Isadora
Estou deitada na cama olhando para o teto, acabei de acordar e estou morrendo de tédio, não ter um celular pra mexer está me deixando doida. Levanto me espreguiçando e vou ao banheiro fazer o xixi básico da manhã, saio e vejo um carrinho com uma bandeja.
Meu deus, quem traz essas coisas?
Ando em círculos comendo o sanduíche de queijo e presunto, estava uma delícia, e eu realmente estava com muita fome já que ontem fui dormir sem jantar após o Fernando ter surtado por causa dos meus palavrões, infelizmente não consigo me controlar, eu sou boca suja, fui criada assim, e não vou mudar, principalmente por ele.
- Ai que tédio pelo amor de Deus – digo gritando me jogando na cama, com o sanduíche já na minha barriga – Será que posso sair andando por aí? - Falo sozinha olhando para a porta.
Foda-se...
Levanto da cama, vou ao armário e procuro uma camisa ou qualquer coisa que eu possa me vestir, não posso sair de calcinha e sutiã por aí.
- Será que não tem nada aqui? - digo abrindo todas as gavetas.
Abro a última gaveta do armário e encontro algumas camisas sociais velhas de homem, tem cheiro de roupa velha e guardada.
- Se só tem tu, vai tu mesmo – digo pegando uma preta e botando em mim, ficou perfeita, cobre minha bunda, isso é o que importa.
Saio do quarto olhando para os dois lados, se eu for para a direita vou em direção ou escritório e a garagem do Fernando, se for para esquerda vou em direção da sala vermelha e do galpão que fiquei amarrada, meu deus os dois lados são horríveis, mas o escritório é pior, vai que eu me encontro com ele.
Vou para a esquerda, tem várias outras portas pelo corredor, provavelmente são quartos de hospedes tipo o meu, chego a uma bifurcação, viro à esquerda e encontro outro corredor cheio de obras de arte, uma mistura de realismo com cubismo, todos provavelmente originais.
- Acho que ele gosta de pinturas – digo olhando ao redor.
Vejo um portal, quando eu passo pela frente é uma sala, onde tem um grande piano branco bem no meio.
- Quem será que toca isso? Duvido que seja o Fernando, ele é muito ogro para uma coisa tão delicada – falo sozinha passando a mão pelo piano.
Sento no banquinho do piano e levanto a tampa que protege as teclas, a tentação de tocar não passa, tenho medo de tocar e ele aparecer, não sei se poderia tocar, que dúvida.
- Quer saber, foda-se, vou tocar - digo pondo as mãos em posição.
Começo a tocar uma música que aprendi na aula de música da escola, toco me sentindo a própria Chiquinha Gonzaga, estava sendo incrível, esqueci completamente de tudo de ruim que aconteceu comigo até ali, só existia eu e aquele piano no mundo, me senti nas estrelas.
termino de tocar e escuto palmas vindas da porta, eu já sabia quem era, suspiro e olho em direção a porta.
- Incrível gatinha – diz Fernando batendo palmas e se aproximando de mim, ele está com roupa de ginastica preta e fumando um cigarro - Não sabia que você tocava – disse tragando e falando soltando aquela fumaça fedorenta.
- Você não sabe de muitas coisas sobre mim – falo afrontosa, olhando parar ele
– Inclusive, não adianta de nada fazer exercício e ficar fumando esse cigarro asqueroso – digo isso com cara de nojo. Odeio cigarro, vários dos meus pacientes que morreram de câncer de pulmão decorrente desse vicio maldito.
- É verdade, você tem razão - diz ele apagando o cigarro no cinzeiro que estava em cima de uma mesinha de madeira próxima ao piano.
- gosto dessa musica - pergunta ele se apoiando no piano.
- Não sei o nome dela, eu aprendi na aula de música, só sei essa inclusive – digo suspirando, gostaria de saber tocar mais.
- John Barry, Somewhere In Time – disse ele.
- Sério, como você sabe? - realmente isso me surpreendeu.
- Eu também tocava essa música quando eu era mais jovem – disse ele com um sorriso meio triste olhando para o piano.
Tem alguma coisa aí, pensei enquanto olhava para ele, nossa, ele é muito lindo, as vezes eu até esqueço o quanto ele e toxico, quem dera ele fosse diferente.
- me desculpa mas não consigo imaginar você tocando - disse levantando do banquinho.
- Na verdade e última coisa que eu imagino essas suas mãos fazendo – digo com som de riso fechando a tampa das teclas olhando pra ele.
- Interessando, e você imagina minhas mãos fazendo o que? - diz ele aproximando seu rosto de mim e sorrindo de jeito malicioso.
- Você é um nojo de homem, com licença - digo me virando para sair da sala, meu deus do céu cara, essa merda de homem não consegue, por que ele sempre tem que ser tão merda? por que os bonitos são sempre os machos mais lixosos?
- Calma gatinha, preciso falar com você, senta aí – diz ele com uma voz seria segurando o meu braço, me fazendo voltar para perto do banquinho.
Sentei novamente, e fiquei olhando pra ele de baixo para cima, me sinto tão inferior a ele nessa posição, e eu odeio que ele fica me chamando de gatinha, sempre detestei apelidos que compare as mulheres com animais ou comida.
- Minha Nonna está vindo me visitar, vamos dar um festinha aqui na mansão em comemoração do seu aniversario de 85 anos dela, e me cobrou uma noiva de presente – disse ele me olhando de cima cruzando os braços. A Nonna é a avó dele, provavelmente é quem está por trás de toda essa merda de casamento e herdeiro.
- O que você respondeu – digo cruzando as pernas.
- Disse que tinha a noiva perfeita – disse se ajoelhando em um dos joelhos ficando cara a cara comigo.
- Eu não disse que tinha aceitado – digo cruzando os braços e as pernas me aproximando do rosto dele. Eu na verdade aceito, por motivos de que não quero morrer, mas se ele está pensando que eu vou ser a esposa perfeita ele está muito enganado, vou fazer da vida dele um inferno, mesmo que quem sofra as consequências seja eu. Não vou deitar.
- Sei que você não quer morrer, ou quer? – Pergunta ele com uma voz brava se apoiando nos meus joelhos, ficando mais perto ainda me fazendo recuar. Agora que me lembrei, estou só de camisa, vou evitar deixar ele nervoso, não quero correr o risco de ser violentada.
- Não - digo intimidada.
- Eu aceito casar com você - falo olhando seria para os olhos dele.
- Que bom que você e sensata – diz ele sorrindo.
ele se levanta e sai da sala sem falar nada, me deixando completamente sozinha. suspiro aliviada, porem sinto um aperto no meu coração.
- O que eu fiz? – digo pondo as mãos no rosto.
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Speechless
ChickLitIsadora Castello, 25 anos, brasileira que vivia na Itália a 2 anos, fisioterapeuta instrutora de Pilates esta desparecida a 1 mês sem dar noticias a seus familiares e amigos, qualquer noticia, ligara para o numero 0800 655... - Estão preocupados com...