Capítulo vinte e três

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Bulma chegou a sentar na poltrona em frente a lareira quando Jaco terminou de contar, com mais calma, o que acontecera naquele baile.


Era realmente o inferno na Terra, como Jaco gostava de enfatizar, a cada cinco minutos.

Um lobisomem apaixonado que trouxera a mulher que ele amava de volta a vida. Bulma não pode acreditar que realmente ainda existia aquela máquina. De qualquer maneira, isso não explicava o ódio da criatura ao ponto dela atacar as pessoas daquela forma. Mata-las tão cruelmente, tão friamente. Como se sua existência se resumisse a matar cada pessoa do planeta. Isso sem falar do poder extraordinário de regenerar cadáveres - mesmo estando num estado avançado de composição, como a Helles, que não passando de uma caveira. Isso explicava ela estar viva quanto fora atrás de Vegeta no salão de baile.

Suspirando pesadamente, após absorver a nova situação da Transilvânia, decidiu que teria que fazer alguma coisa. Ela era uma caçadora de monstros ainda, por mais que fosse um vampira agora, ainda tinha um dever a cumprir. Não podia deixar uma morta-viva descontrolada matar milhares de pessoas enquanto ela fugia das garras do conde. Era seu dever detê-la.

- Nós precisamos para-la - anunciou Bulma levantando-se.

- Nós? - Jaco arregalou os olhos.

- Sim, Jaco, nós - respondeu Bulma. - Você ainda é meu ajudante, afinal.

- Não por vontade própria - choramingou ele. - Eu não sirvo para esse trabalho, Bulma. Quero ir embora!

Jaco estava visivelmente arrependido de ter ido junto a Bulma para a Transilvânia. Antes tivesse desobedecido as ordens do padre Piccolo e ficado na França, protegido e longe daquelas criaturas que pareciam brotar naquela cidade.

- Devo concordar com você - riu Bulma. - Mas infelizmente só tenho você para me ajudar agora. Vamos!

- Vamos para onde? - Desesperou-se ele. - Não quero sair daqui e dar de cara com algum morto-vivo.

- Eu protejo você, querido - debochou Bulma. - Agora, vamos, eu tenho pressa.

Bulma colocou-se a caminhar em direção a porta. Mais do que pronta para dar um fim naquilo, quando, naquele exato momento, Broly passa pela entrada junto de Chirai e mais um rapaz.

- Bulma? - Surpreendeu-se Broly.

*****

Kakarotto andava sem rumo pela floresta. Sentia-se quebrado por dentro, sem ânimo, sem alegria. A dor o consumia.

Não tinha ideia de onde deveria ir agora, somente caminhava, sem querer chegar a lugar nenhum.

Seu braço e sua cabeça doíam por conta da pancada. Suas roupas estavam um pouco rasgadas por causa da transformação que sofreu durante a noite, e o sangue de sua cabeça, assim como de seu braço, estavam secos na pele. Mas nada disso importava para Kakarotto. O que realmente importava para ele, era que Chichi havia partido, o deixando para trás.

Estava melancólico diante disso, não podia acreditar que tudo que fizera foi, de certa forma, em vão. Ela não o queria por perto, não queria conversar mais com ele, provavelmente o odiava pelo que fizera com ela, e Kakarotto não tinha mais forças para lutar, para ir atrás de Chichi e tentar convencê-la do contrário.

Talvez sua falta de vontade para lutar por Chichi tivera ocorrido a partir do momento que ela se auto intitulou um monstro. Durante toda vida dele, Kakarotto odiou-se pelo que era, pela maldição que corria em suas veias. Sempre quisera ser apenas um homem comum, para poder viver em paz e ter uma vida simples.

Sentia agora o peso do que realmente fizera com Chichi. Ela era um monstro agora, e era tudo sua culpa.

Tinha ideia de como ela poderia estar se sentindo por causa do que fizera quando não tinha o controle sobre si em suas mãos. Kakarotto sabia exatamente o que era fazer algo contra a sua vontade, de lembrar-se de crueldades de fizera com as próprias mãos e, ainda assim, não ter podido fazer nada a respeito durante o ato, por simplesmente não ser dono de suas vontades.

