Capítulo vinte e seis

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Sentado na cama, com as pernas dobradas para o lado de fora do colchão, Kakarotto olhava o aposento ao qual se apossou para dormir, enquanto as imagens de Chichi invadiam sua mente.

Tentava distrair-se, olhando para as paredes enormes feitas de pedras acinzentadas, para os dois armários de madeira rústica, ou para o quadro pintado a mão de uma criança triste. Mas nada distraia os pensamentos de Kakarotto da mulher que amava.

Frustrado, olhou para a cortina vermelho-sangue, que iam do teto ao chão, cobrindo completamente uma parede inteira do quarto, deixando assim, a visão da janela totalmente coberta. A luz do castiçal de vela era a única coisa que não deixava o quarto na completa escuridão, porém, mesmo que esse fosse o caso, como lobisomem, ele conseguiria enxergar esses mesmos detalhes no escuro.

Respirando com dificuldade, Kakarotto deixou o corpo cair na cama, sentindo a macies da seda em sua pele. Erguendo os braços e colocando as mãos na cabeça, tentou a todo custo tirar a imagem de Chichi, que parecia grudada em sua mente. Sentia culpa, raiva, desespero, uma dor no peito que o fazia querer urrar.

A dor que sentia, concluiu, era de perda, de uma perda que ele não tinha deixado entrar nem mesmo quando tivera Chichi morta em seus braços. Era esperançoso, lutou até o último para trazê-la de volta para os seus braços, e quando a tivera, ela simplesmente o odiava, e o queria longe.

Maldição, não podia ficar longe dela, ela era seu acalanto, era sua obsessão, simplesmente não conseguia viver sem ela, ou longe dela. Viciou em Chichi de uma maneira doentia. Talvez fosse o animal dentro dele que o impedia de raciocinar, de agir como um humano comum.

Seu corpo doía por se segurar e não ir atrás dela, pegá-la no colo e não deixa-la nunca mais sair de perto dele.


A mandíbula de Kakarotto estava tensa enquanto sentia cada músculo de seu corpo se contorcer, pois ele os impedia de se mover e correr atrás daquela que consumia seus pensamentos.

Concentrando-se, com muita dificuldade, na racionalidade. Forçando-se a lembrar-se dos olhos tristes de Chichi o olhando, da magoa que ela transparecia em suas pupilas, da amargura em suas palavras quando o acusara de torna-la como ele. Um monstro.

Durante horas, Kakarotto tentou manter-se distraído, limpando o salão para o conde - não que ele tivesse feito tal coisa para ajudar o vampiro. Fez mais por descargo da própria consciência, vendo que sabia que de certa forma, aquelas pessoas morreram por causa dele e de seu pecado de desafiar a morte. Mas agora, com o corpo completamente exausto, depois recolher todos os corpos e queima-los, sua mente não podia mais distrair-se.

Chichi imperava em seu cérebro, e ele sentia que enlouqueceria.


Amaldiçoou o dia que a conheceu, pois se ela nunca tivesse entrado em seu estabelecimento, nunca haveriam se apaixonado, e ela não teria morrido tão jovem, com tanta vida pela frente.

Na verdade, olhando através de um ângulo maior, muita desgraça havia sido evitada se não tivesse conhecido Chichi. Vegeta ainda estaria no seu sono eterno, os mortos não caminhariam entre os vivos e muita vida teria sido poupada. O desvalimento da Transilvânia estava em suas costas, e o peso disso começa a lhe atingir, com a dor de ter que viver sem o amor de Chichi, tendo dela agora somente a mágoa e o rancor.

Voltando a sentar-se, Kakarotto coloca os cotovelos no joelho e as mãos no rosto. Dando-se conta que se perturbaria eternamente se não tivesse o perdão e o amor de Chichi novamente.

Rosnou alto quando sentiu aquela pontada de culpa dentro de seu coração, sua voz ecoou naquele quarto solitário. Um gemido angustiante e doloroso saia de sua garganta.

