A vilã

Capítulo 8

O final das férias passou bem rápido e eu não conversei muito com a Bia e o Hugo nesses dias. Para falar a verdade quase não conversei com as meninas do Vôlei. Eu estava esperando o momento certo para falar com a Pilar, mas esse momento nunca chegava. Nós nunca estávamos completamente sozinhas, e esse assunto é bem delicado. Tentei observar o máximo pra saber se o Otávio já tinha dito alguma coisa pra ela, mas pelo visto ela nem desconfiava.

Eu estava estudando de manhã e a tarde tinha o treino de vôlei. Na primeira semana de aula eu vi o quanto a escola ficava cheia de alunos. Como eu tinha reparado durante as férias, a maioria das pessoas eram mesmo mais ricas. Tinha no máximo dez pessoas com condições financeiras mais baixas do que o restante dos alunos.

Como eu ainda não tinha feito outros amigos, eu ficava próxima do pessoal do Vôlei e, consequentemente, da Pilar. Estava me matando continuar ali do lado dela como se nada tivesse acontecido. Eu estava agindo como todo mundo, escondendo dela as burradas do namorado. Eu não ia guardar isso pra sempre, e ela ia ter que acreditar em mim.

-Posso falar com você?

-Nós só temos um assunto em comum.

-Eu queria agradecer por não ter contado nada pra Pilar.

-Acredite foi a pior escolha que eu fiz. Inclusive eu decidi que não vou ficar enganando ela como você faz. Ou você conta pra ela o que aconteceu, ou eu mesmo vou contar.

-Não precisa fazer isso. Olha só, eu posso ficar com vocês duas se você ainda me quiser.

-Como? Você acha que eu quero ser a sua segunda opção?

-Se não quiser ser a segunda, você pode ser a primeira.

-Você só pode estar brincando. Eu não quero ficar com você. Não mesmo. Você é nojento. Devia tomar coragem e contar pra sua namorada o quanto você é sujo.

-Eu gostei de você Miranda. Te achei linda, amei te beijar. Só que agora você não está me ajudando muito. Acho melhor esquecer essa ideia de falar alguma coisa com a Pilar, senão vai ser pior pra você. – Ele saiu.

-Não tenho medo das suas ameaças, seu covarde.- Gritei.

Não consegui me concentrar no primeiro horário, mas nos outros eu me esforcei um pouco mais. Não podia perder a matéria logo no começo do ano. As aulas custaram a passar. Cinco horários pareciam ter virado dez. Na parte da tarde eu corri para o ginásio para falar com a Pilar.

-Ei. Tem um tempinho livre?

-Claro.

-Eu queria te contar uma coisa. Na verdade já tem um tempo que eu quero te falar isso, mas nunca parecia ser a hora certa.

-Você ta me assustando.

-Eu vou tentar ser direta. Quando você tentou me apresentar pro Otávio e ele disse que já me conhecia, é porque eu cheguei aqui antes de você voltar. Ele foi a primeira pessoa que conheci aqui em São Paulo, e nós ficamos.

-O que?

-A gente já tinha se esbarrado uma vez no aeroporto. Acho que foi quando ele foi te levar, e quando eu vim entregar minha transferência e o histórico ele me ajudou e me beijou.

-Você está afim dele?

-Não. Eu estava antes de saber que ele tinha uma namorada, o que só aconteceu no dia da praia.

-Por que ta me contando isso agora?

-Por que eu não acho certo ele te enganar, e você continuar com ele sem saber o que aconteceu de verdade.