Demorou anos para Kakarotto controlar, de certa forma, a sanguinária criatura que se transformava nas noites de lua cheia. Mas no fim conseguiu, por sua força de vontade ser maior que sua natureza. Ele não queria ser como seu pai, ter o mesmo fim que ele. Porém, mesmo assim, as lembranças ruins do que fizera quando perdera o controle no passado jamais deixaram a sua memória.

Foi difícil para ele ver o outro ângulo daquela história, pois ele não pensara, em nenhum momento, que ressuscitando Chichi, faria ela tornar-se um monstro. A única coisa que consumia a mente de Kakarotto quando fez o que fez, era que teria sua amada de volta. Era somente isso que importava para ele.

Já perdera tantos na sua vida. Seu pai, sua mãe, seu irmão, até mesmo o velho Gohan, que fora seu salvador. Não podia perder Chichi também, não conseguiu aceitar isso. Por isso fizera tudo de maneira tão egoísta, pensando apenas em si mesmo, não importando-se com as consequências.

Iludiu-se quando pensou que assim que Chichi voltasse, eles pudessem ser felizes, viverem juntos, em um outro lugar talvez, longe da Transilvânia e daquelas pessoas supersticiosas.

- Droga! - resmungou ele com a mandíbula tensa.

Nada daquilo seria real, seus sonhos ilusórios ficariam apenas em suas fantasias, pois ela se foi, ela o odiava e jamais o perdoaria.

Sem rumo, sem sua amada, e sem muitos motivos para viver, Kakarotto vai ao único lugar que acreditava ser bem-vindo.

*****

- Então agora você é uma Vampira - constatou Broly com as duas sobrancelhas erguidas. - Uma caçadora de monstros tornou-se aquilo que caça com tanta paixão.

- Vejo que gosta de frases de efeito.- Bulma revirou os olhos.

- É algo mais forte que eu - riu ele.

- Então a morta-viva, a tal de Chichi, lembrou-se de quem era? - Bulma decidiu voltar ao assunto inicial. - Não é mais um perigo para a Transilvânia?

- Não! Chichi não é mais um perigo - enfatizou Broly. - Assim que viu Kakarotto transformar-se em lobisomem, ela paralisou, voltou a ter vida em seus olhos. Tenho absoluta certeza que ela reativou suas lembranças.

- Algo que marcou na vida dela - sussurrou Chirai lembrando-se do que Broly falara no castelo.

- Isso sim é uma boa notícia - Jaco suspirou aliviado. - Helles também não é um perigo, pois ela lembrou-se de quem era assim que viu o Conde, foi o que ela disse, pelo menos.

- Além do fato de ter se tornado cinzas - murmurou Bulma desconfortável com o que Jaco afirmava.

- Cinzas? - Broly olhou para Bulma preocupado.

- Isso não importa, Broly - Bulma voltou a mudar de assunto. - O que importa é que agora posso fugir da Transilvânia e encontrar minha cura.

- Cura? - Jaco exaltou-se. - Não há cura para sua condição, Bulma. Já li centenas de livros, em nenhum deles vi reversão para essa transformação, é uma vampira agora, e será para sempre.

- Não quero deixar de ser vampira,. Jaco - declarou Bulma.

- Não? Então por que...

- Vegeta é meu criador - explicou ela o cortando. - Você deve saber o significado disso, vendo que já leu centenas de livros, como acabou de dizer.

- Ele tem o controle sob sua vontade - murmurou Jaco constando o evidente.

- Exatamente! Preciso tirar esse controle dele sobre mim. Conhece alguma forma?

- Não! - Respondeu Jaco tristemente.

- Então preciso de respostas, preciso encontra-las. Vou pedir ajuda do padre Kuririn enquanto me escondo em algum lugar, tenho que me afastar de Vegeta até ter uma solução para o meu problema.

Broly, que escutava a conversa em silêncio, decidiu que não falaria nada sobre o fato de provavelmente ter mais um morto-vivo a solta, decidiu que Bulma já tinha problemas demais e caso algo saísse do controle, em relação ao segundo cadáver que Chichi ressuscitou, ele resolveria.

- Obrigado, Broly - Bulma o tira de seus devaneios com o seu agradecimento.

- Hein? - Indagou ele confuso.

- Por ter me ajudado com Jaco - sorriu ela revelando as presas e pegando nas mãos dele.