Kakarotto não era como Vegeta, que quando sentia algum sentimento angustiante chutava cadeiras e gritava blasfêmias, não, o lobisomem guardava tudo dentro de si, fazendo seu sofrimento ser maior por conta disso.

Para atormentar mais seu juízo, Kakarotto começou a lembrar-se de como era feliz quando a tinha em seus braços, de como seu corpo queimava quando ela o olhava com paixão enquanto gemia o seu nome. O corpo nu tremia ao seu toque.

Rosnando novamente, Kakarotto sentiu vontade de gritar. Morreria se não a tocasse novamente.

*****

O dia amanheceu, e após tomar um caprichado café da manhã, Kuririn levantou-se depois de agradecer pela refeição. Limpou a boca e ajeitou sua bata.

- Obrigado, pelas acomodações, Lunch - agradeceu o padre. - Dormi como uma pedra.

- Pelo menos você teve uma boa noite de sono - resmungou Jaco nem ousando tocar na comida.

- Não seja mal agradecido, Jaco. - Bulma o cutucou com o cotovelo. Ela também não comia absolutamente nada, mas apenas porque aquele tipo de refeição não lhe era mais digerível.

Chichi balançou a cabeça negativamente de maneira divertida, enquanto levava um pedaço de bolo de milho aos lábios. Começava a achar hilário a maneira daquele homem se portar. Era tão covarde que chegava a ser engraçado.

- Acho que já vamos - anunciou Kuririn. - Temos que pegar o próximo navio que vai para a França, e se não me engano ele sai hoje a tarde. Devemos nos apressar para não perdê-lo, senão só poderemos pegar o próximo embarque daqui uma semana ou duas. Não haverá outro antes disso.

- Obrigado, Padre - agradeceu Bulma levando-se da mesa para abraça-lo. - Por estar fazendo essa viagem por mim.

- É um prazer ajudar, Bulma - sorriu ele sem jeito. - Se cuide durante o tempo que eu ficarei fora, e torça para eu conseguir as respostas que procura.

- Vou torcer.

Chichi escutava a conversa em silêncio, tentando entender do que eles estavam falando, tinha vontade de perguntar para compreender melhor, mas sentiu que seria deselegante da sua parte bancar a enxerida e se meter na conversa alheia.

- Vamos logo - intrometeu-se Jaco caminhando até a porta. - É bobagem perder tempo com despedidas, vendo que logo voltara para cá, Padre.

Jaco simplesmente não conseguia sentir-se a vontade naquela casa, aliás, melhor dizendo, naquele país. Tanto a Transilvânia como Budapeste eram ambientes contaminados pelo mal, segundo sua própria conclusão pelo menos.

A noite que passou no chalé da bruxa foi um pesadelo para ele, simplesmente não conseguiu dormir. O barulho das madeiras velhas rangendo, e do lado de fora, na floresta, os uivos o atormentava. Os olhos esbugalhados mantiveram-se assustados até o amanhecer, quando praticamente correu para fora do quarto por ter visto um sapo dentro de garrafa de vidro.

- Venha me visitar mais vezes, Jaco - Lunch piscou deixando transparecer o deboche em sua voz.

- Desculpe, Dona Bruxa, mas não pretendo voltar nunca mais para esses lados. - Jaco inclinou a cabeça para o lado tentando parecer educado. - Vou voltou para minha amada Paris e só sairei de lá na alça de um caixão.

Lunch, com um sorriso presunçoso, aproximou-se de Jaco, fazendo-o dar um passo para trás.

- Pois eu acho que sua volta será antes disso. - A mão de Lunch tocou o ombro de Jaco, o fazendo estremecer-se de medo.

- Está me jogando um feitiço? - Indagou ele com a voz trêmula.

- Não! - Riu ela. - Estou apenas dizendo o que eu vejo, querido.

Jaco, que olhava apavorado para Lunch, percebeu que naquele momento a cor dos olhos dela mudaram. Ele afastou-se amedrontado do toque daquela mão, e saiu correndo para fora do chalé, fazendo todos do lado de dentro gargalhar diante do medo do pajem.

