♤ - Doce formatura

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 LIZANDRA

 

   Sempre acreditei que no dia da minha formatura eu estaria mais feliz. Questão de expectativa ou não, eu achei. Afinal, quem não ficaria animado no dia da formatura? Seja por estar feliz por encerrar mais um ciclo da sua vida, ou por terminar o infernal ensino médio. Mas de um jeito ou outro, nós ficamos felizes - ou até mesmo - aliviados. Os rostos das formandas no salão expressavam isso. Haviam garotas alegres, passeando com seus pares e pais de um lado para o outro. A alegria delas parecia distante. Não conseguia sentir nem ver.

   O que eu tinha ali? O homem que eu amava à menos de dez metros de distância cujo eu não podia trocar uma palavra? Uma família tensa que andava assustada até com a própria sombra? Amigos que não falavam mais comigo por conta do que ocorrera com a pobrezinha da Maya? Tudo estava difícil demais à um tempo.

   Desde que o papai morrera, tudo havia desmoronado - querendo eu admitir ou não. Sentia falta do meu pai. Todas aquelas adolescentes saltitantes com os seus me causavam um aperto no peito. Sonhava em viver aquilo com ele. Quase podia escutar sua voz vindo do final das escadas: "você está linda, minha filha; mas por que teve que demorar tanto? Você é igual à sua mãe." Eu não entendia o porquê. Queria ter a visão que tinha do meu pai antes. Queria tê-lo de volta. Queria a minha antiga vida de volta.

- Mais um drink, senhorita? - Um garçom de sorriso gentil se aproximara. - Devo dizer que você é uma das moças mais bonitas da festa.

   Não queria ceder, mas uma cantada nunca era de mal grado - mesmo não possuindo interesse algum nele.

- Muito obrigada - estendi a mão e peguei um drink de frutas vermelhas que estava sobre a bandeja que ele segurava. - Pelo drink, e pelo elogio.

   Pelo ombro do garçom, vi que Cecília conversava com Leonard perto da janela. Eles pareciam estar imersos a conversa.

- Mas não vim aqui somente para elogia-la - eu estava me sentindo em uma conversa com um duque. - Alguém mandou esse bilhete para você.

   Um bilhete? Não era muito surpreendente; eu e Leonard estávamos a conversar por bilhetes à semanas, mas eu não havia visto ele em nenhum momento escrevendo um. Pelo contrário, Leonard ainda continuava à conversar com Cecília.

   Peguei o papel enrolado e agradeci. O garçom saiu e eu desenrolei o papel. A tinta da letra estava um pouco fraca, parecia ter sido escrita com pressa, mas eu consegui entender muito bem o que havia ali. Logo desejei não ter entendido, seria bem mais simples.

   Sei o que você está fazendo. Sei que está com o Leonard novamente. Essa história acabada hoje.

   Não precisava de assinatura. Eu reconhecia a letra, sabia quem estava por trás daquilo. Tia Meredith estava de volta, e, não se sabe como, também estava presente em minha formatura.

   Minha mente estava confusa. Eu precisava encontrar o garçom que me entregara aquilo. Precisava saber quem havia lhe dado o bilhete. Se o que aquela mulher queria me causar medo, ela estava conseguindo.

   Não sentia medo por mim, mas sim por Leonard, meus amigos e minha família. Como esse pensamento, praticamente corri até a área dos funcionários. A cozinha estava quente, pessoas de branco andavam desesperadamente de um lado para o outro. Uma moça - garçonete, supostamente - tocou em meu braço. No seu crachá estava escrito o nome Amélia. Os crachás. Se eu tivesse visto o nome do garçom, tudo seria mais simples.

- O que a senhorita está fazendo aqui? - A tal Amélia parecia surpresa. - Algo de errado? Essa não é uma área para convidados - ela parecia mais preocupada com algum incidente do que brava.

Morgan's - No Olho De LizOnde histórias criam vida. Descubra agora