Pintamos a casa inteira em dois dias e meio e depois de três dias as mudanças chegaram. Ficamos envolvidos na tarefa de arrumar a casa e colocar todas as coisas no lugar por quase uma semana. Ter uma mãe designer faz com que de tempos em tempos a sua casa se transforme em algo totalmente diferente do que você está acostumada.
Nós mudamos muita coisa de lugar, e até eu que queria a minha casa de volta do jeitinho que ela era não tive como reclamar quando a reforma estava pronta. Meus pais mandaram muito bem na escolha de cores e na arrumação dos móveis. Depois de instalar todas as coisas no lugar, tivemos que arrumar a casa toda novamente, haja pano e água pra tirar os resíduos de tinta e poeira.
Minha mãe resolveu que ia fazer uma horta ou um jardim nos fundos e por isso, ficamos um dia revirando a terra de um pedaço do quintal para que ela ficasse fofa e com minerais suficientes para a minha mãe conseguir plantar alguma coisa. No final tudo ficou perfeito.
Na terceira semana do mês a Bia e eu aproveitamos para comprar as coisas que usaríamos naquele ano na escola. Passamos uma tarde inteira olhando todas as papelarias do shopping pra não deixarmos faltar nada. Desde que erámos pequenas, o dia de comprar os materiais escolares era o nosso preferido. Saímos com as mãos lotadas, mas fizemos uma boa economia.
Na penúltima semana de férias o Hugo foi levar as coisas que faltavam para a república e nós chamou para conhecermos Ouro Preto. Eu não estava muito a fim de ir, principalmente por que a Amanda iria junto, mas meu pai disse que seria legal conhecer um lugar novo e tentar ver como era a universidade. Acabei cedendo e nós fomos no carro do Hugo. Ele tinha acabado de tirar a carteira de motorista, mas como ele já dirigia à muito tempo no bairro, meus pais confiavam nele.
A cidade era a coisa mais linda. Todas as casinhas do centro eram em estilo antigo e mesmo assim ainda eram preservadas. Era a primeira vez que eu visitava a cidade histórica de Ouro Preto. As pessoas de lá foram bem simpáticas com a gente. O Hugo deixou o carro perto da república e fomos conhecer a cidade a pé. Cada ruazinha que eu entrava era parecida com as outras, mas sempre tinha algum detalhezinho diferente. Eu adorei aquele lugar.
Ajudamos o Hugo a colocar o resto das coisas no lugar, conhecemos a república e a dona da casa onde a república funcionava. O lugar era bem arrumado para uma república. Na minha cabeça a imagem de república era uma coisa totalmente bagunçada e sem regras, mas aquela ali era diferente. O Hugo tinha escolhido bem o lugar que daqui a uma semana seria a nova casa dele.
-Aqui é tão organizado.
-Muito obrigada.
-Como funciona aqui?
-Eu tenho quatro quartos para alugar. Cada quarto acomoda duas pessoas. Têm dois banheiros, um para meninas e outro para meninos quando tem uma turma misturada, que é o caso deste ano. Meninas ficam no mesmo quarto e meninos em outros. Neste quesito eu não gosto de misturar as coisas, principalmente com adolescentes e jovens cheios de hormônio. A sala e a cozinha são compartilhadas e eles é que têm que cuidar da limpeza da casa. De vez em quando eu apareço aqui pra olhar como andam as coisas.
-Que coisa louca.
-E pode ter festa?
-Eu costumo deixar fazer festas, mas eles têm que me avisar com antecedência e me passar a lista de convidados. E no máximo que eu permito é uma festa por mês. Não quero que os meus meninos percam o foco no estudo.
-A senhora se apega muito aos republicanos?
-Nem todos. Um ou outro que eu tenho mais apreço. Os que eu gosto eu pego mesmo no pé. Eu quero que os alunos que se hospedam aqui tenham um futuro de verdade, não que venham aqui só pra curtir.
-E a senhora tem filhos?
-Tenho, mas já são formados. Eles estudaram aqui também e eu peguei no pé deles do mesmo jeito que faço com os meus hospedes. Hoje eles são profissionais respeitados.
-Muito legal.
-A senhora é tipo uma segunda mãe?
-Imagina. Claro que não. Mãe a gente só tem uma. Eu só faço o que eu posso pra ajudar.
-A senhora é demais.
- Chega de perguntas né, galera? Eu volto na semana que vem pra semana de calouros. Tchau.
-Cuidado na estrada.
Depois que voltamos pra Belo Horizonte não demorou muito pras coisas se desenrolarem. O Hugo foi embora na semana seguinte, e nós, para aproveitarmos o final das férias íamos ao clube quase todos os dias. Fomos ao cinema uma vez e outra vez ao parque de diversões, mas não fizemos nada mais interessante.
Era engraçado pensar que seria o nosso último ano na escola em que passamos a nossa vida inteira. Eu não via a hora de reencontrar as pessoas, saber quem tinha ficado na escola e quem tinha saído, mesmo que o meu ciclo e amizades estivesse mais fechado com a Bia e o Hugo. Talvez esse ano eu tivesse que fazer amigos novos. Se tinha uma coisa que eu tinha certeza é que não ficaria de vela pra ninguém.

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A vilã
Teen FictionToda história tem uma vilã. Certo? As vilãs também têm uma história por trás delas. Talvez não sejam vilãs porque querem, mas porque as pessoas as vejam assim. Sinto muito em dizer, mas essa não é a história de uma mocinha. Pelo menos não é o que a...