*****

Acabara de amanhecer e um sol tímido em meio ao inverno da Transilvânia batia na janela alta da torre. Chirai abria os olhos um tanto lentamente, contemplando um pouco da luz que entrava no quarto.

Sentando-se na cama macia, ela esfregou os olhos e bocejou, espreguiçando-se em seguida. Não havia dormido direito, pois pensara em Broly durante muitas horas antes de conseguir fechar os olhos e descansar.

Durante o jantar, quando tomaram a sopa que era especialidade de seu irmão, o silêncio reinou na mesa. Remo até tentou puxar conversa, mas o constrangimento e o clima pesado imperava entre eles. Claro que os únicos que compreendiam aquela áurea obscura era Chirai e Broly, deixando Remo um tanto sem graça e imaginando se não era ele o motivo daquele silêncio todo.

Suspirando, Chirai foi até a tina de água perto da janela para fazer sua higiene da manhã. Quando terminou, abriu a janela para sentir um pouco mais daquele sol. Sentiu a pele se arrepiar quando uma brisa passou pelo seu rosto. Olhou para baixo, e viu o tronco ao qual Broly e ela havia sentado na noite anterior.

Ela tinha tantas dúvidas quanto aquele homem, mas simplesmente não conseguia ficar longe ou parar de pensar nele. Era como se seus pensamentos existissem apenas para Broly agora. Ela não se reconhecia mais. Nunca fora de ficar pensando em homens, era a primeira vez que um ocupava tanto sua mente.

Colocando o vestido que havia jogado na cadeira na noite anterior, depois de Broly ter insistido para ela dormir ali aonde, segundo ele, era mais confortável, Chirai decidiu que desceria para preparar um café da manhã. Queria agradecer de alguma forma a hospedagem de Broly, e que forma melhor seria do que preparar um bolo, por exemplo. Talvez isso cortasse o clima pesado que ficara entre eles por conta das revelações da noite anterior.

*****

Jaco fazia pela quinta vez o sinal da cruz quando Bulma tocou seu ombro, fazendo-o soltar um grito agudo e pular como uma perereca.

- Se acalme! - Bulma mordia as bochechas para não rir. - Sou eu.

- Como se isso fosse me acalmar - murmurou ele enquanto tentava acalmar o acelero de seu coração. - Aonde está o Padre? Estou esperando aqui fora já tem quase uma hora.

- Tem cinco minutos. - Bulma mordeu o lábio como uma segunda tática para não gargalhar.

- Cinco minutos, uma hora, é tudo mesma coisa quando estamos na frente da casa de uma bruxa - disse ele aborrecido.

- Vou sentir saudades dessa sua covardia - sorriu Bulma revelando suas presas. - Me de um abraço, provavelmente não o verei novamente.

- Promete não me morder - hesitou Jaco.

- Não tem esse perigo, o cheiro do seu sangue não me é atraente - alfinetou ela com humor.

Jaco comprimiu os olhos.

- Vou levar isso como um elogio - resmungou ele.

Bulma aproximou-se, colocando seus braços em volta do pescoço de Jaco enquanto o mesmo retribuía o abraço. Ambos ficaram assim por alguns segundos, quando Jaco afastou-se abruptamente por ver que Lunch saia do chalé ao lado de Kuririn e Chichi.

- Adeus, Bulma - sussurrou ele antes de correr para a carruagem e sentar-se no banco cabível para o cocheiro.

Enquanto Bulma ria do apavoramento de Jaco, virou-se em direção ao chalé, com a intenção de entrar, foi quando seus olhos repousaram em Lunch e Kuririn, ambos cochichavam algo um tanto longe de Chichi, que ficara parada na porta de entrada. Inclinou a cabeça para o lado quanto viu Lunch tirar um pequeno embrulho de suas vestes e entregar para Kuririn.

