Meu querido chefe #Beauany

CAPÍTULO 36 - EXPLICAÇÕES

JOSH'S POV

Any se sentou do meu lado e permaneceu em silêncio só esperando que eu falasse primeiro. Mas eu não consegui,lembrar de tudo que aconteceu naqueles dias preso naquela cabana ainda era muito dolorido pra mim,então fiquei olhando pro nada tentando criar coragem,seria a primeira vez que eu falaria pra alguém o que aconteceu,nem Úrsula sabia de tudo.
- Eu sei que você não sumiu sem motivo,alguma coisa aconteceu no tempo que esteve fora,e quero que saiba que estou aqui pra te ouvir,mas não vou te obrigar a dizer nada. Eu só não podia te deixar ir embora sem ao menos tentar entender o que aconteceu.
Ela segurou na minha mão e me olhou.
- Então pode contar o que quer que seja,eu vou tentar entender.
- As coisas só são mais complicadas do que eu gostaria. Muita coisa aconteceu depois naquele dia na ponte.
- Acho que muita coisa aconteceu pra nós dois.
- Sim.
Respirei fundo e a olhei,pronto pra contar minha história.
- Depois daquele dia,quando você foi embora e me deixou lá pensando,eu decidi dar um rumo melhor pra minha vida. Tentar ser uma pessoa melhor,resolver meus problemas e ser feliz,por você e por mim,a verdade é que fazia muito tempo que eu não estava bem mas não percebia isso. Então eu procurei uma psicóloga, ela se chamava Rebeca,eu ia vê-la duas vezes por semana,era bom poder conversar alguém sobre tudo de ruim que já me aconteceu. Também fui visitar o túmulo da minha mãe,depois de 14 anos e passei a fazer isso frequentemente. Oito meses depois me sentia bem e pronto pra recomeçar com você,já não sentia aquele peso no peito e aquela angústia que me acompanhavam antes. Então eu iria te ver e tudo ia dar certo.
- O que mudou?
- Só faltava uma coisa pra eu deixar o passado pra trás,se resolver com o meu irmão. Então comprei uma passagem de avião e fui pra casa. Passei o dia todo com meus pais e combinei de encontrar o Noah no dia seguinte. Sai com meus pais pra jantar ,foi um dos melhores momentos que passamos juntos. Depois que o jantar acabou a Úrsula foi embora e fiquei um tempo bebendo e conversando com meu pai. Depois de um tempo fomos embora mas fomos sequestrados no portão de casa.
- Você foi sequestrado?
- Fui.
- Quem faria isso?
Ela estava surpresa
- Quem tem raiva o suficiente da minha família pra fazer isso?
Ela parou por um tempo e pareceu pensar,depois fez uma careta e me olhou.
- Bianca?
- Ela e o namorado. Eles nos sequestraram e nos deixaram amarrados em uma cadeira em uma cabana abandonada no meio da floresta. Ficamos uma semana presos lá,sem comida nem água.
Any me olhou em choque,virei o rosto e fechei meus olhos lembrando de tudo.
- Os primeiros dias foram os mais difíceis,a fome parecia me corroer por dentro e não consigo explicar a sede que senti. Ficávamos o dia todo sentados naquela cadeira vendados e amordaçados,não sabíamos o que ia acontecer e isso era o pior de tudo, não saber se os próximos minutos seriam os últimos que teríamos.
Abri meus olhos e senti uma lágrima cair, experei alguma reação da Any mais ela não disse nada,só apertou minha mão mais forte pra mostrar que tava ali por mim. Então soube que ela não me interromperia e me deixaria contar o que aconteceu.
- Nós só viamos a Bianca e o Bruno algumas vezes,eles apareciam de vez em quando para nos torturar. As vezes iam lá com pratos de comida e comiam na nossa frente,pode não parecer muita coisa mas pra quem ficou dias sem comer um prato de comida é tudo. As vezes eles iam por motivos piores,eles queriam se vingar,queriam nos fazer sofrer, nos culpavam por serem presos e por tudo na vida deles que deu errado.
- Não sabia que eles tinham sido presos.
- Eu também não soube até ter sido sequestrado. Mas isso não importava, eles queriam nos fazer mal. Então tinha dias que Bianca ia até lá sozinha e me fazia de saco de pancadas,me batia até cansar,me dava socos,tapas e até chutes. No começo doeu muito,mas depois de um tempo eu parei de sentir dor,eu tava tão fraco que não sentia nada. Eles também bateram no meu pai uma vez,mas quando isso aconteceu eu gritei e cuspi na cara do Bruno,isso fez ele deixar meu pai em paz,mas por isso recebi dez chicotadas nas costas que depois foram lavadas com água quente e sal.
Levantei minha blusa e mostrei as marcas que tinha nas costas, Any passou a mão por elas enquanto chorava silenciosamente ,lágrimas também escorriam pelo meu rosto.
- Nunca vi meu pai chorar e gritar tanto. Depois daquilo fui levado de volta pra cadeira,não se importaram em me amarrar,eu tava fraco de mais pra fazer qualquer coisa e eles sabiam. Mais alguns dias se passaram sem que nada de diferente acontecesse,até que em uma noite escutamos um barulho,parecia uma sirene de carro de Polícia. Não sabia se aquilo era real ou era invenção da minha cabeça, naquela altura eu já tava perdendo os sentidos, passava metade do dia dormido e quando estava acordado não sabia o que era real e o que eram alucinações.
Limpei algumas lágrimas e tentei conter os soluços que eu sabia que viram.
- Percebi que não era coisa da minha cabeça quando Bruno entrou todo apressado na cabana,ele tinha uma expressão vazia e parecia atormentado só depois eu entendi por que. Eu pensei que eu e meu pai sairiamos daquele pesadelo,mas só eu sai.
Fechei meus olhos,respirei fundo de novo e deixei as lembranças me invadirem e voltei pro exato momento em que a pior coisa da minha vida aconteceu e de repente era como se eu estivesse vivendo tudo àquilo de novo.