Resolvi dar mais uma volta em São Paulo para procurar vagas de emprego, mas estava complicado achar alguma coisa perto do apartamento e da faculdade. Passei mais uma semana enviando currículos para todas as lojas que eu consegui. Pouco antes de completar dois meses que eu estava morando em São Paulo, recebi uma ligação.
-Alô.
-Boa tarde. Falo com Miranda Manfrini?
-Sim. Quem fala?
-Aqui é Celina da Decorate, paisagismo e decoração. Você nós enviou o seu currículo à duas semanas atrás. Ainda está interessada na vaga?
-Estou sim. Muito interessada.
-Ótimo. Você pode vir até a Decorate amanhã às nove?
-Posso sim.
-Muito bem. Quando chegar pergunte por mim e você será direcionada.
-Tá bem. Muito obrigada.
-De nada. Até amanhã.
-Até.
Quase não consegui dormir direito depois da faculdade. Levantei mais cedo do que todo mundo, fiz um café caprichado e sai pra conseguir chegar na loja na hora de abrir. Quando cheguei, a loja já estava aberta. A vendedora foi muito educada e me levou até o escritório da Celina. Nós conversamos por alguns minutos, ela me perguntou sobre o cargo que eu pretendia, sobre minha idade, minha faculdade, minha mudança para São Paulo, falou do meu horário de trabalho e me desejou boa sorte.
Ela disse que eu teria um mês de experiência, mas que eu receberia neste mês de qualquer forma, me levou até o vestiário, me deu um uniforme e disse que eu poderia acompanhar uma das meninas que ela me indicou para aprender como funcionavam as coisas. A loja era de decoração e paisagismo, então tinha de móveis até roupas de cama e materiais de jardinagem para vender, era bem grande e ocupava dois andares.
A semana foi bem produtiva. Acompanhei o máximo de vendedoras que eu pude e em determinado momento até acompanhei as caixas. Consegui ver como funcionava o recebimento de mercadorias, o atendimento, o pagamento, a organização dos móveis na loja e a distribuição para os clientes. Na segunda semana eu já estava fazendo o atendimento de clientes assim como as outras.
Em três meses morando em São Paulo, eu já tinha feito muitos trabalhos e exercícios da faculdade, tive que ler alguns livros sobre Arquitetura, consegui um emprego, falei com muitos estranhos, desentupi uma pia, preparei muitas vezes o jantar ou o almoço, sozinha ou com ajuda, tive que fazer compras, pagar contas joguei o vizinho pra cima da minha melhor amiga, e descobri que morar sem os pais é muito trabalhoso mas é libertador.
Eu estava feliz com o rumo que as coisas estavam seguindo. Com tudo o que em tão pouco tempo nós três tínhamos conquistado naquela cidade de gigantes. Nós erámos adolescentes vivendo como adultos em uma cidade muito louca e barulhenta. Talvez eu não tivesse conseguido tudo isso sozinha. Ainda bem que eu tive o Hugo e a Carol pra me ajudarem nesse momento da minha vida. Com eles ali eu não sentia falta de ninguém.
-Mia?
-Eu. – Me virei e vi alguém andando em minha direção.
-Não acredito. O que você está fazendo aqui?- O Leo me abraçou.
-Tô morando aqui.
-Eu achei que você não fosse voltar pra São Paulo nunca mais.
-Pois é. Eu também achei que não, mas eu passei na universidade daqui, eu meio que já conhecia a cidade, então eu vim.
-Por que você não me avisou que tinha voltado?
-Pra te falar a verdade eu não lembrei. Os primeiros meses aqui são sempre muito corridos e eu tinha que arrumar os papéis da faculdade, procurar um emprego...
-Eu imagino. Já está se acostumando de novo?
-Já. Na verdade acho que já entrei no ritmo. E você como tá?
-Eu tô bem. Obrigado. Tô estudando na USP.
-Eu também. Faço Arquitetura e você?
-Publicidade.
-É muito a sua cara mesmo. E a Pilar?
-Ela tá bem, mas ela não estuda aqui. Ela foi selecionada pro time de vôlei do SESI-SP, então ela faz faculdade EAD.
-Que legal. Ela sempre foi muito boa no vôlei mesmo.
-Ela é boa sim.
-E vocês continuam namorando?
-Sim. Não tem como largar aquela menina.
-O mesmo cara apaixonado do ensino médio. Fico feliz por vocês.
-Eu também. Ela vai ficar muito feliz quando souber que você voltou. A gente podia marcar um dia pra se ver, fora da faculdade. Nós três.
-Seria legal. A gente faz isso assim que for possível.
-Ótimo. Seu número ainda é o mesmo?
-É sim.
-Então eu te ligo.
-Ta ok. Boa aula.
Ele me abraçou de novo e foi embora. Eu não esperava ver alguém da escola de novo, mas já que aconteceu fico feliz por ter sido o fofo do Leo.
-Qual dos dois irmãos era?
-O que?
-Aquele cara era um dos dois irmãos que você pegou aqui em São Paulo? Ou algum dos caras?
-Não e sim.
-Como é?
-Ele não era um dos irmãos. Mas foi um cara que eu peguei em São Paulo.
-Tá.
-Ele é o cara que virou meu amigo, que namora e que ficou surpreso em me ver. Você tá com ciúmes?
-Não. Só achei estranho porque você ainda não tinha me contado nada de ninguém daqui, então pensei que pudesse ser algum dos caras do segundo ano.
-Você estava certo, mas eu não sei se eu te contaria se estivesse acontecendo alguma coisa agora.
-Por quê?
-Você percebeu o quanto a gente se afastou?
-Claro que percebi. Mas não acho que precisa ser assim. Nós moramos no mesmo apartamento. Você é a minha melhor amiga desde sempre e eu não quero que nada atrapalhe isso.
-Eu também não quero Hugo, só que às vezes é meio difícil olhar pra você e não poder te abraçar ou te beijar como antes.
-Eu sei. As coisas estão um pouco diferentes agora, mas mesmo assim eu quero fazer parte da sua vida também.
-Tá legal. Se alguma coisa interessante acontecer eu vou te contar, eu prometo, mas você vai ter que me contar as coisas que acontecem com você também.
-Combinado.
-A gente vai se atrasar pra aula.
-Estamos na faculdade, mãe.
-Isso não teve a menor graça.
-Teve sim. Você precisava ver a sua cara.
Ele correu de mim e eu fui andando devagar até a minha sala. Que saudade que eu estava de conversar com ele. Eu nem tinha me dado conta que sentia tanta falta das nossas conversas.
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A vilã
Teen FictionToda história tem uma vilã. Certo? As vilãs também têm uma história por trás delas. Talvez não sejam vilãs porque querem, mas porque as pessoas as vejam assim. Sinto muito em dizer, mas essa não é a história de uma mocinha. Pelo menos não é o que a...