Estavam as três perto da estrada enquanto via a carruagem sumir no horizonte levando dentro dela o padre e pajem. Quando a mesma sumiu por completo da visão delas, Lunch pegou nos braços das duas, basicamente se enganchando neles.

- Agora que estamos apenas entre mulheres, podemos conversar melhor, não é? - sorriu ela de maneira acolhedora. - Vamos entrar, minhas monstrinhas, tenho coisas importantes a falar.

- Vai nos contar o que havia no embrulho que entregou ao Padre? - Bulma não conseguiu segurar sua língua curiosa.

- Não! - Riu Lunch. - Apesar que em algum momento descobrirá qual é seu conteúdo. Mas agora, tem coisas mais importantes para se preocupar.

- Mais importante? - Bulma franziu o cenho enquanto caminhava em direção ao chalé, sendo conduzida por Lunch.

- Sim, muito importante. - Lunch virou a cabeça Chichi. - E você também. As duas estão bastante encrencadas na verdade.

- Encrencadas? - Chichi arregalou os olhos.

*****

Chirai desceu as escadas sorrateiramente, pisando com delicadeza em cada degrau, não queria acordar ninguém.

Quando chegou ao fim do último degrau e pisou no piso do primeiro andar, observou que perto da lareira havia uma coberta com alguns travesseiros, e no pequeno sofá, mais ao canto, também havia cobertores e travesseiros, mostrando que seu irmão e Broly haviam se ajeitado para dormir por ali mesmo. Sentiu-se um pouco envergonhada por permitir-se dormir confortavelmente numa cama enquanto os outros se contentavam com um chão duro ou um sofá velho.

Suspirando um tanto frustrada, Chirai permitiu-se dar mais alguns passos, com a intenção de ir até o fogão a lenha, para começar a preparar o café da manhã que planejara no quarto.

Os móveis dentro da torre, ao qual Broly morava, era um tanto humildes, até mesmo antigas demais para a atual época, mas tudo era bem organizado e limpo. Chirai sentia-se confortável naquele lugar, mesmo não tendo divisões entre a sala e a cozinha, vendo que ficava tudo no mesmo cômodo, o único cômodo do andar de baixo, aliás.

Mas Chirai era acostumada com o pouco e com o pequeno, sua casa, ao qual ela morava junto do irmão, era tão, ou ate mais modesta do que a de Broly, o que explicava ela não se importar com o pouco que ele possuía.

Assim que acendeu a lenha dentro do fogão, colocando assim a água, que havia dentro de um pequeno caldeirão, para esquentar, olhou mais atentamente para as cobertas, tanto a do chão como a do sofá, percebendo que em nenhuma delas havia algum corpo enrolado.

- Aonde estão esses dois? - Indagou em voz alta, mesmo sabendo que ninguém a responderia.

Curiosa, resolveu dar uma olhada do lado de fora, para ver aonde Broly e Remo haviam se metido.

Porém, antes dela poder segurar o trinco da porta, ela é aberta, fazendo Chirai dar um passo para trás receosa.

- Broly - sussurrou ela vendo que ele estava de cabelos molhados.

- Bom dia, senhorita - disse ele com um sorriso tímido. - Não imaginei que acordasse tão cedo.

- Bom dia. - Chirai limpou a garganta tentando manter a pose e não demostrar o quão mexida ficava diante daquele homem. - Eu sempre acordo cedo.

- Desculpe, não quis ofendê-la.

- Não ofendeu - ela quase gritou. - Só... bem... Aonde está meu irmão?

- Ele levantou junto comigo e se ofereceu para cortar lenha enquanto eu ia tomar banho.

- Tão cedo, por Deus, a água deve estar congelante - arfou Chirai dando um passo para trás enquanto Broly caminhava para dentro de casa.

- Não para mim - disse ele olhando para a água esquentando no fogão. - Vai cozinhar?

Chirai abaixou os olhos um tanto envergonhada.

- Pensei em preparar um café da manhã, para lhe agradecer pela hospedagem e me desculpar pela minha intromissão.

