Viagem

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ROMANCES MENSAIS

LIVRO X – ESPIONAGEM DE OUTUBRO

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CAPÍTULO III - VIAGEM

Como uma pessoa levemente supersticiosa, eu tenho alguns rituais e crenças que mantenho apenas para mim na esperança de me trazer boa sorte. Eu sempre ando com o relicário que ganhei de tio Clint no dia do meu renascimento como um amuleto da sorte. Jamais repito a mesma roupa e acessórios quando algo de muito ruim acontece em um dia. Ao acordar e me levantar, o primeiro pé a colocar fora da cama é o direito. Não passo debaixo de escadas e sempre treino sozinha na sala de treinamento número doze da CIA antes de uma missão.

Eu repito esse treino desde que entrei para o programa especial da CIA aos treze anos de idade. A sala doze me trazia lembranças da minha família e eu me sentia mais calma. Isso me ajuda a manter a força física e prepara meu psicológico. É a minha forma de extravasar toda a minha ansiedade e me manter focada. No entanto, todas as vezes em que fui interrompida, algo de ruim acontecia durante as missões.

É claro que eu tentava dizer para mim mesma que isso era apenas uma coincidência. Na verdade, eu tinha consciência de que tudo não passava de superstição e pensamentos neuróticos meus, buscando desculpas para justificar falhas que poderiam ter sido evitadas se eu ou algum agente que me acompanhava tivesse focado em fazer o seu trabalho.

Ainda assim, todas as vezes que eu era interrompida do meu momento de meditação e controle físico, a ansiedade e frustração se fazia presente. Eu perdia meu foco e automaticamente acabava descontando o meu desapontamento na pessoa que ousou atrapalhar o meu ritual. É claro que com o agente gostoso – mas que obviamente nunca saberia disso -, Leonard Snart não seria diferente. Na verdade, foi até prazeroso socar o homem e ver sua expressão surpresa ao experimentar a minha força.

E agora, tendo-o no chão, com meu pé pressionando seu tórax, era divertido vê-lo tentar se soltar. Observo o rosto vermelho de Leonard pelo esforço que fazia e pondero se deveria soltá-lo agora ou me divertir um pouco mais com a pessoa com quem eu terei o desprazer de conviver pelas próximas duas semanas como se fossemos um casal de recém-casados.

No entanto, antes que eu pudesse pensar em uma forma de provocá-lo, as duas mãos de Leonard agarram o meu tornozelo, ao mesmo tempo em que ele usa a uma das pernas para empurrar a minha de apoio. Sem sustentação, acabo me desequilibrando. Ele aproveita a brecha que abro para rolar para o lado no momento em que vou ao chão. Ainda me recuperando do impacto do meu corpo contra o tatame, Leonard sobe em cima de mim e pressiona as minhas pernas, enquanto suas mãos agarram meus pulsos, prendendo-os acima da minha cabeça.

Tento me mover, mas ele havia me imobilizado por completo. Encaro-o irritada e noto que seu rosto estava incrivelmente próximo ao meu. Seus olhos azuis intensos brilham com satisfação ao ver que eu não conseguia me mexer. Há uma tensão perigosa entre nós. Ambos carregavam aquele sentimento de raiva intensa e culpa incontrolável.

Mas o que me incomoda ainda mais é que eu me sentia nervosa com a proximidade de nossos corpos. Por algum motivo, meu coração batia forte e eu era incapaz de desviar o olhar.

- Eu disse que temos duas horas até partimos para Norfolk e nós precisamos conversar. Então agora seja uma boa menina e compor... – Tento dar uma cabeçada em Leonard e ele ri irônico quando consegue se afastar. – Eu não vou cair em mais um truque seu.

- Solte-me. – Exijo, voltando a me debater.

- Você não parece tão invencível assim estando abaixo de mim, não é mesmo? – Provoca Leonard, dando aquele maldito sorriso convencido.

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