CAPÍTULO 17 - SENTIMENTOS

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ANY'S POV

Depois de anos guardando tudo aquilo pra mim mesma eu finalmente contei pra alguém, a única pessoa que sabia de tudo que tinha acontecido e que eu me culpava por tudo era a minha tia e a psicóloga, mas faz tempo que não nos falamos, desde que cheguei aqui. Não era um assunto que eu queria falar com ninguém, mas com o Josh foi diferente...eu quis contar, eu sabia que ele entenderia e eu me senti muito melhor de finalmente poder desabafar com alguém. Depois que contei tudo ele me abraçou forte e não disse nada só ficou comigo até que eu conseguisse parar de chorar, ficamos longos minutos em silêncio até que sai de seus braços e o olhei nos olhos.
- Obrigada, eu nunca consegui contar isso pra ninguém.
- Não me agradeça, eu sempre vou estar aqui se você precisar.
Eu queria acreditar naquilo, queria que fosse verdade, mas eu sabia que quando voltassemos pra casa  tudo voltaria a ser como antes, ele me trataria com indiferença, voltariamos a ser só patrão e empregada.
- Ei no que ta pensando?
- Nada.Dei um sorriso fraco.
- Eu quero te contar uma coisa.O olhei curiosa.
- Você não precisa me contar, não contei isso esperando que me revelasse um segredo seu.
- Não, eu quero contar. Ele me abraçou de novo e olhou pro teto do carro, como se estivesse decidindo por onde começar. Até que ele respirou fundo e começou a falar.
- Quando eu tinha seis anos eu achava que tudo era perfeito, meus pais viviam brigando mas eu achava que era normal, que àquilo um dia iria parar, achava que eles seriam felizes pra sempre e que seríamos a família perfeita,mas estávamos bem longe disso. Eu ouvia minha mãe reclamar sempre,meu pai vivia fora de casa trabalhando o dia todo, eu escutava ela chorando sempre que ele saía. Eu sempre tentava animar ela, fazer ela rir,mas eu era só uma criança não entendia muita coisa. Um dia eu estava dormindo tranquilo no meu quarto,até que minha mãe me acordou,era tarde e meu pai ainda não tinha voltado. Eu me lembro de se sentar sonolento no colchão e perguntar o que tinha acontecido e me lembro perfeitamente de suas palavras.
- Eu te amo não se esqueça disso, eu não queria mas não aguento mais isso. Espero que você me perdoe um dia e nunca deixe de ser esse menino maravilhoso que sempre foi.
Ela chorava sem parar e me pedia desculpas eu ficava perguntando o que tinha acontecido e porquê ela tava chorando. Ela me fez prometer que eu continuaria sendo um bom menino independente de tudo. Depois que ela saiu do meu quarto eu voltei a dormir, lembro que quando eu acordei vi meu pai chorando desesperado sobre o corpo da minha mãe. Ela tinha se matado ingerindo vários remédios de uma vez, mas ela tinha deixado uma carta pra mim, eu nunca abri até hoje,nunca tive coragem. Depois disso eu me culpava por não ter percebido que tinha algo errado antes,por não ter impedido àquilo de acontecer, mas eu culpava ainda mais meu pai,pra mim minha mãe tinha se matado por causa dele. Depois de dois anos meu pai se casou de novo com Úrsula e com ela veio o Noah. No começo eu odiava Úrsula, achava que ela tomaria o lugar da minha mãe, mas com o tempo eu vi que ela não queria isso, ela sempre me defendia e me ajudava e hoje eu a vejo como minha segunda mãe, embora não a chame assim. Diferente de hoje eu e Noah nos davamos muito bem, eu ficava feliz de ter alguém pra brincar, era como morar com seu melhor amigo. Mas com o tempo meu pai parecia gostar mas dele do que mim, eu sei que tínhamos nos afastado mas machucava ver que ele podia gostar mais do Noah do que mim, ele sempre o elogiava por tudo e sempre falava como ele era incrível e que eu deveria ser igual. Eu sei que não deveria mas deixei isso afetar nossa amizade, eu queria ser incrível ou pelo menos queria que meu pai achasse isso, com o tempo paramos de brincar junto e de nos falar. Quando crescemos íamos pra festas mas não conversamos, a maioria das pessoas nem sabia que morávamos na mesma casa. Mas tudo mudou depois que entrei pra faculdade, parecia ainda mais que ele fazia de tudo pra chamar atenção e eu não ligava, até o dia em que cheguei em casa e vi ele beijando a Bianca na sala, ele sabia que já tínhamos namorado e sabia que eu amava ela,mas não se importou. Depois daquele dia eu passei a odia-ló e sempre que nos víamos brigavamos, e ele sabe do meu problema,sabe que eu perco a cabeça.