- Intromissão? - Broly a olhou confuso.

- Sim! - Chirai colocou as mãos para trás como uma menina travessa. - Ontem fiquei lhe enchendo de perguntas e o deixei desconfortável, por isso ficou tão estranho no jantar. Não gosto de vê-lo triste.

Broly sorriu, um sorriso acolhedor. Caminhou até Chirai, colocado suas mãos quentes nos pequenos ombros dela. O toque arrepiou por completo o corpo de Chirai, fazendo ela erguer o olhar para ele de uma forma calorosa.

- Não tem porque se desculpar, senhorita - falou ele com a voz grave. - Não tem culpa de minhas dores, ou de minha sina.

- Mas sou culpada por ter feito você revive-las ontem - sussurrou ela. - O passado deve ficar no passado.

Broly abaixou o olhar. Chirai parecia tão pura com suas palavras, parecia tão simples ouvindo ela falar daquela forma, queria ele ter a força de deixar o passado para trás e viver o futuro, mas que futuro tinha ele com o peso que carregava em suas costas. Jamais teria uma vida normal. De qualquer forma, não queria dizer isso a Chirai, ela parecia realmente preocupada com ele, e a última coisa que Broly gastaria de fazer era tirar aquela esperança do espírito daquela mulher.

- Vou tentar seguir seu conselho, Chirai - disse ele por fim.

Chirai mordeu o lábio, podendo sentir que Broly queria agrada-la com suas palavras. Ele estava tão perto, seu cheiro perfumado - provavelmente por conta do banho - impregnava suas narinas. E aquelas mãos que seguravam seus ombros queimavam sua pele de uma maneira tentadora. Queria ela ter coragem para aproximar-se um pouco mais e pedir um beijo.

Remo entrou nesse exato instante, fazendo Broly afastar-se de Chirai abruptamente, e ela ficar desconfortável por quase ter sido pega pelo irmão numa situação constrangedora. Sentia-se mais envergonhada pelos pensamentos que tivera a pouco.

- Acho que essa lenha é o suficiente até amanhã, Broly - Remo disfarçou colocando as madeiras cortadas perto do fogão.

- É mais que o suficiente, Remo - Broly foi ajuda-lo a empilha-las. - Obrigado!

Chirai abaixou a cabeça e tratou de começar a fazer o bendito bolo, provavelmente teria os mantimentos para fazê-lo, vendo que Broly parecia ter comida estocada aos montes, o problema seria ela concentrar-se nas medidas dos ingredientes e não no seu corpo, que parecia queimar por dentro de tanto desejo. Um desejo que ela ainda não compreendia.

*****

- Como? - Bulma gritou. - Eu não entendi.

- Entendeu sim - Lunch disparou com um tom de voz muito calmo.


Bulma olhou desesperada para Chichi, que parecia ter o mesmo medo que ela em seus olhos.

Estavam as três, Lunch, Chichi e Bulma sentadas no sofá. Enquanto Chichi estava ao lado de Lunch, Bulma estava de frente para as duas.

- Não, eu não entendi - desesperou-se Bulma levantando-se do sofá.

- Ah, pela amor de Deus, quer eu repita, eu repito. - Lunch encostou-se no sofá confortavelmente. - Você está ligada ao seu mestre de corpo e mente. Ele pode atormenta-la da maneira que bem entender, não importa o quão longe você fique dele.

- E o que exatamente isso quer dizer? - Indagou Bulma um tanto alterada.

Ela sabia razoavelmente que sua ligação com o conde era forte, tão forte que não podia mata-lo, ou feri-lo. Bulma também sabia que Vegeta possuía o poder de controlar o corpo daquela que ele beijasse, mas não podia imaginar que ele poderia controla-la de alguma forma estando ela escondida e longe dele. O desespero a consumiu por completo.

- Quer dizer - suspirou Lunch - que o Conde pode invadir seus sonhos, fazê-la sentir dor, angústia, desejo... A lista é imensa.

