42.Dies Irae

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Dies Irae: day of wrath
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No início, só existia escuridão.

E então, fez-se a luz.

***

Jungkook emergiu aos berros, cortando seu corpo em pedaços afiados que não deveriam estar lá para começar. Só havia um zumbido alto em seus ouvidos, os olhos ainda estavam embaçados e ele mal podia reconhecer as silhuetas dos homens ali presentes.

Ele foi ao chão em segundos, ainda desesperado e agitado demais para que pudesse fazer questão de observar seu sangue tingindo os azulejos brancos. Algo... alguém pegou seu rosto entre as mãos.

—...

—J... — a cabeça de Jungkook girava, uma névoa fria embaçava seus sentidos e o fazia querer adormecer de novo.

—Jungkoo...

— Jungkook, olhe para mim! Abra os olhos! Vamos, Jungkook! — A voz não lhe era estranha. Uma chama ardia dentro de Jungkook, implorando para sair. Ele travou os dentes.

— Eu preciso que você olhe para mim, você consegue, Jungkook! Não deixe que te vença, você é mais forte. LUTE! — Jungkook gritou em resposta.

Em algum lugar do cômodo, ouviu-se estilhaços.

A sensação era a de que o estavam queimando de dentro para fora, Jungkook podia até sentir o cheiro de sua carne queimando. Havia uma coceira na boca de seu estômago, e seus ouvidos zumbiam tanto que ele achava que fosse desmaiar.

Alguém corria pela sala, Jungkook ouvia o som dos chinelos batendo no chão. Ele ouvia o som das velas queimando, do canto dos canarinhos há 20 metros de distância dali, de muitos corações batendo para se saber a quantidade certa. A chama cresceu.

— Foque na minha voz, apenas na minha voz, esqueça o resto. — Jungkook tentou abrir os olhos. — