No segundo mês de aula, eu entendi que precisava de mais. Por isso, eu tentei procurar ajuda das jogadoras pra me tornar melhor no vôlei. Como a minha fama não estava muito boa graças ao espertinho do Otávio, eu não consegui ajuda de ninguém. A professora não podia ficar por que ela treinava a turma de natação.
Só me sobravam duas pessoas para pedir ajuda. Uma delas eu tenho certeza de que não me ajudaria de jeito nenhum já que eu "estava interessada no namorado dela", mas a outra pessoa sabia que não era bem assim que as coisas aconteceram. Eu aproveitei um dia em que a Pilar não estava se sentindo bem pra conversar com a minha última opção.
-Oi Camila. Podemos conversar.
-Desculpa Miranda, mas eu não posso.
-Eu juro que vou ser rápida.
Ela olhou pra mim e ao redor da quadra.
-Fala rápido
-Obrigada. Eu sei que minha reputação não é muito boa nessa escola, mas você sabe que as coisas não aconteceram do jeito que a Pilar ou o resto da escola pensa.
-Eu sei?
-Você viu que eu não sabia que o Otávio tinha namorada. Foi você que me contou. Então a única garota que eu posso pedir ajuda é você.
-Miranda eu não posso limpar a sua barra. Eu sou amiga da Pilar e do Otávio há muito tempo. O que ele fez não foi certo, mas eu não posso te ajudar com isso.
-Não é por isso que eu estou aqui.
-Então o que é?
-Eu quero te pedir ajuda pra treinar. Eu sei que sou novata e que não sou boa. Por isso eu preciso que você me ajude. Você é a líbero do time principal. Eu quero ser tão boa quanto você pra poder participar do campeonato escolar. Eu não vou conseguir se ficar treinando só com o time e não tiver um treinamento específico.
-Por que você não pede ajuda pra outra pessoa?
-Porque nenhuma das outras meninas quis me ajudar, nenhuma delas é líbero e nenhuma é tão boa. Eu não queria ter que te pedir isso, até porque eu tinha certeza que você não ia aceitar, mas eu quero muito isso. E só vou conseguir se tiver ajuda.
-E aí gata? Vamos?
-Já vou Breno. Eu vou pensar, mas se eu fosse você ia pensando em outras opções.
-Tá. VALEU.
Um passo já tinha sido dado. Eu já tinha imaginado que ela seria um pouco resistente em aceitar o meu pedido de ajuda, mas pelo menos ela iria pensar. Talvez algum dia ela me desse uma resposta positiva. Enquanto isso, eu iria treinar sozinha. Eu ia ser uma das melhores do time.
Quando eu estava indo embora recebi uma mensagem do Leo. Eu precisava acertar as coisas. Eu estava deixando rolar, mas se continuasse assim ia acabar atrapalhando os meus planos. Respondi a mensagem e fui me encontrar com ele.
-E aí Miranda?
-Oi Leo. Tudo bem?
-Eu tô legal e você?
-Também. Qual o motivo do encontro?
-Eu queria te ver ué. Não pode?
-A gente se vê durante cinco horas Leo. Estamos na mesma sala.
-Eu sei. Só que tem dia que não é suficiente.
-Leo, preciso conversar sério com você.
-Ixi.
-Nem vem com Ixi. Quando nos conhecemos eu te disse que não queria me apegar à ninguém, e você concordou. Só que agora, quem ta se apegando é você. E eu não quero acabar com a nossa dupla.
-Nem eu.
-Eu adoro fazer as atividades com você, até porque você torna as coisas mais fáceis já que o nosso raciocínio é parecido, e somos bons.
-E o meu beijo é bom.
-Tem isso também. Só que você ta misturando as coisas. Exatamente como eu te disse que não queria fazer entende?
-Entendi.
-Ótimo.- Me levantei.
-Onde você vai?
-Pra minha casa.
-Eu sei que exagerei esses dias, mas era só, sei lá, vontade de te ver mesmo.
-Você se apegou. Eu não quero isso. Não quero te magoar.
-Já magoou. – Ele abaixou a cabeça na mesa.
-Desculpa Leo.- Me abaixei pra ficar mais perto dele- Mas eu já tinha te avisado sobre isso.- Ele levantou a cabeça e me beijou.
-Isso não te faz mudar de ideia?
-Não.
-Pense nos beijos e amassos que você vai perder.
-Não vou perder. Se eu não estiver com você, eu vou estar com qualquer outro carinha que seja interessante pra mim. O que eu não quero perder em nós dois é a nossa amizade. E eu tô falando sério. Não quero perder a minha dupla.
-Você só pensa nas notas. E eu?
-Você já sabia como eu queria. E sim, eu só penso nas minhas notas porque a única coisa que eu tenho que fazer aqui em São Paulo é estudar. Todo o resto não é importante porque eu não vou poder levar quando voltar pra BH, ou não vai trazer nada de significante pro meu futuro estudantil.
-Você só pode estar de sacanagem.
-Não estou. Eu sinto muito, mas não dá pra gente continuar se pegando. Você é sentimental e vai se machucar se continuar assim, mas de verdade, eu não quero que você deixe de ser o meu amigo. Espero que você entenda.
Fui embora.
Quando cheguei em casa tomei um belo banho e olhei se a Bia ou Hugo estavam on-line, mas nenhum deles estava. Comecei a preparar o jantar e os meus pais chegaram.
- Oi filhota.
-Oi pai.
-Já está fazendo o jantar? Não tinha dever hoje?
-Não e eu estava com fome.
-Já que você já começou nós vamos deixar a pizza pra outro dia amor.
-Por mim, tudo bem.
-Seu pai encontrou uma coisa que acho que você vai gostar.
-O que?
-Só vou te mostrar depois do jantar.
-Sobremesa?
-Sobremesa.
-Legal. Por favor, fala que é sorvete.
-Não chegou nem perto.
-Então uma lata de doce de leite.
-Seja mais nostálgica Miranda.
-Você adorava quando era criança.
-Não vale dar dica amor.
-Jujuba?
-Não.
-Já sei: Churros.
-Você é terrível em adivinhar as coisas.
-Ou talvez eu não goste mais do que vocês trouxeram.
-Eu duvido muito. Você sempre comia.
-Eu desisto de tentar. O que é?
-Suspiro. Você lembra que comia um pacote inteiro?
-Lembro.
-Gostou?
-Adorei pai. Muito obrigada.
Assim que acabamos de jantar fomos para a sala assistir algum filme que estava passando. Eu peguei o saco de suspiros e comi como se não houvesse amanhã.
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A vilã
Novela JuvenilToda história tem uma vilã. Certo? As vilãs também têm uma história por trás delas. Talvez não sejam vilãs porque querem, mas porque as pessoas as vejam assim. Sinto muito em dizer, mas essa não é a história de uma mocinha. Pelo menos não é o que a...