Capítulo 27

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Meus pais me deixaram passar o fim de semana do Natal na casa dos tios da Alana. Todo Natal a família dela ia para a fazenda dos tios em São Thomé das Letras. Foram quase cinco horas de viagem de carro, mas valeu a pena, o lugar era maravilhoso. A fazenda era enorme e eles tinham até umas cabeças de boi, cavalos, uma criação de porcos, um galinheiro bem cheio, um lago dentro da propriedade, isso sem contar as lagoas que tinham por perto.

No primeiro dia, nós ajudamos a ordenhar as vacas para tirar o leite do café da manhã. Ficamos assistindo os primos dela tratando dos animais, e à tarde as meninas aproveitaram para montar nos cavalos, eu preferi não arriscar. Meu histórico com animais não é muito encorajador, só fiquei observando elas quicarem nas selas e tentarem desesperadamente controlar o animal. Durante à noite nós fizemos uma grande fogueira para assar carnes e os tios e primos da Alana tocaram viola e violão.

-Mia, a gente pode conversar?

-Claro.

-Eu sei que nós não falamos disso até hoje, mas eu preciso te pedir desculpas pela formatura.

-Não se preocupa, Carol. Eu sei que você não queria.

-Eu queria sim. Não assim... Quer dizer, eu quis te beijar, mas não é uma coisa que eu queira continuar fazendo. Não que você não beije bem...

-Você estava um pouco bêbada. Tá tudo bem.

-Eu só não acho que a gente tenha química.

-Como um casal não temos mesmo.

-Mas é que eu realmente estava na vibe de experimentar as coisas. Nós estávamos conversando sobre aproveitar o máximo possível e era isso que eu queria fazer. Desculpe se te coloquei nessa, é que você é a garota mais legal e interessante que eu conheço e a única que eu achei que poderia ter essa curiosidade também ou que, sei lá, não me julgaria por que eu queria experimentar beijar uma garota...

-Tá tudo bem. De verdade.

-Sério?

-Foi uma experiência. Só isso. Aposto que você deve ter pensado em um cara bem gato quando me beijou.

-Não exatamente, mas se você fosse um cara eu te pegaria.

-Se você fosse um cara, eu te pegaria também. Se você tivesse pegada é claro.

-Você acha que não teríamos pegada? Olha só pra nós. Se como garotas conseguimos pegar quem queremos, imagina se fossemos caras gatos. Nós não íamos deixar passar uma.

-Com certeza não. Seríamos a melhor dupla.

-Nós somos a melhor dupla.

-Você tem razão, somos mesmo.

-Vocês são o que?

-As garotas mais inteligentes e comportadas da nossa escola.

-Eu até concordo com a parte da inteligência, mas o comportamento de vocês é péssimo. Por isso somos amigas.

-Não somo más garotas. Pelo menos não no sentido verdadeiro.

-Uhum, sei.

-É sério. Somos garotas puras.

-Se você considera pureza transar com o próprio primo...

-Você eu já sabia que não era nada pura, Alana.

-E você por acaso ainda é virgem Carol?

-Claro que sou. Acho totalmente válido beijar quantas bocas me forem interessantes, e aproveitar quantos caras legais eu puder, mas acho ainda mais importante me guardar pro cara certo.

-Fala sério, você tem dezoito anos. Você tenta não ser santinha, mas isso tá no seu sangue. Eu vou pegar um refrigerante. Vocês querem?

-Eu não.

-Não obrigada.

-Não liga pra ela Carol. Eu acho que é a melhor escolha que uma garota pode fazer.

-Você também é virgem?

-Não. Mas eu tenho certeza que eu escolhi o cara certo pra ser o meu primeiro.

-Você nunca tinha falado sobre isso.

-Na verdade eu nunca tinha contado pra ninguém. É meio complicado.

-Você se arrepende?

-Eu? Nem um pouco.

-E foi bom?

-Foi sim. Foi muito especial, acho que pra nós dois.

-Doeu?

-Não. Por isso eu te disse que essa foi a sua melhor escolha. Acho que quando a gente tá pronta e escolhe a pessoa certa, não temos medo de dar errado, não temos medo de doer ou de sofrer. As coisas só acontecem sabe? E é maravilhoso.

-Uau. Quem foi o cara?

-Essa é parte meio complicada.

-O que pode ser complicado nisso?

-Ele é meu melhor amigo, e é irmão da minha melhor amiga.

-Achei que eu fosse a sua melhor amiga. - Ela sorriu pra mim.

-E você é agora. Mas antes era a Bia. E nem mesmo ela sabia dessa história.

-Isso é que é declaração de amizade. Obrigada por confiar em mim pra contar.

-Só não conta pra ninguém.

-Eu me chamo Alana?

-O que vocês estão falando de mim?

-Só que você é a pior de todas.

-Em alguns aspectos eu sou mesmo.

-Alana eu tô um pouco cansada. Onde a gente vai dormir.

-Vou levar vocês pro quarto de visitas.

-Você não vai dormir com a gente?

-Não oficialmente. Nada contra vocês, mas eu prefiro dividir colchão com o meu primo.

-Você é tão nojenta.

Nós fomos para o quarto de visitas e dividimos a cama de casal. A Alana foi mesmo dormir com o primo dela e só apareceu no outro dia de manhã para fingir pra família dela que tinha dormido com a gente. De manhã ajudamos a pegar o leite novamente e ficamos observando os meninos tratarem os animais. À tarde assistimos uma caça ao porco mais gordo do chiqueiro, mas preferimos não assistir à morte do coitado, por isso, fomos ajudar as mulheres com os preparativos da ceia de Natal e a arrumação da casa. Nunca vi tanta comida na minha frente.

Diferente da minha família eles tinham a tradição de só comerem a meia noite, e por isso, até dar a hora da ceia, ficamos todos sentados na varanda, do lado de fora da casa, ouvindo todos os tipos de música que se possa imaginar possíveis de serem tocados em violões e violas. Quando ninguém estava olhando, a Carol e eu íamos até a cozinha e pegávamos alguma coisinha pra comer.

Quando deu meia noite o céu estava muito iluminado pela lua e as estrelas. Nós fizemos uma grande roda de oração para agradecer à Deus por mais um ano que estava sendo finalizado e por Ele ter nós mandado Jesus. A comida estava maravilhosa e a sobremesa mais ainda. Não sei se era por que a maioria dos pratos tinham sido feitos no fogão de lenha, mas o gosto da comida era totalmente diferente pra mim.

No nosso penúltimo dia na fazenda, a Alana nós levou pra conhecer a lagoa mais próxima. Ficamos lá desde de manhã até o começo do entardecer. Aproveitamos pra fazer um piquenique e pra falarmos do que esperávamos para os anos de faculdade. Depois do almoço, no dia seguinte, nós voltamos pra Belo Horizonte.

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