Capítulo 31

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Resolvi dar mais uma volta em São Paulo para procurar vagas de emprego, mas estava complicado achar alguma coisa perto do apartamento e da faculdade. Passei mais uma semana enviando currículos para todas as lojas que eu consegui. Pouco antes de completar dois meses que eu estava morando em São Paulo, recebi uma ligação.

-Alô.

-Boa tarde. Falo com Miranda Manfrini?

-Sim. Quem fala?

-Aqui é Celina da Decorate, paisagismo e decoração. Você nós enviou o seu currículo à duas semanas atrás. Ainda está interessada na vaga?

-Estou sim. Muito interessada.

-Ótimo. Você pode vir até a Decorate amanhã às nove?

-Posso sim.

-Muito bem. Quando chegar pergunte por mim e você será direcionada.

-Tá bem. Muito obrigada.

-De nada. Até amanhã.

-Até.

Quase não consegui dormir direito depois da faculdade. Levantei mais cedo do que todo mundo, fiz um café caprichado e sai pra conseguir chegar na loja na hora de abrir. Quando cheguei, a loja já estava aberta. A vendedora foi muito educada e me levou até o escritório da Celina. Nós conversamos por alguns minutos, ela me perguntou sobre o cargo que eu pretendia, sobre minha idade, minha faculdade, minha mudança para São Paulo, falou do meu horário de trabalho e me desejou boa sorte.

Ela disse que eu teria um mês de experiência, mas que eu receberia neste mês de qualquer forma, me levou até o vestiário, me deu um uniforme e disse que eu poderia acompanhar uma das meninas que ela me indicou para aprender como funcionavam as coisas. A loja era de decoração e paisagismo, então tinha de móveis até roupas de cama e materiais de jardinagem para vender, era bem grande e ocupava dois andares.

A semana foi bem produtiva. Acompanhei o máximo de vendedoras que eu pude e em determinado momento até acompanhei as caixas. Consegui ver como funcionava o recebimento de mercadorias, o atendimento, o pagamento, a organização dos móveis na loja e a distribuição para os clientes. Na segunda semana eu já estava fazendo o atendimento de clientes assim como as outras.

Em três meses morando em São Paulo, eu já tinha feito muitos trabalhos e exercícios da faculdade, tive que ler alguns livros sobre Arquitetura, consegui um emprego, falei com muitos estranhos, desentupi uma pia, preparei muitas vezes o jantar ou o almoço, sozinha ou com ajuda, tive que fazer compras, pagar contas joguei o vizinho pra cima da minha melhor amiga, e descobri que morar sem os pais é muito trabalhoso mas é libertador.

Eu estava feliz com o rumo que as coisas estavam seguindo. Com tudo o que em tão pouco tempo nós três tínhamos conquistado naquela cidade de gigantes. Nós erámos adolescentes vivendo como adultos em uma cidade muito louca e barulhenta. Talvez eu não tivesse conseguido tudo isso sozinha. Ainda bem que eu tive o Hugo e a Carol pra me ajudarem nesse momento da minha vida. Com eles ali eu não sentia falta de ninguém.

-Mia?

-Eu. – Me virei e vi alguém andando em minha direção.

-Não acredito. O que você está fazendo aqui?- O Leo me abraçou.

-Tô morando aqui.

-Eu achei que você não fosse voltar pra São Paulo nunca mais.

-Pois é. Eu também achei que não, mas eu passei na universidade daqui, eu meio que já conhecia a cidade, então eu vim.

-Por que você não me avisou que tinha voltado?

-Pra te falar a verdade eu não lembrei. Os primeiros meses aqui são sempre muito corridos e eu tinha que arrumar os papéis da faculdade, procurar um emprego...

-Eu imagino. Já está se acostumando de novo?

-Já. Na verdade acho que já entrei no ritmo. E você como tá?

-Eu tô bem. Obrigado. Tô estudando na USP.

-Eu também. Faço Arquitetura e você?

-Publicidade.

-É muito a sua cara mesmo. E a Pilar?

-Ela tá bem, mas ela não estuda aqui. Ela foi selecionada pro time de vôlei do SESI-SP, então ela faz faculdade EAD.

-Que legal. Ela sempre foi muito boa no vôlei mesmo.

-Ela é boa sim.

-E vocês continuam namorando?

-Sim. Não tem como largar aquela menina.

-O mesmo cara apaixonado do ensino médio. Fico feliz por vocês.

-Eu também. Ela vai ficar muito feliz quando souber que você voltou. A gente podia marcar um dia pra se ver, fora da faculdade. Nós três.

-Seria legal. A gente faz isso assim que for possível.

-Ótimo. Seu número ainda é o mesmo?

-É sim.

-Então eu te ligo.

-Ta ok. Boa aula.

Ele me abraçou de novo e foi embora. Eu não esperava ver alguém da escola de novo, mas já que aconteceu fico feliz por ter sido o fofo do Leo.

-Qual dos dois irmãos era?

-O que?

-Aquele cara era um dos dois irmãos que você pegou aqui em São Paulo? Ou algum dos caras?

-Não e sim.

-Como é?

-Ele não era um dos irmãos. Mas foi um cara que eu peguei em São Paulo.

-Tá.

-Ele é o cara que virou meu amigo, que namora e que ficou surpreso em me ver. Você tá com ciúmes?

-Não. Só achei estranho porque você ainda não tinha me contado nada de ninguém daqui, então pensei que pudesse ser algum dos caras do segundo ano.

-Você estava certo, mas eu não sei se eu te contaria se estivesse acontecendo alguma coisa agora.

-Por quê?

-Você percebeu o quanto a gente se afastou?

-Claro que percebi. Mas não acho que precisa ser assim. Nós moramos no mesmo apartamento. Você é a minha melhor amiga desde sempre e eu não quero que nada atrapalhe isso.

-Eu também não quero Hugo, só que às vezes é meio difícil olhar pra você e não poder te abraçar ou te beijar como antes.

-Eu sei. As coisas estão um pouco diferentes agora, mas mesmo assim eu quero fazer parte da sua vida também.

-Tá legal. Se alguma coisa interessante acontecer eu vou te contar, eu prometo, mas você vai ter que me contar as coisas que acontecem com você também.

-Combinado.

-A gente vai se atrasar pra aula.

-Estamos na faculdade, mãe.

-Isso não teve a menor graça.

-Teve sim. Você precisava ver a sua cara.

Ele correu de mim e eu fui andando devagar até a minha sala. Que saudade que eu estava de conversar com ele. Eu nem tinha me dado conta que sentia tanta falta das nossas conversas.

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