Capítulo 22

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Comecei a reparar em uma garota da minha turma que mandava muito bem nos exercícios e nos trabalhos que os professores passavam. O único problema dela era que ela era muito tímida, mas era de pessoas inteligentes que eu precisava. Um dia, durante a Educação Física eu me sentei pra conversar com ela.

-Oi. Seu nome é Carolina não é?

-É sim. – Ela olhou pra mim e concertou o óculos.

-Eu sou a Miranda.

-Eu sei quem você é.

-A gente já estudou junto?

-Não. Mas você era bem conhecida nessa escola.

-É verdade. Olha, eu sei que você não é muito de papo, mas eu vi o quanto você manda bem nas matérias. Você sabia que a escola tá com um projeto de grupo de estudos?

-Eu vi o cartaz na biblioteca esses dias.

-Você já pensou em se inscrever? Eu acho que seria bom pra gente, principalmente neste último ano de escola, estudarmos o máximo possível e com as pessoas mais inteligentes da escola. Você ia ser de grande ajuda pro grupo. O que acha?

-Eu vou ver com os meus pais se posso participar.

-Legal! Outra coisa, eu sei que pode ser pedir muito, mas você quer ser minha dupla em Química e Física?

-Eu não sou tão boa assim nessas matérias.

-Eu também não. Mas eu tenho certeza de que de todos os alunos daquela sala você é a melhor escolha de dupla.

-Legal. Pode ser.

-Valeu mesmo Carolina.

-Pode me chamar de Carol.

-E você pode me chamar de Mia. Tô sentido que vamos ser uma boa dupla.

-Eu também.

-Eu adorei seu óculos. Quantos graus têm?

-Um no direito e um e meio no esquerdo.

-Não é tanto assim.

-Não é. Só é meio ruim pra enxergar de longe. Eu já me acostumei com ele.

-Eu sempre quis usar óculos sabia? Mas nunca precisei.

-Não é tão legal assim, às vezes atrapalha.

-Tipo quando?

-Quando eu vou dormir e esqueço e tirar, ou quando vou tomar banho...

-E quando você vai beijar?

-Às vezes embaça. Mas depende muito do beijo.

-Legal.

Ela levou a mão na cabeça pra se proteger de uma bola que acertou os nossos pés.

-É involuntário. Eu morro de medo de quebrar os óculos e ficar sem enxergar.

-Já pensou em usar lente?

-Já. Mas é bem mais caro do que o óculos.

-Você não precisa usar sempre. Usa só de vez em quando. Um dia de festa, ou quando você quiser se sentir bonitona. Sei lá.

-Devolve a bola ai Miranda.

Eu chutei a bola de qualquer jeito e acabei acertando um carinha que eu nunca tinha reparado na sala.

-Foi mal. De verdade.

Ele me olhou com a cara bem fechada. A Carol, ao mesmo tempo que riu olhou pra ele com uma cara de pena. Quando ela percebeu que eu tinha reparado em como ela estava olhando pra ele, ela ficou toda sem graça.

-E aí? Qual é a de vocês dois?

-O que?

-Você e aquele carinha. Você gosta dele?

- Não.

-Não? Fala sério. Você ta toda vermelha.

-Talvez eu o ache interessante.

-E porque não tenta nada?

-Sei lá. Acho que ele não ligaria pra uma "nerd".

-Para de bobeira. Você é muito gata e inteligente. É um bônus.

-Você acha?

-Acho sim. Você só tem que usar menos esse rabo de cavalo, solta o cabelo, passa um batom e usa menos blusa de frio. Você quer a minha ajuda?

-Pra que?

-Pra ficar com ele.

-Não. Não gosto dessa ideia de ser oferecida por um amigo como se eu fosse um prato de comida.

-Eu não vou oferecer você. Eu vou te ajudar a ficar mais atraente e confiante. Você topa?

-Ta beleza.

Peguei o telefone dela e começamos a trocar mensagens quando não estávamos na escola. Os pais dela deixaram ela se inscrever no projeto e agora estudávamos juntas todos os dias de manhã e a tarde. Ela não precisou muito da minha ajuda pra se produzir, ela só precisava de um toque avisando o que ela não podia mais fazer. Durante duas semanas nós fomos o centro das atenções na sala de aula. Ninguém conseguia acreditar que aquela era a mesma Carol. Até as professoras elogiaram.

Quando estávamos no final de março o carinha começou a dar sinais de que tinha interesse nela. Ele era um menino mais tímido também e como a maioria dos meninos fazem, mandou o amigo dele conversar com ela.

-Miranda, posso falar com você?

-Fala Eduardo.

-É o seguinte, todo mundo sabe que você e a Carolina são as garotas mais inteligentes da sala, e eu meio que afundei nos primeiros trabalhos. Meu amigo e eu pensamos que não custava nada pedir ajuda pra vocês já que vocês são meninas legais e que não diriam não.

-O que você acha Carol?

-Eu não ligo de ajudar. Mas eu vou avisando, ajudar não é fazer o trabalho no lugar de vocês.

-Ta beleza. Chega aí Pablo. As meninas vão ajudar a gente. Mas é só ajudar.

Nós ajudamos os dois com o trabalho de Biologia e Química e nesse meio tempo o Pablo resolveu falar com a Carol porque ele queria a ajuda dela. É claro que nós duas já sabíamos o motivo. Eles começaram a ficar de vez em quando, mas a Carol disse que ele não demostrava querer nada sério. Eu vi uma oportunidade de ter uma amiga que fosse como eu.

-Eu não acho que você deva se preocupar com isso. A não ser que você queira alguma coisa séria. Você está no terceiro ano, devia focar nos estudos, e não em namoro. O que você quer fazer?

-Você tem razão. Eu vou focar nos estudos. Mas isso não quer dizer que eu vou parar de ficar com ele.

-E nem deve. Aliás, não precisa ficar só com ele, já que nenhum dos dois quer alguma coisa séria. O último ano escolar é um ano de experiências. Temos que viver o máximo que pudermos.

-Não sei se consigo ser igual a você Mia, mas não vou me prender a ninguém.

E foi assim que eu comecei o meu exército.

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