- Não foi nada - sorriu ele de volta.

Chirai sentiu um incomodo diante da interação dos dois.

- O Conde desperta ao anoitecer, não é? - Chirai os interrompe. - Se realmente quer fugir dele, deve se apressar, Bulma.

Broly olhou intrigado para Chirai.

- Sim, é verdade - concordou Bulma soltando as mãos de Broly. - Então vamos indo, Jaco?

- E lá vamos nós de novo - resmungou Jaco atravessando a porta.

- Eu os acompanho até a entrada da floresta. - Broly mostrou-se cavalheiro e um excelente anfitrião.

Caminharam em silêncio até o lugar que Broly prometera, quando Jaco, do nada, se virou um tanto afobado.

- Bulma! - gritou ele.

- Que foi? - Bulma fica em alerta acreditado ser algum perigo, assim como Broly.

- Por que você não pede ajuda ao Broly? - Ele continuava a falar alto.

- Ajuda minha? - Broly fez uma careta.

- Você não lembra? - Jaco agita as mãos desesperado. - As maldições consentidas pelo demônio Dabura só podem ser quebradas por aquele que retorna dos mortos.

Bulma suavizou suas feições, assim como Broly, os dois se entreolharam e voltaram a atenção para Jaco.

- Não sei se você percebeu, Jaco - Bulma olhou para Broly de soslaio. - Mas Broly não é do tipo violento, ele seria incapaz de matar qualquer um, mesmo sendo alguém como Vegeta.

Broly abaixou a cabeça de maneira melancólica. Como se alguma lembrança o machucasse profundamente.

- Ei, foi um elogio - Bulma deu um soco no ombro dele.

Broly sorriu, mas seus olhos ainda estavam tristes.

- É uma pena - Jaco ergueu os ombros. - Pois com Vegeta morto, você estaria livre do controle dele, Bulma.

Bulma sorriu balançando a cabeça negativamente.

Despediram-se e cada um seguiu seu caminho. Bulma e Jaco adentrado na floresta, enquanto Broly voltava para sua casa.

Infelizmente, nenhum dos três percebera que por ali, dois pares de ouvidos escutaram tudo o que foi dito.

- Conversa interessante, não é, filha? - Sorriu Freeza.

- Muito! - Concordou Helles.

Sabia que seu pai se interessava pelo fato de descobrir algo importante relacionado a um provável ponto fraco de Vegeta. Mas Helles, diferente de Freeza, não tinha a menor intenção de matar o conde. O que lhe interessava ali era o fato de ter visto a mulher que estivera com ele noite passada, e que descobrira seu nome.

- Bulma! - sussurrou ela muito baixo.

- O que? - Freeza olhou para filha.

- Nada, papai - respondeu Helles. - Não é nada.

*****

Assim que chegara a vila, Bulma viu o desespero das pessoas. Alguns choravam pelas ruas, outros caminhavam em direção a igreja a procura de algum consolo.

O número de mortos era grande levando em consideração a quantidade de pessoas que vivia ali. Era uma tragédia. Todos sofriam, todos lamentavam-se.

O maior problema para eles era que nem podia dar um enterro digno aos seus mortos, vendo que encontravam-se no castelo do conde, e ninguém teria coragem o suficiente para ir busca-los.

Bulma ficou a um metro de distância da entrada da igreja, enquanto Jaco ia buscar o padre Kuririn. As pessoas entravam na igreja a lotando, pareciam desesperados por consolo. Talvez Kuririn iria fazer uma missa aos mortos, por isso aquela multidão aglomerada.

O padre rapidamente veio até Bulma. Ele estava preocupado com ela. Foi um dos que não foi ao baile, por isso apenas sabia do ocorrido pela boca do povo, mas não vira nada com os próprios olhos.

Pediu explicações à Bulma quando chegou diante dela, desesperou-se um pouco ao ver o que ela se tornara, mas quando Bulma colocou Kuririn a par da situação e de suas intenções, o padre acalmou-se um pouco.

- Então precisa de uma cura para tirar o controle de Vegeta sobre você - concluiu Kuririn apertando os lábios. - Como posso ajuda-la?

- Preciso que você vá a Paris e converse com Piccolo. Ele provavelmente conseguirá uma resposta para ajudar minha situação.


