Capítulo 35

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-Por que você sumiu? Eu fiquei te procurando naquele bar o resto da noite, até eu ligar pro Hugo e ele falar que você estava aqui. O que aconteceu ontem Mia? Onde você estava?

-Por favor, para de gritar.

-Você tá de ressaca?

-Não é óbvio?

-Como você chegou aqui?

-De carona.

-De quem? Você estava bêbada, podiam ter feito alguma coisa com você.

-Era uma carona conhecida, e ele não fez nada.

-Ainda bem. Quem era?

-O Otávio.

-O cara que você ficou quando estudou aqui?

-Ele mesmo.

-Por que ele?

-Porque ele foi o que apareceu.

-Você tá doida?

-Não. Mas já estou arrependida.

-Arrependida por ter bebido.

-Por ter bebido, por ter ficado com ele, por ter pego a carona...

-Qual é o seu problema?

-Eu não sei, mas não quero mais ter que ouvir sermão por causa de uma idiotice. Fui idiota, já sei. Fui imatura, já sei também. Agora me deixa dormir pra ver se consigo esquecer a noite de ontem.

-Se você não esqueceu depois de beber, eu duvido que vai esquecer dormindo.

-Me deixa, Carol.

Eu fiquei no quarto até a tarde. Só sai porque eu precisava comer alguma coisa antes de que comesse o meu próprio braço. Que noite esquisita. Ao mesmo tempo em que foi um dos meus melhores aniversários, foi um dos piores também. Eu nunca mais ia beber como ontem. Ficar de ressaca é terrível, sem contar que eu não parei pra pensar no que eu estava fazendo. Fala sério, quem beijaria o Otávio de novo depois de tudo o que ele fez?

Preparei uns sanduíches e fui assistir TV na sala já que não parecia ter ninguém em casa. Assisti a um filme infantil que estava passando no canal que eu liguei. Acho que depois que fazemos dezoito anos ou que tomamos um porre paramos pra pensar no quanto era bom ser criança, não ter preocupações sérias e poder assistir à TV o dia inteiro. Eu precisava fazer alguma coisa pra sair dessa fase de pensamentos intensos.

Levantei do sofá e coloquei o som na maior altura possível. Aproveitei que eu estava sozinha no apartamento para limpar. Comecei pelos quartos, depois o banheiro e depois a sala e a cozinha. Fiz um bom trabalho na casa toda, e quando estava acabando eu ouvi alguém esmurrando a porta. Abaixei o som e esperei pra ver se a pessoa ia embora, mas não foi.

-Desculpa, eu já abaixei o som.

-Oi.

-Oi Otávio.

-Como é que você está?

-Tô ótima. Obrigada pela carona ontem.

-Eu não podia deixar você daquele jeito sozinha.

-Eu não estava sozinha.

-Quando eu cheguei estava.

-Não estava. O que você tá fazendo aqui?

-Vim ver como você está.

-Já viu. Agora pode ir.

-Isso é jeito de agradecer?

-Como você entrou aqui?

-Eu perguntei por você pra alguma vizinha sua que estava saindo e ela me deixou entrar.

-Essa gente é maluca.

-O que você disse?

-Você não devia estar aqui Otávio. Por favor, vai embora.

-Aquele cara de ontem é o seu namorado?

-Ele...

-Sou. O que você tá fazendo aqui de novo cara? Você já a trouxe, ela ta bem e não quer mais te ver. Se toca.

-Você não quer mais me ver Mia?

-Não Otávio.

-Mas e ontem?

-Ontem eu estava bêbada e fragilizada. Você pode sair agora?

-Eu não sabia que você namorava. Como isso aconteceu?

-Não é da sua conta.

-Vai embora cara. E deixa ela em paz.

Ele saiu olhando pra mim e pro Hugo como se aquilo fosse uma alucinação. Fechei a porta assim que ele virou as costas. Sentei no sofá e respirei fundo.

-Você não precisava ter feito isso.

-De nada Miranda.

-Eu não te pedi ajuda.

-Deixa de ser mal agradecida. Você sabe que esse cara não ia sair do seu pé enquanto você não desse uma desculpa plausível pra ele sair daqui. Eu não quero mais ver esse cara no apartamento.

-Não vai ver.

-Ótimo. E se não for pedir muito, eu gostaria de não te ver bêbada de novo.

Ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas.

-Eu não ligo de ter que cuidar de você de novo, como eu fiz ontem, mas eu não quero ver o quanto você fica arrasada quando tá assim.

-Você não precisava ter me visto assim. Me desculpa.

-Não precisa se desculpar. Só tenta não ficar daquele jeito de novo.

-Eu prometo que não vou mais beber.

-Tudo bem. Feliz aniversário, Miranda.

Ele me entregou um embrulho e foi pro quarto dele. Fiquei olhando para aquele embrulho no meu colo, não sabia se eu podia abrir ou não. Depois de uns minutos olhando eu decidi que o presente era meu e eu precisava abrir. Era um box com os três livros de Alice no País das Maravilhas. Toquei o meu cordão e sorri. Ele ainda se lembrava dos meus personagens preferidos. Fui pro meu quarto e li até cair no sono.

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