- Por isso você surtou daquela fez na balada?
- Exato. Depois que minha mãe morreu eu começei a ir para a psicóloga e no começo funcionou, mas quanto mais eu crescia mais eu sentia raiva, por meu pai não me amar,por ele preferir o Noah,por minha mãe ter se matado e me deixado lá,por tudo. Com 13 anos começei a ter surtos de raiva, eu quebrava tudo que encontrava pela frente. Com 14 anos fui diagnosticado com TEI( Transtorno Explosivo Intermitente). Começei a tomar vários remédios para me controlar,mas depois que eu vi o Noah e a Bianca se beijando eu parei de tomar os remédios, então toda vez que me provocam eu explodo,e o Noah sabe disso. O ruim é toda a culpa e arrependimento que eu sinto depois,uma angústia e raiva de mim mesmo. Foi isso que aconteceu hoje, eu explodi e depois fiquei com raiva de tudo inclusive de mim, eu só queria descontar isso em alguma coisa antes que eu fizesse alguma besteira, mas acabei descontando em você também, me desculpa.
Eu vi o olhos dele marejados,mas vi que ele queria ser forte.
- Ei não precisa se desculpar, eu disse que iria vir junto e não me arrependo. Nos conhecemos melhor agora e isso é bom.
- Eu também não tinha contado isso pra mais ninguém,só minha família sabe.
Eu me senti melhor com isso,agora um sabia algo intimo do outro e isso nos aproximou.
- Bom parece que estamos quites.
- É parece que sim.
Eu virei o rosto pra olhar em seus olhos novamente, mas quando fiz isso acabamos ficando perto de mais. Ele olhava fixo pra minha boca e eu me perguntava se ele queria isso tanto quanto eu. Ele me beijou... um beijo cheio de desejo e vontade, nossas línguas brincavam em perfeita sincronia e depois de alguns segundos que eu queria que fossem minutos nos separamos, ofegantes e com a respiração pesada.
Ele me olhou nos olhos, depois encostou nossas testas e surrou no meu ouvido.
- Obrigado por ter me escutado.
Eu sussurrei no seu ouvido de volta.
- Obrigada por tudo.
Demos outro selinho rápido e depois voltamos pro nossos bancos, ele saiu com o carro e começou a voltar pra casa. Não dissemos nada o caminho todo, mas não foi um silêncio constrangedor, foi um silêncio de paz como se nós dois estivéssemos pensando e digerindo tudo que tínhamos acabado de ouvir.
Quando voltarmos para casa dos pais de Josh saímos do carro de mãos dada, eu não queria mas não conseguia tirar um sorrisinho bobo da minha cara. Quando chegamos não tinha mais ninguém e a festa já tinha acabado, tudo que tinha eram copos e sujeira jogados no chão.
Não encontramos ninguém no caminho até o quarto, quando subimos Josh foi tomar banho e eu fiquei ali esperando. Liguei meu celular que tava desligado e vi mensagens da Jojo preocupada perguntando o que tinha acontecido, respondi que tava tudo bem e que já tínhamos voltado para casa. Depois de um tempo Josh saiu do banheiro e fui tomar banho, fiquei vários minutos lá pensando em tudo, eu não queria mais sabia que estava me apaixonando, e também sabia que isso não ia dar certo que Josh ainda amava a Bianca e que ele não sentia o mesmo por mim, no final eu sairia machucada e eu não queria isso.
Prometi a mim mesmo que faria de tudo pra negar esse sentimento e fazer ele desaparecer, tentei me convencer que não era nada, que aquilo era passageiro e eu queria com todas as minhas forças que fosse verdade.
Depois que terminei o banho sai do banheiro já vestida e deitei ao lado de Josh pra dormir, afinal o dia tinha sido longo. Ele me abraçou por trás e surrou no meu ouvido:
- Boa noite princesa.
- Boa noite.
Senti meu corpo se arrepiar todo, e eu não sabia se ele estava brincando comigo ou não, mas não pensei nisso. Mais uma vez dormir rápido e feliz desejando que todas as noites pro resto da minha vida fossem como essa tranquilas e ao lado dele...

Meu querido chefe #BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora