Cheguei na escola já analisando as pessoas. A partir de agora eu só escolheria "meus amigos" se eles tivessem alguma vantagem a me oferecer. Eu disse que não ia me apegar a ninguém em São Paulo, e agora eu levaria essa determinação a sério.
Eu não tive muita sorte para analisar os alunos nas duas primeiras semanas, mas quando começaram os trabalhos e atividades em grupo ou dupla eu comecei a perceber quem eu queria por perto. Eu sempre tirei boas notas e um dos meus focos aqui em São Paulo era não deixar as minhas notas abaixarem.
-Pessoal, quero duplas para os exercícios que vamos fazer agora. Escolham ou escolherei por vocês.
Olhei para todos da sala. A maioria já tinha sua dupla definida.
-Oi Miranda, a gente pode fazer junto? Eu meio que estou sem dupla.
-Claro. Eu não tenho dupla também.
-Legal.
-Seu nome é Leo né?
-Isso. Legal saber que você sabe meu nome.
-Você também sabe o meu.
-Mas é fácil reparar em você e querer descobrir o seu nome.
O professor entregou a folha com a atividade.
-Pra saber o meu nome é só prestar atenção na chamada.
-Não estou falando só aqui na sala. Se eu fosse de outra turma eu tentaria descobrir seu nome mesmo assim.
-Por quê?
-Você parece ser uma garota legal. E inteligente. Por isso te escolhi para ser a minha dupla.
-Você acertou em uma coisa: eu sou mesmo muito inteligente.
-Prove.
-Provarei com os exercícios, mas não vou fazer sozinha.
Começamos os exercícios e estávamos desenvolvendo bem. Eu reparei que toda hora ele olhava direto pra minha boca ou sorria por qualquer coisa, sem contar que ele encostou o braço "sem querer" em mim duas vezes.
Como eu estava sendo observada por ele, comecei a reparar nele também. Ele era um moreno forte, uns bons centímetros mais alto do que eu, olhos escuros e profundos, com cabelo cacheadinho e uma boca grande. Se eu quisesse me apegar a alguém, ele seria uma ótima opção. Considerei a ideia de me aproximar dele. Ele tinha uma coisa que me interessava, ele era realmente inteligente, além de ser bonito.
-Posso entregar o exercício?
-Acho que sim. Terminamos tudo?
-Terminamos.
-Então só entregar mesmo.
Ele se levantou e foi entregar o exercício para o professor.
-Eu não sei você, mas eu não tenho uma dupla de intervalo.
-Isso foi um convite?
-Acho que sim.
-Tudo bem, dupla.
As outras aulas passaram mais rápido do que eu esperava.
-O que você trouxe? Só pra eu saber se eu vou querer dividir.
-Trouxe maçã e biscoito. Aceita?
-Não. Valeu. Vou ficar com meu biscoito recheado.
-Não é um lanche muito saudável, vai acumular gordura.
-Não vou não. Eu pratico karatê. Perco gordura e ganho massa fácil.
-Então você é esportista?
-Um pouco. Que eu saiba você também é. Faz parte da turma de vôlei.
-Eu não acho que um mês praticando por duas ou três horas me faz esportista.
-É um bom caminho.
-Como você sabe que eu sou do time feminino de vôlei?
-Eu já vi você lá. E eu ouvi por aí.
-Ouviu o que?
-Você meio que tem uma fama ruim. Você tentou destruir o relacionamento do casalzinho do ano. Do ano passado na verdade, mas ainda assim é o casalzinho.
-Eu não tentei destruir o relacionamento de ninguém. Eu cheguei aqui e não conhecia ninguém, depois dei o azar de a primeira pessoa que conheci ser um canalha que não respeita a namorada.
-Vai ser difícil as pessoas acreditarem em você. O Otávio é o cara "certinho" da escola.
-Eu não tenho que provar nada pra ninguém nessa escola. A minha consciência está limpa.
-Eu sei. Quer dizer, conversando com você dá pra ver que não teria porque você fazer isso. Desculpa ter falado sobre isso.
-Tudo bem. Só não acredita em tudo o que esse cara diz.
-Eu não acredito em nada. Sempre achei ele bonzinho demais. A Pilar merecia bem mais.
Ele disse isso com raiva, e eu entendi o que estava acontecendo.
-Você gosta dela?
-O que? Não. A Pilar nem sabe quem eu sou, não sabe o meu nome.
-Você gosta dela sim. – Eu sorri – Talvez você não soubesse, ou só ela não soubesse, mas você gosta.
-Mesmo que gostasse ela está com o Otávio, e não vai terminar tão cedo. O que eu posso fazer é tentar esquecer.
-Por isso você veio atrás de mim?
-Não. Eu só queria te conhecer mesmo. Entender que você não é o que eu estou ouvindo sobre você.
-Não sou.
-Mas não posso negar que você é linda, e não seria nenhum sacrifício ficar com você.
-Você é um cara lindo e inteligente, então tenho certeza que vai entender quando eu disser que não quero me apegar a ninguém daqui. Eu não vou ficar muito tempo e não quero ter que me despedir ou fazer alguém sofrer quando eu for embora.
-Você já fez isso antes?
-O que?
-Alguém sofrer quando teve que ir embora.
-Já sim. Eu me fiz sofrer, e não quero sentir isso de novo. Desculpe.
-Eu não tô te pedindo em namoro, nem pra você ficar pra sempre. Eu só acho que poderia ser legal você aproveitar o momento e viver uma experiência. Melhor se arrepender depois por ter feito do que por ter deixado de fazer. Não acha?
-Talvez você esteja meio certo.
-Só preciso dessa metade.
Ele largou o biscoito na mesa, tirou a minha maçã da minha mão e me beijou. O beijo dele era doce, talvez por causa do biscoito, a boca dele era grande e macia e além de bonito e inteligente, ele sabia usar a língua.
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A vilã
Teen FictionToda história tem uma vilã. Certo? As vilãs também têm uma história por trás delas. Talvez não sejam vilãs porque querem, mas porque as pessoas as vejam assim. Sinto muito em dizer, mas essa não é a história de uma mocinha. Pelo menos não é o que a...