9. Appetence

552 183 161
                                    

Appetence: an eager desire, an instinctive inclination; material or chemical attraction or affinity; appetite.
-------------------------------------------------------
Depois de se empanturrarem de biscoitos e terminarem de arrumar a cozinha, os dois homens seguiram cada um para seu canto. A primeira coisa que Jungkook decidiu fazer foi tomar um bom e merecido banho.

O banheiro de sua suíte era tão bonito quanto o quarto. Num contraste de tijolos brancos e pretos marmorizados, o banheiro era inteiramente decorado com artigos pretos, desde a toalha de rosto até as cores da banheira e da ducha. Sem mais delongas, o garoto pôs-se tirar as roupas.
Pelo espelho vertical iluminado, Jungkook pôde ver que os roxos já haviam desaparecido de seu corpo, mas o curativo em seu ombro continuava intocado. Molhando as pontas com a água da torneira, foi descolando pouco a pouco do curativo, puxando as camadas de gaze.

Quando pôde ter uma visão limpa da ferida pela primeira vez, tomou um susto ao notar que os pontos pareciam completamente fechados e já se descolavam da pele, deixando para trás uma pele saudável e sem marcas. Isso está certo? Parece ter melhorado rápido demais, eu nem troquei ele... Poderia ser algo que Hoseok fez? Sim, provavelmente. Algum tipo de magia, seria a única forma de fazer um machucado desses curar tão rápido.

Jungkook foi puxando os fios de sutura um a um, colocando-os sobre a pia. Entre o medo e a curiosidade, a segunda venceu, e ele aproximou sua mão cuidadosamente até o local em questão e acariciou a pele em busca de alguma inconsistência. Para sua surpresa, não havia nada, nenhum resquício de dor ou sangue, nada. E por mais estranho que soasse, ele desejou que houvesse dor, ou no mínimo, uma cicatriz, qualquer marca que comprovasse que o que ele viveu foi real.

Ele soltou um grunhido, entrando no chuveiro e deixando que a água caísse por seu corpo, levando embora toda a sujeira. Jungkook ficou um tempo sentado no chão sem fazer nada, apenas sentindo seus músculos relaxarem conforme a água escorria por seus membros.

Era estranho pensar em como a imagem tão perfeitamente esculpida e lapidada que tinha de seu cuidador foi destruída em questão de segundos. Seokjin foi sua única figura paterna, seu exemplo a seguir, mas toda essa imagem foi manipulada por camadas de mentiras bem contadas e incontáveis lições de moral e privações. Se foi certa ou não a rapidez com que ele julgou o homem, isso ele já não saberia dizer e nem se importava com a resposta. A culpa maior sempre seria de Seokjin, portanto qualquer reação que ele viesse a ter seria justificável. A raiva é uma emoção passageira, mas a mágoa penetra nas profundezas e cria raízes irremovíveis, uma cara triste ou um pedido de desculpas não mudariam a gravidade do que foi feito.

Mas ele já havia se lamentado demais, remoído demais, não havia como mudar o passado. Seu futuro, por outro lado, era uma neblina densa e intransponível, impossível de se enxergar o outro lado. O sentimento de ansiedade era constante e parecia uma âncora no fundo de sua garganta, um peso que não importava o quanto ele tentasse, era impossível se desprender. Ele estava determinado a mudar isso, a fazer o melhor com o tempo que o restasse. Era hora de fazer as coisa de seu próprio jeito, tomar suas próprias decisões, e isso começava a partir de agora. Estar longe de seu tutor era o primeiro passo em direção à sua liberdade, estar perto dos demônios seria a primeira e melhor chance para conhecer o outro lado da história pela primeira vez, a aprender algo de forma empírica e não somente por livros escritos há centenas de anos atrás. Ele simplesmente se deixaria ser...viver, como nunca havia feito antes.
E quando as coisas se resolvessem, ele então partiria para longe de tudo aquilo, recomeçaria em um novo lugar onde ninguém o conhecesse e ele pudesse construir uma vida nova para si, inclusive arranjar emprego em um museu ou num lugar histórico, as possibilidades seriam infinitas.

Ele não precisava de Seokjin, ele não precisava que o tratassem como se ele fosse criança ou algum tipo de aberração, ele não era o quer que houvesse dentro de seu corpo e, demoníaco ou não, ele não deixaria que isso tomasse conta dele.

Elysium| jjk + pjm [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora