Capítulo 3 - Vida recuperada

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Quando acordei estava em minha cama, barriga enfaixada com um doutor ao meus pés, toalhas de sangue a minha direita, empregados correndo de um lado ao outro, o melhor de tudo eu estava vivo, abri meus olhos mais ainda...

-O senhor foi salvo, graças a Deus ,o doutor falou.

Fiquei no quarto por longos dias, sem poder me levantar, sentia dores terríveis a qual me fazia tomar varias dose de uísque ou conhaque diversas vezes ao dia, e vivi meio que entorpecido.

Depois de 4 meses pude sair pela primeira vez e sentir o ar no meu rosto, sentir o  sol aquecido na minha pele quase transparente... Me sentei no parapeito da cerca da sacada e ali fiquei olhando a imensidão das minhas terras. Quase perdi tudo aquilo e para quem ficaria, pensei no homem que me esfaqueou, e varias perguntas vieram a minha mente. Quem seria ele, teria família? Filhos, nem isso eu tinha, nem parentes vivos, que vida eu levava? Acumulava bens para quê, seria por poder, mostrar aos outros que tinha dinheiro? Se era entediante ficar em casa, sem poder ao menos correr pelas colinas a cavalo como fazia quando jovem e criança, então de que me valia viver ?

Meus dias eram muito iguais, eu estava ficando louco preso dentro dos meus limites domestico e a angustia da solidão, estava me trazendo reflexões que antes eu não parava para pensar. Precisava fazer algo, eu sabia que ainda ficaria ali naquele quarto, no máximo na saleta entre os imensos corredores do andar de cima da minha rica e grande casa, e que da qual eu desfrutava agora do meu aposento.

Pequei minha bengala, aquela minha amiga das noitadas onde eu fazia o que queria, era um senhor do destino dos outros, e apoiei nela e gritei pelo Sr Benjamin que de pronto veio ao meu chamado. Fiquei olhando para ele, era alto ,sua pele brilhava, era um homem preto, quase azul que eu respeitava muito, amigo de longa jornada. Ele nascera perto do mar Báltico, tinha sido escravo daquele povo, e  um dia o comprei de  um mercante que tinha diversos como ele. Junto dele tinha algumas mulheres e crianças, todos com o mesmo tom de azul na pele, para mim já de cara, os endeusava, achava maravilhoso ter eles comigo, comprei todos e partimos em direção a minha casa perto dali. O mercador saiu aos pulos, havia gasto uma fortuna na compra deles, mas para mim eram tesouros.

A família toda eram parentes de Benjamin, eles tinham uma postura de reis e rainha, altivos, sem baixar a cabeça, pareciam muito  comigo, tirando a cor da pele, naquela época os pretos eram vistos como  "diferentes" eram a rale da sociedade. Vivíamos numa época que vidas eram trocadas, negociadas, as mulheres , nos a tínhamos, a que queríamos, tirando algumas que já se impunham e não se deixavam ser usadas de forma nenhuma. Algumas usavam sempre na cinta liga um punhal, era sua defesa, se alguém se atrevesse a mexer com elas.

Depois de um mês, parti para minha residência na Inglaterra, apenas Benjamin me seguiu, a família permaneceu tomando conta das terras. Benjamin nunca me deixou, havia passado 15 anos e não mais voltei a minha residência no mar báltico, região inóspita de arruaceiros, mercadores e assassinos. Divisa com a Rússia , e o mar do norte, eram de ondas gigantescas que arrastam tudo em época de inverno. Os navios circulavam com medo dos piratas e vikings da região. As batalhas no mar eram intensas, e quase nunca me aventurei nas aguas sombrias desse mar. Mas as aguas banhavam as propriedades que ali ficavam nas margens e as minhas não ficavam muito longe da sua margem.

Benjamin ali parado a minha frente , vestia um traje elegante dos quais pareciam com os meus, sempre o vesti com esmero, ele andava ao meu lado onde quer que eu ia. Companheiro e  leal, agradecido pela liberdade da qual eu havia dado a todos da sua família, e do bem querer que eu tinha para com eles, aliais eles eram os únicos na terra que tinha minha bondade, e então pedi:

-Sr Benjamin, está comigo há 15 anos, nunca voltastes ao mar Báltico para rever seus familiares, está na hora de ir, peça para que o Zeck venha para perto de mim, vista -o com apreço, tu bem sabes que preciso de alguém com boa aparência ao meu lado.

-Senhor Von, sei da sua preocupação, mas não quero voltar aquelas bandas, só tenho recordação muito triste. Se puder entender, não quero ir. Von entendia e sabia a sua enorme generosidade para com ele, era grato a um preço muito alto. Muito bem, vou mandar um homem ate lá para termos noticias daquelas terras.

-O senhor é o patrão, confio no senhor. Benjamin calou-se e ficou ali de pé a  minha frente. tinha que fazer algo para dar-lhes segurança se algo me acontecesse.

E mais um mês estava quase que cem por cento curado, pude voltar a minha rotina, mas coloque-o em pratica algo que aprendi depois do acidente, mudei minhas rotas, meus portões de entrada para casa, mudei radicalmente minha maneira rotineira de ser. Se fosse voltar de madrugada pernoitava na cidade em lugares diferente, nunca repetia, e coloquei em prática. meus olhos ficaram mais atentos as pessoas e situações, comecei a fazer exercícios com os olhos fechados ao ar livre para poder sentir pessoas, e objetos que por mim passavam, ativei minha intuição, passando a perceber sorrisos falsos, olhares furtivos, ações que deixavam a desejar, atitudes sorrateiras. Eu observava as pessoas ao meu redor em silêncio e via os seus falsos sorrisos.

Ninguém gosta de ser enganado, mas todo mundo prefere a mentira. Vivemos num mundo de aparências, de uso de mascaras, e para mim, tudo aquilo que passei me despertava para o mundo que vivia, e que persiste ate os dias de hoje na terra.

Senhor Exu Pinga FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora