Jaco estava eufórico enquanto embarcava no navio, finalmente sairia daquele inferno chamado Transilvânia.
- Parece alegre - Kuririn falou sorrindo, com a sua maleta na mão, enquanto caminhava para dentro do navio.
Infelizmente o embarque havia se atrasado, por isso estavam saindo ao anoitecer, e não ao fim de tarde como era planejado.
- Nunca mais volto para esse lugar - comentou Jaco acompanhando o padre. - Voltarei para minha casa e nunca mais vou inventar de viajar para outros países.
- Que assim seja então - Kuririn riu.
Dali a alguns minutos o navio partiria para seu destino, porém, entre os passageiros, estavam dois mortos-vivos, e mesmo que parecessem, não eram exatamente humanos.
Mal sabia Jaco, que Paris não seria o paraíso que procurava, e que não seria a última vez que pisaria na Transilvânia.
*****
Não foi difícil Vegeta encontrar Kakarotto, estando ele no mesmo quarto que o viu entrar na noite anterior.
O conde, sem a menor cerimônia, invadiu o cômodo sem bater na porta. O ambiente estava deprimente e escuro, o castiçal de vela não tinha mais chamas para clarear o quarto, e a janela estava aberta, fazendo um vendo frio e cortante entrar junto de sua melodia sombria.
Na cama estava deitado o lobisomem, com a mesma roupa da noite anterior e com o olhar perdido no teto. Parecia um defunto pronto para ser velado diante da falta de vida em suas pupilas.
- Pelo jeito passou o dia todo aqui - resmungou Vegeta adentrando no lugar.
- Não sabe que é falta de educação invadir o quarto dos outros sem bater? - Kakarotto continuava a olhar para o teto.
- Esse quarto não é seu - resmungou o conde.
As velas se acenderam como um passe de mágica enquanto Vegeta fechava a janela.
Suspirando, Kakarotto ergueu-se, sentando-se na cama enquanto sentia seu humor piorar a cada segundo. Queria apenas ficar sozinho, afundado na sua tristeza, mas Vegeta estava atrapalhando seus planos.
- Fale de uma vez o que você quer, para eu poder voltar a fazer o que estava fazendo - rosnou o lobisomem.
- Para voltar a chorar, você quer dizer? - Debochou Vegeta cruzando seus braços sobre o peito musculoso.
- Eu não estava chorando. - Kakarotto saiu da cama, estufando seu peito e encarando Vegeta. - Estava me lamentando pelo que perdi, igual à você na noite anterior, quando chutou aquela cadeira.
Vegeta desviou o olhar de maneira raivosa, odiava o fato daquele lobisomem o desvendar tão facilmente. Era revoltante para ele.
- Não estou aqui para falar dessas bobagens - resmungou ele voltando a olhar para Kakarotto.
- Então fale o que quer - exigiu Kakarotto querendo ficar sozinho logo.
- Quando você foi atrás da sua mulher, junto daquele outro morto-vivo, o Broly - Vegeta foi direto ao assunto -, você descobriu de alguma forma aonde ele mora?
Kakarotto franziu o cenho e levou a mão no queixo. Teve um momento em que ambos desviaram caminho e levarem a tal de Chirai junto de Jaco na casa do morto-vivo, para eles conseguirem encontrar Chichi com mais calma, mas sua cabeça no dia em questão estava tão preocupada que não lembrava ao certo aonde ficava.
- Sim, nós chegamos a passar na casa dele, mas não lembro do caminho com precisão, Vegeta - Kakarotto foi sincero. - Ele mora numa torre abandonada na floresta, é só disso que eu me lembro.
Um sorriso arrogante formou-se nos lábios do conde por saber exatamente que torre abandonada era essa. Só existia uma em toda a Transilvânia, e ele já esteve nela no passado, quando Gero desafiou as leis de Deus e venceu a morte.
- Eu já desconfiava - murmurou mais para si mesmo do que para Kakarotto. - Ele só poderia morar naquele lugar mesmo.
Kakarotto observou Vegeta sair de seu quarto sem lhe dizer mais nada. Não entendeu muito bem, mas no mínimo o conde queria encontrar Broly por algum motivo, motivo esse que não interessava Kakarotto, por isso, assim que se viu sozinho novamente, fechou a porta do quarto - trancando-a dessa vez - e deitou-se na cama. Deixando novamente a melancolia o consumir.
*****
O dia fora exaustivo para Bulma e Chichi, a revelação para ambas deixaram-nas perturbadas e apavoradas.
O mundo era diferente para elas agora, e suas novas realidades não eram tão agradáveis como inicialmente aparentava ser, apesar que para Chichi em nenhum momento foi agradável, apenas para Bulma, que finalmente alcançou a eternidade desejada.
Havia coisas consideravelmente vantajosas nas suas atuais situações. A força e a eternidade eram bons exemplos, mas agora, colocando tudo em uma balança, os contras pesavam mais que os prós.
Chichi tinha uma possível raiva para conter e também vozes do além para aprender a conviver.
Bulma tinha uma submissão irremediável para com seu mestre e também um controle sob suas vontades que podiam ser manipuladas.
Quando Lunch falou que ambas estavam encrencadas, não imaginaram que seria tão encrencadas assim.
