos o shopping inteiro e você não achou nada que te agradasse?

-Queria achar uma roupa pra você.

-Não se preocupe. Eu não vim pra gastar. Vamos escolher alguma que seja a sua cara.

Procuramos na loja que estávamos, e encontramos uma saia rosa salmão e uma blusa verde clara que ficaram lindas nela. Compramos e fomos pra casa. Não eram nem três da tarde e a Bia já estava louca de ansiedade. Os meninos logo chegaram dizendo que já tinham levado tudo para a casa do Eduardo.

Enrolei até faltar só uma hora e meia pra festa, pra começar a me arrumar. Não tinha muito o que fazer. Lavei o cabelo, fiz uma maquiagem simples só com máscara de cílios, delineador e batom roxo. Coloquei meu short, uma blusa listrada e meu All Star branco. Básica.

A casa do Eduardo era consideravelmente perto por isso fomos a pé. Bia reclamou um pouco do salto alto, mas nada demais. Ela estava linda, assim como o irmão. Hugo estava com uma camisa com estampa jeans, uma bermuda branca e um tênis preto. Nem reparei no resto das pessoas quando chegamos na festa. A música já estava rolando e nós fomos dançar. Só parei quando fiquei cansada, e fui para a área da piscina.

Fiquei um tempo olhando pra água e pensando como seriam as coisas em São Paulo. Eu mudaria de estado em menos de duas semanas e só agora a ficha tinha caído. Eu perderia tudo aquilo que eu estava vivendo. Todas as amizades que eu fiz durante toda a minha vida ficariam para trás. Pelo menos por um ano, eu teria que fazer novos amigos, recomeçar em outro lugar, para depois abandoná-los também. Naquele momento eu decidi que não iria me apegar a ninguém em São Paulo.

Quando eu estava bem distraída Bia apareceu trazendo Hugo, Eduardo e umas duas amigas dela.

-Ta pensando no fim das suas paqueras, Miranda?

-Oi?

-Você vai deixar seus benzinhos chorando aqui.

-Deixa de bobeira, Bia. Não tenho paquera nenhuma.

-É Bia. Não reparou que ela ta na seca esse último mês?

-Verdade. Não te vi ficando com ninguém.

-E você nunca se preocupou muito em não ficar com ninguém.

-O que aconteceu?

-Achou um Love?

-Deixa a menina galera.

-Só dei um tempo gente, eu tô indo embora.

-Você vai achar muitos caras pra você ficar lá em São Paulo.

-Não tô preocupada com isso.

-Claro que não. Você sabe que vão chover de caras te dando mole.

-Eu não ligo.

-Vai aproveitar né garota?

-Quem sabe.

O Hugo se ofereceu pra pegar comida e bebida pra todo mundo, e o Eduardo foi com ele.

-Sempre que surgir um gatinho você promete que vai me contar?

-Você vai ter que ter muito tempo livre pra ouvir as histórias da Miranda.

-Se aqui ela já faz sucesso, imagina em uma cidade tão grande e bonita quanto São Paulo.

-Talvez não. Eu vou ser só mais uma menina na cidade grande.

-Promete que conta?

-Prometo Bia.

Ficamos conversando sobre coisas aleatórias, até decidirmos dançar mais. O Hugo se afastou um pouco mais de mim durante o resto da festa. O que seria de nós quando eu fosse embora? Será que ele se lembraria de mim? Eu não queria magoá-lo, nem prendê-lo. Resolvi que eu o deixaria livre, assim como eu queria ser. Como se nada tivesse rolado entre nós, e como se fôssemos somente amigos. Como sempre foi.