Capítulo Três

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Luís Collins:

— Isso é para o seu bem! — Meu pai gritava, enquanto o bastão de ferro descia pesadamente contra minhas costas. — Isso é para o seu bem!

Mesmo com a dor lancinante irradiando pelo meu corpo a cada golpe, eu conseguia enxergar, no canto da sala, minha mãe. Ela observava a cena com um sorriso satisfeito no rosto. Ao seu lado, minha irmã mais nova se debatia, tentando se libertar do aperto feroz da nossa mãe, Rafaela Collins, para me salvar.

Depois de marcar minhas costas sem qualquer cuidado ou remorso, meu pai me agarrou e me lançou para fora de casa, apenas com uma pequena mala nas mãos. Cambaleando de dor, fui me afastando lentamente da casa, com os gritos angustiados da minha irmã ecoando atrás de mim. Ela chamava meu nome e chorava desesperadamente, enquanto nossos pais discutiam ferozmente com ela.

A lembrança daquela noite traz a pior das dores. É um peso sufocante que me deixa sem ar toda vez que revivo o que senti anos atrás.

O vento frio da noite cortava minha pele enquanto eu me afastava, cada passo um esforço monumental contra a dor que latejava nas minhas costas. A pequena mala parecia pesar uma tonelada, contendo apenas algumas roupas e memórias de um lar que nunca foi realmente meu.

Eu não tinha para onde ir, mas qualquer lugar seria melhor do que ficar sob o mesmo teto daqueles que deveriam me amar, mas só me causavam sofrimento. Enquanto caminhava pela estrada deserta, os gritos da minha irmã ainda ecoavam na minha mente, seu rosto marcado pelo desespero e pela impotência.

O silêncio da noite só era interrompido pelo som dos meus passos arrastados e pelo murmúrio distante dos grilos. A lua cheia iluminava o caminho à minha frente, mas a escuridão dentro de mim era impenetrável. Cada respiração era um esforço, cada batida do coração uma lembrança dolorosa do que eu tinha perdido.

Eu me perguntava se um dia encontraria um lugar onde pudesse realmente pertencer, um lugar onde a dor e o medo não fossem companheiros constantes. Mas, por enquanto, tudo o que eu podia fazer era continuar andando, um passo de cada vez, na esperança de que, em algum lugar, encontraria um pouco de paz.

************

Acordei ainda sentindo a dor na cicatriz e me deparei com alguém me observando, que rapidamente se aproximou da cama.

— Está tudo bem? — Aaron perguntou. — Ainda está com dor?

— Só um pouquinho — falei, esfregando os olhos e tentando afastar aquelas lembranças da cabeça. — Pode me dar o remédio? Lúcia deve ter te dado.

Do bolso da calça, ele tirou o meu remédio para dor e, ao ver que ele ainda tinha uma garrafa d'água na mão, suspirei e me sentei na cama.

— Ela mandou te trazer faz uns cinco minutos — Aaron disse, entregando-me o remédio e a água. — Você dormiu só por alguns minutos.

— Foram o suficiente para que eu pudesse relaxar um pouco — disse, colocando a pílula na boca e tomando um gole de água. — Minha mente não conseguiu relaxar por mais tempo do que isso.

— Se quiser, pode conversar comigo — Aaron sugeriu.

Apenas olhei para ele, que ficou sem graça e começou a coçar a nuca.

— Esqueci, não passamos na base da conversa sobre a vida pessoal — Aaron comentou.

Queria falar algo, mas não consegui. Nossa relação tinha começado há pouco tempo, e mesmo assim, eu não conseguia ver se teríamos um futuro certo.

Um silêncio constrangedor se instalou, até que a porta do quarto se abriu e Lúcia entrou.

— Aaron, pode ir ajudar o seu irmão e o Brandon com um sofá para a Megan? — Lúcia perguntou. — Ela quer colocar em outro lugar, já que está muito longe da televisão e da mesinha de centro!

Reencontrando o Amor (Mpreg) | Livro 2.5 - Amores perdidos e encontrados Onde histórias criam vida. Descubra agora