De qualquer forma, uma solução para cada uma existia, e com a ajuda que a bruxa prometera, elas teriam uma chance de livrar-se das correntes da maldição que as prendiam em seus pesadelos.
- Será que conseguiremos? - Chichi, deitada em sua cama com os olhos pregados no teto, indagou para sua companheira de quarto, que estava deitada em sua própria cama.
- Sinceramente não sei, Chichi - Bulma suspirou pesadamente. - Mas as chances para você se controlar são mais fortes que as minhas.
- Lunch disse que fará o possível por nós. - O tom de voz da morta-viva era baixo. - Você acha que podemos confiar nela?
Bulma virou-se de lado na cama de solteiro, na direção que Chichi estava, e ergueu-se sendo ancorada pela seu cotovelo.
- Acho que não temos muitas escolhas, não é? - Bulma também falava baixo. - Você costuma ser sempre assim? Parece desconfiar de todos a sua volta.
Chichi suspirou e também virou-se para Bulma, imitando sua posição.
- Só não acredito na benevolência, tudo nesse mundo contaminado parece haver uma segunda intenção. - Ela parecia melancólica. - Ninguém faz uma coisa sem querer algo em troca.
- Tem razão! - Bulma sorriu tristemente. - Mas até o Padre voltar eu não tenho outra opção a não ser confiar em Lunch, e você não tem muitas outras opções também.
- É... - Chichi voltou a deitar-se na cama de barriga para cima.
As duas se mantiveram em silêncio nos minutos seguintes, deixando suas mentes se esvaírem para o motivo de suas melancolias. O conde e o lobisomem.
Bulma começou a imaginar como ele poderia estar, se estava com raiva dela, e estranhou quando desejou que ele estivesse. Talvez fosse seu lado irracional que implorasse por ele estar tão perturbado quanto ela. Que estivesse a procurando, com vontade de vê-la, talvez. Fechou os olhos quando percebeu que sua mente caminhava por caminho sombrio. Sua racionalidade deveria impedi-la de desejar tais coisas, afinal, quanto mais Vegeta desejasse vê-la, mais riscos de sofrer uma invasão a sua vontade ela corria.
Chichi, por sua vez, podia sentir os olhos umedecerem só de lembrar de Kakarotto. Ela o amava tanto que chegava a doer, mas como poderia perdoa-lo pelo que fizera com ela? Chichi mal sabia o peso que sua maldição possuía e já sofria com o que fizera em um curto período de tempo. Tinha muita dor em seu coração e muita magoa em sua alma. Porém, não se arrependia do que fizera para ele, de ter dado sua vida por Kakarotto, mas isso era outra história. De qualquer forma, talvez fosse melhor ter continuado morta.
*****
A manhã e a tarde passaram rápido para Chirai, ela ficou o dia ao lado do irmão, enquanto cozinhava coisas para o café da manhã, almoço e jantar. Sentia prazer em elaborar pratos deliciosos, vendo que os mantimentos de Broly eram fartos e ela podia abusar na imaginação.
Bolos e tortas foram o básico comparado ao que fizera para comerem, e Broly, mostrando-se prestativo e agradecido pelo que ela fazia para ele, decidiu que cuidaria da lavagem das louças sujas. Nenhum dos três haviam se divertido tanto durante toda a sua vida, principalmente Broly, que por muito tempo, somente conheceu a dor e a solidão.
Já deitada na cama, Chirai revivia em seus pensamentos os detalhes daquele dia maravilhoso. Sentiu-se uma menina novamente, quando ainda tinha seus pais vivos e eles ficavam cozinhando no fogão quando lhes sobravam tempo.
Seu corpo e sua mente estavam tão eufóricos, que simplesmente não conseguia fechar os olhos e dormir, ela não queria que aquele dia tivesse acabado.
Depois de se virar pela vigésima vez na cama, Chirai decidiu levantar-se e descer um pouco. Provavelmente Broly e Remo já estavam dormindo, mas ela não pretendia acorda-los, somente queria se mover um pouco para o sono vir, talvez comer um pedaço da torta que havia sobrado. Certamente se fartar de comida a faria sentir sono.
Desceu as escadas nas pontas dos pés, a lareira da parte da sala ainda estava acessa, e Remo dormia profundamente no chão, enrolado como um caramujo entre as cobertas macias.
Seus olhos correram para o sofá a procura de Broly quando desceu o último degrau, as cobertas estavam desarrumadas, mas não o encontrou. O sofá estava vazio.
- Procurando alguma coisa? - a voz grave atrás dela a fez dar um pulo e colocar a mão na boca para conter o grito.
- Santo Deus - sussurrou ela virando-se para Broly com o coração aos pulos. - Aonde aprendeu a ser tão sorrateiro?
- Não sou sorrateiro, senhorita - Broly sorriu na escuridão. - Você que é distraída.
*****
Do lado de fora da torre, Vegeta observava o lugar escondido entre as árvores na escuridão da noite.
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A Caçadora de Monstros
FanfictionEssa história se passou em 1830. Bulma era apaixonada por um Vampiro, mas ele partiu seu coração e ela se fechou para o amor. Jurando nunca mais se entregar a ninguém, e após acabar com o vampiro que a usou, Bulma foi embora de sua terra natal e dec...