MARIA ANTONIETA 12.
O despertador toca me tirando o sono me trazendo a realidade cansada que me encontrava. Seis da manhã fito o teto do quarto amplo arejado que nunca consegui desfrutar desde o primeiro dia que cheguei. Ele não é meu não posso me prender e nem me acostumar a cama macia confortável que acolhe meu corpo todos os dias e ajusta minhas costas tirando as dores dos dias puxado de trabalho. Me levanto arrumo a cama estendendo o lençol bonito e macio sobre a cama de solteiro, no orfanato era regra, assim que levanta se arruma o leito.
Me abaixo para pegar meus chinelos e sinto uma dor fisgar minhas panturrilhas. Droga! Maldito elevador tinha que dar problema logo ontem que precisei ir ao supermercado? Subir vinte andares de escada com cinco sacolas não foi fácil, só de lembrar meus pulmões queimam, minha cabeça doe. E pra ferrar mais meu dia uma das sacolas de laranja se rasgaram e tive que me apressar descendo atrás de algumas desgarradas que decidiram descer escada abaixo. Isso alimenta ainda mais minha tese, estou pagando pecados? Entro no banheiro e sorrio em meio a minha tragédia, pelo menos não tenho que pegar fila para usar o banheiro, tenho um só para mim.
Entro de baixo da água fria porque o chuveiro resolveu queimar e me punir também, não molho meus cabelos o banho é somente para acordar meu corpo quando o sino insuportável balança estridente em algum lugar daquele apartamento. Pelo jeito alguém resolveu madrugar em pleno domingo? Meus santinhos ajudem esse homem se recuperar e me liberte desse martírio? Termino meu banho coloco meu uniforme a cama me chama, mas não posso me dar esse luxo. Ontem quando servi o almoço a ele pedi o domingo de folga e o desaforado tevê a pachorra de perguntar se eu era cega ou me fingia de besta, se eu não via ou não tinha a capacidade de perceber que ele não podia ficar só.
Acho que ele estava certo estou ficando lerda da cabeça, ou enlouquecendo mesmo. Ele está me sugando com seu mal humor me fazendo sentir oprimida, abatida, são tantos pedidos descabidos que tenho vontade de matá-lo. Outro dia fiz uma salada de tomates, enfeitei as laterais da travessa com alface cebolas cortadas em rodelas fiz um arroz soltinho como minhas freirinhas me ensinaram e filés de peixe grelhado o cheiro estava muito agradável. Quando o servi ele me mandou levar de volta a salada e fazer outra que não comia tomate com casca e nem com sementes.
Eu quase berrei em sua cara que não ia fazer, mas o engreído levou a mão na cabeça fechando os olhos, acho que estava com dor. Corri no criado mudo e peguei um dos seus remédios para dor de cabeça. Ele tomou com o suco de uva que estava na bandeja com seu almoço. Depositei a travessa com a salada impecável na pia. Ao meu ver era impecável, mas não era do gosto frescalhão dele, comecei tudo de novo. Dessa vez casquei os tomates, retirei as sementes. Olhei a outra travessa, eu não iria desperdiçar alimento e não tinha nem um problema de comer os tomates com cascas e sementes. Irmã Elsimar dizia que eu tinha a boca boa pra comer, comia de tudo.
Retirei os tomates que já estavam temperados e organizados na travessa montada trocando de lugar com os cascados e sem sementes. temperei novamente voltei ao quarto. Meu sangue ferveu e me vi lançando a travessa em sua cara, mas me contive me lembrando o porquê de estar ali. No instante que vi a bandeja do lado com o prato vazio me enfureci. Ele nunca comeu tão rápido em todos esses dias que estou aqui. Alguma coisa estava errada, passando diante dos meus olhos e eu não estava vendo, mas o que?
-Eu terminei, pode recolher. Disse ele num tom satisfeito e um certo deboche brilhando em sua face, fitando a salada em minhas mãos. Me aproximei recolhi a bandeja e sai em seguida. Eu não era de abaixar a cabeça e nem engolir sapo, mas sai derrotada com a salada prontinha e do jeito que ele queria intocável pra cozinha, custava ele dizer que não queria mais? Custava, não, não custava, mas ele não se importava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um herdeiro Para Lourenço, completa.
RomanceComédia romântica Comédia romântica contemporânea. Homem mais velho mocinha na flor da idade. Para maiores de vinte um ano. História fictícia de minha autoria.