XXIV - Escolhas

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Quando chegamos na casa de Matilde, tanto eu como Haras,  estávamos apreensivos com o que encontraríamos de história que ela nos contaria, mais acostumados a ver crueldade das mais extraordinárias, era mais uma que entraria para nossos livros de memórias estúpidas humanas. A carruagem seguia para o endereço dado a mim, e todos nós íamos em silêncio. em cada coração o gosto amargo do fel de situações tão trágicas que encontrávamos e que fazíamos apenas era dar liberdade, e curar feridas externas, mas as internas muitos não curavam, e ficaram cravadas na alma daqueles que por aquela atrocidades passavam.

O trauma de estupro significa as alterações desenvolvidas pelas vitimas dessa agressão, que são submetidas sem consentimento e contra a sua vontade a penetração sexual, forçada, violência, contra sua vontade e consentimento... A violência sexual é qualquer ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo agressor está em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou o adolescente. Sua intenção é estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter satisfação sexual. Apresenta-se sob a forma de práticas eróticas e sexuais impostas à criança ou ao adolescente pela violência física, ameaças ou indução de sua vontade. Esse episódio violento pode variar desde atos que não se produzem o contato sexual , até diferentes ações que incluem contato sexual com ou sem penetração, o fato é que muitas não conseguem seguir a vida de forma normal nunca mais.

O que Matilde nos contava não nos deixávamos perplexos ,pois já conhecíamos tudo aquilo, mas o que nós ficamos espantados é que cresciam cada vez mais esses acometimentos contra seres que para nós eram indefesos, diante de uma sociedade que não sabem o que está diante de todos. Ainda nos dias de hoje isso é tão comum, que muitos desconhecem os perigos que os rodeiam.

Ela então nos convida para irmos conhecer o local onde essas criaturas estão, e nós de imediato aceitamos, então as carruagens seguem para fora de Paris, Matilde vai à frente com sua prima Ester e nós atrás, cada um em seu silêncio. Depois de uma hora, chegamos a um celeiro no meio do campo com árvores circulando o local, aliás uma floresta densa, aprecia ter construído de propósito naquele lugar. o lugar era rústico e várias pessoas sentadas do lado de fora tomavam sol sentados em cadeiras, outros em troncos cortados de árvores...Crianças apáticas, sem cor, e jovens tristes, mal nos olhavam, pareciam sentir medo, vergonha...

Descemos da carruagem e entramos, seguindo as duas mulheres que conhecia todos ali. O lugar tinha camas em todo o espaço, e uma cozinha improvisada, que cozinhava, alguma coisa num enorme caldeirão ao centro do fogo. Pensei como seria no invernos naquele lugar, e parecendo ouvir meus pensamento foi Ester quem falou:

-Aqui nos invernos, acendemos uma fogueira no centro e todos dormem ao redor, não temos dinheiro para alugar que tenha aquecimento, por isso ainda aqui é mais viável, eles precisam se sentir protegidos, e viver na cidade, os tornam vulneráveis.

- Matilde, quero que me conte como eles chegam até vocês? Tanto Ester como Matilde, ficaram apreensivas em responder, uma olhou para a outra, e Matilde falou:

-Temos um grupo, que as resgatam, mas é difícil fazer isso, pois só o fazemos quando o cativeiro fica vulnerável, mas nunca destruído, então é como tirar uma e entram mais duas, nunca tem fim.

-Vocês conhecem onde fica, e quem são os que fazem?

-Sim, temos nomes, e posso garantir que são pessoas com poder na cidade, profissionais "honestos", que ninguém imagina que são capazes de tal ato.

-Vamos sair daqui, dar uma volta, queremos conversar com as duas. E assim eles contam como agiam, e como acabavam com o lugar, elas absorviam cada palavra, e quiseram fazer o mesmo, e então Haras fala:

-Nós temos aqui em Paris a sociedade das damas da noite, se quiserem participar dela, serão bem vindos, e todos que aqui então serão transportados para lá imediatamente. Mas tem que prometer nunca revelar nada.

-Nunca, vivemos assim há muitos anos.

- Matilde, quero lhe perguntar uma coisa... você conhece Joana e Belona? haras olhou para mim com surpresa.

-Não entendo o que isso pode ser, aqui em Paris? Disse Haras

-Por quê não?

-Não sei, porque aqui não nos preocupamos com nomes, curamos alma, só depois quando querem nos dizem os nomes, mas temos outra casa, em paris, se quiser olhar, lá elas ficam de passagem, como se fosse uma estalagem, pois tem as que não querem ficar, e deixamos elas livres. Dormem, comem e saem, vão embora quando quiser.

-Está certo, na volta iremos até lá tenho uma intuição me dizendo que Joana e Belona podem estar por aqui.

-Pode ser sim, Joana pode ter vindo para cá, ao invés de ter ido para minhas terras, tinha dinheiro para isso. E assim arrumaram todos, e começaram os transportes das pessoas, eu e Matilde seguimos para a casa de passagem em Paris. Ao chegar lá, muitos estavam sentados na varanda, e tinham aquelas que não saiam do quarto, e o conde começou a visitar cada um... E foi quando avistei Belona deitada em um dos quartos, e ao seu lado Joana, estava muito magra e as feições aparecendo os ossos.

-Joana... Belona. As duas olharam e não se mexeram. Sou eu... Joana levantou os olhos e lágrimas correram na sua face.

-Conde, abraçando -o.

- Porque vocês vieram para cá, o que aconteceu? Depois de chorar muito, e eu não ver reação nenhuma em Belona, ela falou:

-Ela apanhou muito, está em coma. Eu vivia por Deus, eu e Belona, decidimos que não íamos para suas terras, pensamos em ir para Espanha, queríamos ver outras terras, desculpe por ter seguido o plano. Hoje sei que deveria ter ido, mas fizemos nossa escolha. Alguns quilômetros depois da saída nossa da cidade sentido para a Espanha , dois homens nos pegaram e colocaram nos em uma carruagem e nos trouxeram para cá, foram dias de viagens, das quais nos batiam para que ficássemos quietas, nos usaram como quiseram, quando chegamos aqui, fomos jogadas em uma casa, e nos fizeram de escravas por 10 dias, até o dia que um dia, eles se descuidou eu o matei, e Belona e eu fugimos, mas nos encontraram e nos prenderam de novo. Belona quis me proteger e apanhou muito chegando desmaiar e bateu com a cabeça num móvel, e ficou assim desse jeito, até o dia que os donos daqui nos tiraram de lá numa noite. Eu estou com meu útero perfurado, meu anus eles rasgaram enfiando objetos, por pura maldade. Belona não vai durar muito, pois está com infecção generalizada, e eu só deus sabe se conseguirei sobreviver disso que estou passando.

-Meu Deus Joana. Todo esse tempo achei que estivessem protegidas. Vamos nos preparar, vou levar vocês para sociedade. E assim as levei para o lar das damas da noite.

Ao chegar na sociedade, tanto Haras como Sarah choravam em ver Joana naquele estado, Tengia cuidava dela como filha, Belona não durou muito e partiu, deixando Joana em estado catatônico, parou de falar, e não queria comer, sua alma sofria. Todos oravam por ela, mas ela não queria viver, tinha perdido a vontade pela vida, a infecção avançada minava sua pouca saúde e não demorou muito para que nos deixassem. Todos ficaram tristes e eu mais uma vez me vingaria daqueles que faziam o mal, desbancaria o cartel de homens que usavam seres indefesos. Em mãos, planos montados, tudo ajeitado, queimei mais alguns seres desprezíveis da face da terra.




Senhor Exu Pinga FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora