♧♤ - O peso de ser uma Morgan

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• LEONARD ♧

- Estão atrás da sua cabeça - essa foi a primeira coisa que Nicole disse para Liz quando entramos na sala de reunião, cinco dias depois.

Liz, por sua vez se mantinha absorta a tudo que estava acontecendo a sua volta. Sempre que eu tentava conversar sobre o que acontecera na França, ela se esquivava do assunto e ficava por isso mesmo. Ela matou um homem. Nem eu, em toda a minha vida, havia tirado a vida de alguém. Ela, sim; e parecia não estar pronta para lhe dar com aquilo.

- Vou colocar mais um segurança para você - como Liz não respondeu nada, Nicole continuou. - Preciso que fique sempre atenta, Liz.

- Quem exatamente está atrás de mim? - Perguntou minha namorada.

Os outros estavam em silêncio.

- Os Scorpions, claro - respondeu a mulher. - Depois do que aconteceu, eles não vão deixar isso passar abatido. Por isso que eu peço que todos vocês tomem cuidado. - Deu uma pausa. - Eles ainda não sabem quantos de vocês estão por trás disso, mas irão descobrir. Cecília, minha "garota-surpresa" está trabalhando para descobrir o que eles sabem. Até lá, cuidado.

Todos nós estávamos tensos. Não era todo dia que recebíamos a notícia que estávamos jurados de morte. Depois que a reunião terminou, formos dispensados. Menos, Liz.

- Quero conversar com você, filha - quando Nicole chamava Liz de filha, é por que o assunto seria mesmo sério.

Saímos e deixamos as duas às sós. Esperei pela minha namorada durante trinta minutos, até ela sair.

- Tudo bem? - Perguntei, enquanto íamos em direção ao carro. - Sobre o que conversaram?

Ela suspirou.

- Sobre o que aconteceu em Toulouse - respondeu. - E sobre como eu estou me sentindo com isso.

Semicerrei os olhos.

- E como você está se sentindo?

Liz parou de andar e me encarou. Não estava triste, tampouco com raiva. Parecia não sentir...

- Nada - respondeu. - Eu não sinto absolutamente nada.

Ok, era mais complicado do que eu imaginava. Quem tirava a vida de outra pessoa e não sentia nada? Acho que ela percebeu a minha expressão, pois continuou.

- Eu sei que isso é estranho, ok? Mas eu não consigo sentir nada. Nem dor, tristeza, raiva... nada - passou a mão pelo cabelo exasperada. - Era para mim sentir alguma coisa? Eu não sei. Parece que eu estou dormindo. Parece que eu estou... morta.

Seu olhar se tornou vago, até um pouco triste. Olhou para os sapatos sujos e depois para mim novamente. Lhe puxei para um abraço e a envolvi em meus braços.

- Está tudo bem - murmurei. - Você... não tinha o que fazer.

E não tinha mesmo. Era a Lya ou aquele homem, e eu e Liz sabíamos que, caso ela não tivesse feito nada, a culpa que ela sentiria seria aterrorizante. Ela nunca mais conseguiria ser a mesma.

Ela se separou de mim e encarou meus olhos.

- Você acha... acha que o que eu fiz foi certo?

Certo. Eu nem entendia mais o conceito daquela palavra.

- Linda, nada naquela situação estava certa - pus minha mão em seu rosto frágil. - Mas você salvou a vida de uma pessoa. Salvou a vida da Lya.

- Mas tirei uma - sua voz soava fria.

Suspirei.

- Tudo tem um preço - respondi. - E sinceramente, eu escolheria a Lya mil e uma vezes. Nós não sabemos o que aquele homem havia feito durante a sua vida inteira. Por que será que ele portava uma faca na cintura? Não estou dizendo que matar uma pessoa por achar que ela é ruim seja certo. Mas a Lya com certeza não é.

Morgan's - No Olho De LizOnde histórias criam vida. Descubra agora