Jaco, que estava ao lado de Kuririn, olhou para Bulma com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos.

- Posso ir com ele, Bulma? - Indagou Jaco praticamente implorando a pergunta. - É minha chance de sair desse lugar infernal para nunca mais voltar.

- Claro que pode, Jaco - Bulma sorriu, um sorriso sincero apesar das presas assustadoras. - Você nunca serviu para esse trabalho mesmo.

- Não mesmo! - Concordou ele.

- Eu irei sim, Bulma. - O padre cortou a interação dos dois. - Só não compreendo por quê você mesma não pode ir.

- Não poderia entrar na igreja - respondeu ela simplesmente. - Além de eu não saber como a Ordem vai reagir diante da minha atual condição. Há muitos membros na França, Piccolo é confiável, os outros nem tanto. Detestaria virar cobaia de experimento.

- Tem razão - suspirou Kuririn sabendo que muitos dos membros eram radicais em seus julgamentos. Ele e Piccolo eram uns dos poucos com a mente mais aberta.

- Mas antes de você partir, preciso de mais um favor, Padre - pediu Bulma. - Não posso ficar na Transilvânia, estou muito vulnerável à Vegeta. E como sabe, não posso mais me esconder na igreja. Conhece algum lugar?

Kuririn colocou a mão no queixo de maneira pensativa. Parecia ponderar as opções, estalou os dedos quando decidiu-se.

- Eu tenho uma prima que mora em Budapeste, é um local bastante escondido e solitário. Acredito que ela a receberia de braços abertos.

- Jura? - Duvidou Bulma. - Ela não se importará de instalar um monstro em sua casa?

- Pode-se dizer que ela está acostumado com esse tipo de coisa.


Bulma ergueu as sobrancelhas de maneira curiosa. Que será essa prima?

*****

A noite caiu na Transilvânia. Gélida e melancólica. Era como se o céu soubesse do momento de luto que a cidade sofria.

Vegeta abriu os olhos assim que o sol se pôs, saindo assim de seu transe. Virou a cabeça para o lado a procura do corpo feminino que havia deixado ali antes de adormecer. Estranhou quando não à encontrou, pois ela era uma vampira como ele agora, devia ter dormido o dia todo, como qualquer vampiro.

Sentou-se na cama movendo a cabeça a procura de algum sinal dela. Viu que a roupa dela não estava mais ali, assim como uma de suas capas que deixara no canto daquele quarto.

Levantou-se estralando o pescoço, fechou os olhos e tentou sentir a presença dela em algum cômodo do castelo, mas não havia nenhum sinal.

- Ela fugiu? - Perguntou-se surpreso.


O conde não podia acreditar que ela tivera coragem. Ou Bulma era muito corajosa, ou muito tola por ter cometido tal ato.

Um sorriso cruel formou-se em seus lábios, adoraria ver o quanto ela iria resistir, e ele iria adorar testar até o último fio de sanidade dela antes de vê-la voltar ajoelhando-se e implorando à ele por alívio.

De qualquer forma deixaria aquilo para mais tarde, daria à ela um dia de vantagem antes de começar a atormenta-la.

Estava faminto e usaria aquela noite para caçar e alimentar-se, porém, antes disso, tinha que dar um jeito naqueles cadáveres na sala do trono, não podia deixa-los começar a apodrecer e feder em seu castelo.

Mal-humorado diante dessa nova constatação, Vegeta caminhou até o salão, estressando-se somente de pensar no trabalho que teria com aquilo.

Ao chegar no local, porém, Vegeta viu que alguém já começara com o trabalho sujo.

Kakarotto, no canto do salão, arrastava alguns cadáveres para a porta dos fundos, os levando para o lado de fora.

- Oi, Vegeta - cumprimentou ele limpando a testa com o antebraço quando o conde aproximava-se.

Apesar do cumprimento amigável, Vegeta podia sentir o ar melancólico de Kakarotto, e que o timbre de sua voz continha tristeza.

- O que está fazendo aqui, Kakarotto? - Indagou Vegeta cruzando os braços. - Não deveria estar atrás da morta-viva?

O lobisomem suspirou pesadamente antes de começar a contar tudo o que acontecera desde que saiu do castelo, junto de Broly, indo atrás de Chichi.

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