Em uma semana arrumamos todas as nossas malas, pegamos todos os tipos de documentos que precisaríamos para entrar na faculdade ou para viver. Eu nunca tinha pensado que eu voltaria para São Paulo, mas eu estava no avião. A Carol estava ainda mais empolgada que eu. Ela nunca tinha ido pra lá e esperava que eu mostrasse todos os lugares que conhecia pra ela, pena que não eram muitos.
Chegamos antes da metade do mês e depois do carnaval. Pegamos nossas malas na esteira e quando íamos procurar por um táxi, um carro parou perto de nós e o Hugo desceu dele. Eu fiquei paralisada.
-Esse é o irmão gato melhor amigo?
-É ele sim.
-Até eu pegava. O cara é um gato. Ele bem o meu tipo.
-Ele tem namorada.
-Que não é você e mesmo assim não te impediu de ficar com ele de novo.
-Calada.
-Antes você ligava pra isso. Hipócrita.
Olhei pra ela furiosa, mas querendo rir. Ela me conhecia bem.
-Não importa. Não vai acontecer de novo.
Ele se aproximou de nós e ajudou a carregar as malas.
-Eu me atrasei um pouco. Desculpa. O trânsito já tá meio louco.
-Não tem problema Hugo. Essa é a minha amiga Carol.
-Oi. Prazer. – Ele apertou a mão dela e sorriu.
-O prazer é todo meu.
-Sossega. – Sussurrei. -Podemos ir?
-Claro.
Ele colocou as malas no porta-malas e a outra no banco de trás. Eu me sentei na frente com ele porque não tinha mais espaço lá atrás.
-Como foi a viagem?
-Tranquila.
-Só estamos com fome.
-Ah, claro. A gente pode pedir uma pizza, ou um hambúrguer, ou aproveitar que estamos na rua e comer um Subway. O que preferem?
-Subway. A pizza e o hambúrguer daqui não são tão bons quanto os de BH.
-Não são mesmo. Mas temos que nos acostumar. Vão ser quatro anos comendo essas porcarias.
-Se sua mãe souber disso ela mata você.
-Aposto que você não vai contar.
-Cadê o cara saudável que eu conheço?
-Ainda sou. Mas tenho menos tempo pra cozinhar, então como o que tem.
-Isso vai mudar. Agora vamos ser três na cozinha.
-Falem por vocês. Não me dou muito bem com as panelas.
-Tudo bem. A gente dá um jeito. Só não vamos morrer de fome.
Paramos em uma loja do Subway e comemos em menos de quinze minutos. Eu nunca tinha visto o Hugo tão comunicativo como hoje, pelo menos não com estranhos. Acho que fazer Jornalismo e morar em outra cidade fez muito bem pra ele. Era como se ele fosse outra versão dele mesmo, e eu gostei.
Ficamos por mais trinta minutos no carro até chegar ao prédio em que íamos morar. Não era o prédio mais alto e nem o mais baixo de toda a São Paulo. Era um prédio de tamanho mediano, provavelmente um padrão para os conjuntos de edifícios habitacionais da região onde estávamos. Um prédio seminovo, bem cuidado e sem decorações ou cores demais.
Tínhamos a opção de usar a escada ou o elevador. Hugo morava no quinto andar. E no quinto andar tinham quatro apartamentos, o dele era o quinhentos e três. O apartamento por dentro era ótimo, nem muito grande e nem pequeno demais. Cada uma pegou um quarto e deixamos as nossas coisas.
-Então, a Amanda não vai precisar de um quarto?
-Ela dorme comigo.
-Ela também veio pra São Paulo?
-Não. Ela veio nas férias pra me ajudar a arrumar as coisas aqui e pra ficar comigo.
-Onde sua namorada estuda?
-Ouro Preto.
-Legal.
-Eu também estudava lá, mas tive uma oportunidade muito boa e me transferi pra cá.
-A Mia tinha dito algo parecido com isso mesmo.
-Já mostrei todos os cômodos, vocês não vão se perder. Se quiserem comer alguma coisa que não tem na geladeira ou na despensa podem pedir.
-Se a gente precisar de mais alguma coisa nós compramos Hugo. Pode ficar tranquilo.
-Vocês podem ficar à vontade. Eu vou dormir porque trabalho amanhã cedo. Boa noite.
-Boa noite.
Ficamos só nós duas na sala conversando e planejando nossos próximos passos dali pra frente.
-Primeiro nós vamos até a faculdade entregar os papéis e fazer as matrículas.
-Certo. Depois vamos começar a distribuir nossos currículos e procurar emprego.
-Para trabalharmos temos que estudar à noite. Estamos de acordo com isso?
-Óbvio.
-Ótimo. Depois, quando arrumarmos um emprego, vamos nos virar e estudar pra caramba ao mesmo tempo em que trabalhamos pra nos sustentar nessa cidade caótica.
-Concordo plenamente. Mas não vamos esquecer que precisamos nos divertir um pouco também. Somos adolescentes que precisam descansar e beijar na boca.
-Vamos descansar, mas sem comprometer os estudos e o trabalho. O que você tá olhando tanto lá dentro?
-Tem certeza que esse gatinho namora? Sacanagem.
-Tenho certeza sim. E mesmo que não namorasse, ele não é pra você. É um rapaz sério.
-Eu também sou uma moça séria.
-Eu conheço a sua seriedade, e ela não está envolvida nos relacionamentos que você tem.
-Eu nunca tive um relacionamento sério mesmo, e não é agora que estou no meu melhor momento que vou arriscar a me apaixonar.
-Muito esperta.
-Esse ano vai ser fantástico. Ninguém segura a gente.
-A gente precisa dormir também. Amanhã vamos resolver o começo da nossa vida. Boa noite.
-Boa noite.
Fomos para a cama. A casa estava tão silenciosa e os meus pensamentos tão conturbados que eu não conseguia parar de me mexer na cama e de pensar em como as coisas seriam. De tanto me mexer acabei sentindo muito calor e tirei o pijama. Rolei por algumas horas até precisar levantar. Fui até a cozinha e peguei um copo de água. De repente a luz acendeu.
-Desculpa Miranda. Eu não te vi aí.
-Tudo bem. Estava escuro mesmo.
-Eu sinto muito mesmo. – Ele disse tampando os olhos.
-Hugo. Você já me viu assim antes.
-Eu sei. Mas agora é diferente. Não tá certo.
-Tudo bem. Eu que peço desculpas. É a sua casa e eu não tenho o direito de andar só de calcinha e sutiã por aí. Eu prometo que não vai virar um costume.
-OK.
-Boa noite.
-Boa noite.
Voltei pro meu quarto e tentei dormir, mas por mais que eu tentasse não conseguia. Estava ansiosa e ao mesmo tempo ainda estava sob os efeitos de ser vista seminua pelo Hugo. Além dos meus pensamentos a casa também parecia estar inquieta agora.

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A vilã
Teen FictionToda história tem uma vilã. Certo? As vilãs também têm uma história por trás delas. Talvez não sejam vilãs porque querem, mas porque as pessoas as vejam assim. Sinto muito em dizer, mas essa não é a história de uma mocinha. Pelo menos não é o que a...