- Ele descobrirá aonde estou! - Bulma passou as mãos nos cabelos. - Vira atrás de mim e me obrigará a servi-lo antes que eu me livre do seu domínio.

- Se acalme! - Lunch levantou-se. - Ele não saberá aonde está, somente se você contar à ele. A ligação de vocês não permite que ele leia seus pensamentos.

- Mas você acabou...

- Não confunda minhas palavras - Lunch a cortou. - Vegeta controla um lado seu que infelizmente a torna vulnerável, ele poderá enlouquece-la se assim desejar, mas não poderá saber o que passa pela sua cabeça. Há uma divisão entre seus pensamentos e seus sentidos. É o sentido que ele pode controlar.

Voltando a se sentar, Bulma sente o peso das palavras de Lunch. Precisaria de um tempo para absorve-las.

A bruxa percebera que Bulma compreendia sua atual situação, e enquanto a mesma absorvia sua nova realidade, virou-se para Chichi colocando as mãos na cintura.

- Sua vez, Chichi - disparou Lunch.

- Não sei se quero ouvir o que tem a me dizer - choramingou Chichi.

- Não importa se eu disser ou não, saberá em breve de sua realidade, assim como Bulma descobriria cedo ou tarde da dela. - Lunch ergueu levemente os ombros. - Você decide, se quer sofrer agora, ou no futuro.

Chichi fez uma careta diante do inevitável. Sentiu uma angústia consumindo seu peito. O medo era evidente.

- Diga de uma vez - pediu a morta-viva por fim.

- Os mortos a chamarão eternamente, as vozes deles jamais vão deixa-la. - Lunch não mediu as palavras.

- Deus... - Chichi levou a mão na boca, não ouvia as vozes desde que saiu da Transilvânia, imaginou que era o lugar que fazia escutar tais coisas.

- E não acabou - Lunch era implacável. - A raiva será sua inimiga, um segundo de descontrole e voltará a fazer o fez no baile.

Os olhos de Chichi encheram-se de lágrimas.

*****

A noite caiu fria na Transilvânia. Mal o sol havia desaparecido no horizonte e os olhos do conde abriram-se. Decididos e determinados.

Não havia dormido no caixão como fizera das últimas vezes, estranhamente sentia-se mais confortável em seu quarto, na cama onde havia possuído Bulma.

O cheiro dela impregnava o ambiente, entrava em suas narinas como um perfume afrodisíaco.

Se ele fechasse os olhos, poderia vê-la naquela cama, nua, com os cabelos bagunçados enquanto se contorcia de prazer. Ele até mesmo podia ouvi-la gemer o seu nome se deixasse levar pelos seus pensamentos pecaminosos.

Bufou ao levantar-se da cama e dar-se conta do quão mexido estava por aquela maldita, não deveria ficar tão vulnerável em seus desejos. A última vez que abaixara a guarda por uma mulher teve seu pescoço amarrado por uma corda.

Porém, mesmo tentando controlar-se e apaziguar a ereção que mantinha-se dura em suas calças, Vegeta simplesmente não conseguia parar de pensar nela. Naquela que decidira transformar para servi-lo.

Saindo do quarto, numa tentativa desesperado de não sentir mais o cheiro dela, o conde começou a imaginar para onde ela foi.

Será que fugiu para muito longe?

Enquanto caminhava nos corredores, decidiu que não esperaria nem mais um dia para começar a atormenta-la, não seria ele a enlouquecer de desejo. A perturbaria até o último fio de sanidade, queria testar até onde ela aguentaria longe dele. Afinal, tinha poderes sobre ela, e não desperdiçaria uma arma poderosa como aquela. Pois ele a queria de volta, e se rastejando aos seus pés de preferência.

Entretanto, antes de entrar em ação - digamos assim - ele tinha algo a falar com o lobisomem, e precisava encontra-lo.

A Caçadora de MonstrosOnde histórias criam vida. Descubra agora