Capítulo 39

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Voltei pra São Paulo e terminei o resto do ano tentando melhorar as minhas técnicas e conhecimentos, e fazer o meu nome no mundo da arquitetura. O Hugo e eu não estávamos juntos. Eu preferi assim, para que ele não se sentisse na obrigação de me esperar de verdade.

Quanto mais os meses passavam mais eu sentia saudade de estar com ele e pensava em tudo o que ele me disse. Se eu voltasse para Belo Horizonte agora eu não estaria com o nome tão visado na minha área, mas se eu voltasse eu trabalharia com o que eu gosto e com quem eu gosto.

-Eu acho que você só não quer aceitar a escolha que você já fez.

-Eu não fiz nenhuma escolha ainda.

-Claro que fez. Você sabe onde quer estar.

-Como você decidiu que ia ficar aqui em São Paulo?

-A minha vida é aqui. Eu trabalho na maior editora do Brasil, era isso que eu sonhava quando escolhi trabalhar com edição. E, além disso, quando eu cheguei aqui encontrei um cara maravilhoso que me faz muito feliz e que está pronto pra me ajudar e me apoiar no que eu preciso. Você acha que aqui é o seu lugar? Ou que aqui você vai encontrar essas coisas?

-Eu tenho muitas oportunidades de emprego aqui.

-E em BH você também vai ter. Não tô falando pra você ir pra lá só porque o Hugo vai estar lá. Não é isso. Lá você vai estar perto dos seus pais.

-Eu sei. Desde que os meus pais me fizeram a proposta de voltar pra lá e trabalhar com eles, eu não consegui parar de pensar nisso. Eu só queria ser uma profissional melhor, mais conhecida antes de voltar.

-Você queria ser melhor do que você já é? Você pode fazer isso lá. Não vão ser as mesmas oportunidades que você teria aqui, mas vão ser as oportunidades que aparecerem pra você lá.

-Você tá certa.

-Quer ajuda pra fazer as malas?

-Eu preciso resolver algumas coisas antes.

Passei o mês todo ajeitando tudo o que eu precisava, devolvendo o apartamento que ainda não era meu, pedindo demissão e recomendações para possíveis oportunidades que me parecessem em Belo Horizonte e me despedindo dos meus amigos que eu estava deixando pra trás. Eu morreria de saudades da Carol e do Tadeu, da Celina e até do Leo e da Pilar.

Por falar nos dois, eu tentei encontrar o Leo pra me desculpar e tentar ajeitar as coisas entre eles, mas não tive muito sucesso. Para falar a verdade nem consegui encontrá-los, mas pelo menos eu tentei.

Resolvi tudo o que eu precisava, tomei um banho de mar e voltei para a minha cidade pronta pra concertar a minha vida, fazer a minha carreira e ser feliz. A primeira coisa que eu fiz foi falar com os meus pais que eu não via a hora de trabalharmos juntos de construirmos os nossos projetos em família. Depois eu precisava encontrar o Hugo.

Como eu não sabia qual era a emissora em que ele estava trabalhando e não sabia se ele ainda estava morando com os pais dele ou não, eu fui pra opção mais confiável. Quando entrei a Tia Débora me atendeu eu não sabia exatamente o que dizer.

-Você voltou. Que bom te ver Mia.

-É bom te ver também tia.

-Do que você precisa? Quer o endereço da Bia?

-Não. Na verdade eu quero o endereço do Hugo.

-Ele ainda está morando com a gente. Ele até anda procurando um apartamento pra comprar, mas enquanto não encontra ele fica coma gente. Entre.

-Obrigada.

-Você pode esperar por ele aqui. São quase cinco e é mais ou menos essa hora que ele chega em casa.

-Quem bom.

-Não se importa de esperar aqui sozinha? Eu preciso ir ao mercado.

-Não. Tudo bem. Não quero te atrapalhar.

-Ele já deve estar chegando. Bom te ver querida.

-Bom te ver também.

Esperei por ele por meia hora na sala, mas não conseguia mais ficar quieta. Subi até o quarto dele e comecei a olhar as coisas. Tudo tinha o estilo dele. Ainda tinha algumas coisas de quando erámos adolescentes, mas agora o quarto estava mais adulto. Abri o guarda-roupa e senti o cheiro do perfume que vinha das roupas. Olhei um pouco mais e encontrei a coleção de DVDs e a camisa nova que eu tinha dado.

Fui até a mesa do quarto e bem em cima achei o pingente da plataforma nove três quartos. Ele guardava bem ali onde ele podia ver todos os dias. Eu peguei o pingente e coloquei o cordão novo que eu comprei no aeroporto, talvez ele gostasse da surpresa. Escutei um barulho lá embaixo e quando fui até a janela para olhar eu não consegui ver ninguém e ele apareceu na porta do quarto.

-Oi.

-Oi. Que surpresa boa. Está de férias?

-Não. Eu vim pra ficar. Voltei pra casa.

-Sério? – Ele me abraçou. – Mas e sua proposta de emprego?

-A minha melhor proposta foi feita aqui.

-Você vai ter o seu próprio negócio?

-Com os meus pais.

-Uma empresa familiar. Ótimo.

-É sim. Eu trouxe uma coisa pra você.

-O que é?

Eu entreguei o cordão com o pingente.

-Não é mais o mesmo cordão, mas é o seu pingente e ainda me faz lembrar da noite que eu te dei e do quanto aquela noite significou pra mim.

-Significou pra nós. Aquela foi a noite mais especial que nós tivemos.

-Eu espero que tenha sido a primeira de muitas.

-Eu prometo que vai ser.

-Acho bom.

-O que te fez mudar de ideia e voltar pra cá?

-A proposta de trabalho era muito boa.

-Engraçadinha.

-Estou falando sério. – Eu sorri pra ele.

-Você não leva jeito pra mentirosa.

-Eu não sou. Eu voltei pelo trabalho com os meus pais, mas também voltei por que assim como você eu quero tentar fazer as coisas darem certo pra nós dois dessa vez. Eu cansei de te deixar livre pra qualquer outra que aparecesse sabendo que eu queria estar com você, eu queria ser a qualquer uma que apareceria e ficaria do seu lado.

-Eu nunca quis que fosse outra pessoa Miranda. Eu sei que eu fiquei com uma pessoa, mas eu não fui sincero com ela...

-Não vamos falar disso agora. Estamos falando de nós.

-Acho que esse virou o meu assunto preferido.

Ele me puxou pra perto e me beijou.

Eu sempre achei que eu fosse a vilã da história. E em alguns momentos eu tenho certeza de que realmente fui. Eu menti pra muitas pessoas, manipulei algumas outras e querendo ou não machuquei algumas delas, mas em nenhum momento eu parei pra pensar que eu poderia ser a mocinha de alguma história.

A Carol me disse que eu era a mocinha da minha história, mas eu não acho que isso seja verdade. Em muitos momentos da minha vida eu mesma acabei me prejudicando em alguns aspectos, principalmente os amorosos. Todas as coisas que eu fiz, e tudo o que passei me tornaram quem eu sou, por isso eu penso que mesmo sendo a minha história, eu ainda sou a vilã.

A vilãOnde histórias criam vida. Descubra agora