Capítulo 33

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Comecei a evitar encontrar com o Hugo o máximo possível. Todos os dias eu saia um pouco mais cedo de casa para não precisar da carona pra faculdade. Na faculdade eu olhava os corredores antes de sair de sala pra não correr o risco de esbarrar com ele. Durante os fins de semana, às vezes eu saia com a Carol e o Tadeu e outras vezes saia com o Leo e a Pilar, só pra não termos que ficar sozinhos. Em alguns finais de semana a Carol e o vizinho ficavam no apartamento com a gente e em outros o Hugo é que saia.

O primeiro semestre da faculdade não foi muito difícil. As provas e trabalhos já haviam passado e eu tinha me saído bem. Não estava muito preocupada com o próximo período, mas estava ansiosa. Como eu estava trabalhando não pude ir para Belo Horizonte nas férias do meio do ano. E os meus pais também não podiam vir pra São Paulo porque estavam trabalhando em algum novo projeto de prédios residenciais.

Eu passava os dias trabalhando, e aos fins de semana a tarde, às vezes, eu ia andar atoa pelo shopping, ou assistir algum filme novo. Na maioria das vezes eu passava na Leitura e sempre que a Carol estava lá eu fazia compras com ela. Algumas vezes eu entrava nas lojas de roupas e sapatos e experimentava o que eu achava que ficaria bom em mim, mas eu quase nunca comprava nada.

Em algum final de semana qualquer eu fiquei entediada cedo demais e acabei voltando pro apartamento. Quando entrei tinha uma mala enorme no meio da sala. Será que a Bia tinha vindo sem me avisar? Passei pelo corredor e a porta do quarto do Hugo estava escancarada, e dentro dele eu vi um Hugo pelado e uma Amanda barulhenta.

Eu não sei o que foi pior, ficar parada olhando a cena ou ser pega pelos dois enquanto eu estava paralisada olhando aquilo. O Hugo levantou correndo com o lençol enrolado na cintura e fechou a porta.

-Você podia ter feito isso antes de eu chegar aqui.

-Desculpa Mia. Eu estava com saudade demais pra deixar ele fazer isso na hora.

-É pra isso que as portas são feitas. Para serem fechadas e não permitirem que pessoas que não querem ver o que vocês estavam fazendo vejam o que eu vi. Meu Deus.

-Não finge de santa Mia. Eu duvido que você nunca fez isso.

-Não é da sua conta.

-Ta bom. Me desculpa. Não vai se repetir.

-É bom mesmo. Isso é um apartamento compartilhado. Podia ter sido a Carol, ou eu podia estar com alguém.

-Mas não estava Miranda. Já chega. Esquece isso.

-Vai ser difícil esquecer essa cena.

-Tenta caramba.

Peguei as minhas chaves e sai do apartamento. Eu passei tanto tempo evitando o Hugo que até tinha me esquecido o porquê de eu me afastar dele. A chegada da Amanda me deixou meio desestabilizada, principalmente depois de ver a cena dos dois transando. Foi só um relance, uma coisa rápida, mas doeu. Doeu ver que o Hugo tem alguém que não sou eu. Quando voltei a Carol estava em casa e os dois tinham saído.

-Que cara é essa?

-A cara de quem viu alguma coisa que não deveria ter visto.

-O que foi que você viu?

-Não quero falar sobre isso.

-Tudo bem. A garota que estava aqui quando eu cheguei é que é a tal de Amanda não é? É por isso que você ta assim.

-Já disse que não quero falar sobre isso.

-Se guardar pra você, vai pesar no seu coração.

-Eu cheguei aqui e vi os dois transando.

-Como assim transando?

-Transando Carol. Como as pessoas fazem pra trazer. Pelados, corpo com corpo, suados, arfantes e gemendo.

-Por que você viu isso?

-Porque eu quis ver.

-Não precisa ser grossa.

-Desculpa. Eu vi porque a porta estava aberta.

-Poderia ter sido eu.

-Eu sei, mas pra sua sorte não foi.

-Você tá legal?

-Não, mas vou ficar.

-Posso te ajudar de algum jeito?

-Você pode fazer uma panela de brigadeiro pra gente se empanturrar?

-Eu não sou muito boa na cozinha, mas por você eu posso tentar.

-Você é a melhor amiga da face da Terra.

-Eu sei.

Ele fez um brigadeiro meio puxento, mas estava gostoso. Comemos a panela enquanto assistíamos um filme e depois pedimos uma pizza. Quando estávamos acabando de comer a pizza os dois chegaram.

-Oi meninas.

-Oi.

-Oi. Querem pizza?

-Não obrigada. Acabamos de comer.

Eu precisei correr para o banheiro para vomitar. Eu me lembrei da cena de mais cedo e tudo o que eu comi voltou na hora.

-Ela tá bem?

-Acho que ela comeu muita porcaria. Eu vou ajudar.

-Não precisa. Tá tudo bem Carol. Você pode pegar minha toalha, por favor? Eu preciso de um banho.

Ela levou a minha toalha e avisou que estava indo dormir, mas que se eu precisasse podia chamar. O casal foi pro quarto e eu fiquei muito tempo no banheiro. Nunca tomei um banho tão demorado na minha vida. Quando saí a casa estava silenciosa. Parei um pouco na varanda da sala pra respirar e aproveitar o vento frio no rosto.

-Você tá legal?

-Tô sim. Obrigada.

-Me desculpa por hoje.

-Você não tem que pedir desculpas.

-Eu não devia ter deixado a porta aberta.

-Não devia mesmo.

-Eu sinto muito por você ter visto.

-Eu também. Boa noite.

-Eu não consegui segurar Miranda. Você sabe o quanto é difícil olhar pra você e não poder fazer nada? Sabe o quanto é difícil ter que me segurar pra não cometer um erro de novo?

-Sei. Eu sei exatamente como é.

-Não sabe. Não exatamente. Eu não posso tocar você e não quero ter que mentir pra ela.

-Mentir pra quem?

-Amanda.

-Do que vocês dois estão falando?

-Eu posso explicar.

-Então explica.

-A gente pode conversar no quarto?

-Por quê? Por que não pode ser na frente dela?

-É um assunto delicado.

-E aposto que ela está envolvida.

-Eu estou. Eu não fui a melhor amiga que ele poderia ter. Eu beijei o seu namorado, mesmo quando ele me pediu pra não fazer de novo.

-Não foi só você Miranda. Eu também te beijei.

-Vocês dois estão de sacanagem comigo?

-Amanda, vamos conversar no quarto, por favor.

Ela foi para o quarto pisando duro e com a maior cara de ódio que eu já vi alguém fazer. Ele foi atrás dela pra explicar as coisas e eu fui pro meu quarto dormir. Não importa o que acontecesse hoje, eu tenho certeza que eu nunca mais estragaria a vida de alguém.

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