Morgan's - No Olho De Liz

♧♤ - Separação

- Que merda é essa? - Perguntei, me dando conta depois que falara alto demais. - Para onde você está indo?

   Liz olhou para os próprios pés e depois levou o olhar até mim.

- Vou passar um tempo na casa dos meus pais - disse. - Digo, da minha mãe.

- Um tempo quanto? - Eu sabia que ela tinha o total direito de passar um tempo com a sua família, principalmente depois que tudo acontecera. Mas à poucos dias atrás, ela não conseguia nem passar uma hora dentro daquela casa, o que havia mudado?

   Parecendo adivinhar meus pensamentos, ela respondeu:

- Ainda não sei, muitas coisas... mudaram - voltou à olhar para os pés.

   Passei a mão pelo rosto e joguei a chave no balcão.

- Quais coisas, Lizandra?

   Ela levantou os olhos e me encarou.

- Por que você está com raiva de mim?

- Eu não estou... - respirei fundo olhei em seus olhos. - Não estou com raiva de você, só estou tentando entender o que te fez tomar uma decisão assim - havia um tom suplicante em minha voz. - Você está me deixando, é isso?

   Os olhos azuis e sempre tão astutos da mulher naquele momento estavam frios. Uma lágrima solitária escorreu pela sua bochecha.

- Acho que estou, Leo - as palavras saíram com esforço. - Acabou.

   Precisei repassar as palavras mais de três vezes na minha mente para ter certeza se havia entendido. Lizandra Morgan, a mulher cujo eu fizera de tudo para ter ao meu lado, estava oficialmente me deixando. Como se nada entre nós houvesse acontecido.

- Como você... - um nó se formou em minha garganta. - Como você pode fazer uma coisa dessas?

   Ela agora não se preocupava mais se eu via ou não suas lágrimas.

- Nós não podemos mais ficar juntos. Meu Deus, nunca podemos! - Esbravejou.

- E mesmo assim ficamos! - Rebati. - Você tem noção das coisas que eu sacrifiquei para ter você? E agora você age como se nada tivesse acontecido. O que deu em você? O que aconteceu naquela casa, Liz?

   Lizandra se segurou na mala e fechou os olhos.

- Leonard, não torne isso mais difícil do que já está sendo.

   Soltei um riso amargo e passei a mão pelo cabelo, exasperado.

- Eu estou tornando isso difícil? - Repliquei. - Um dia você diz que me ama, no outro...

- Será que você não entende? - Interrompeu, me encarando com raiva. -  Não entende que a nossa relação põe a minha família em risco? Põe a sua família em risco? O meu pai morreu por nossa culpa!

- Você está dizendo agora que nós temos culpa pelas ações dos nossos pais? - Gritei. - Sei que ele era o seu pai, mas você nem falava mais com ele! Você o odiava e sabia disso.

   A mulher se aproximou de mim e me olhou furiosamente.

- Eu não o odiava.

- Odiava sim - afirmei, entredentes. - E agora você está com peso na consciência por que ele morreu com raiva de você, não é?

   Liz apontou o dedo para o meu rosto e murmurou.

- Quem você acha que é para dizer o que eu sinto?

- Sou o homem que dormiu ao seu lado pelos últimos três meses, que deu as costas para a própria família para ficar ao seu lado - dei uma pausa. - O que faria qualquer coisa só para poder chamar você de minha. É esse quem eu sou, Lizandra.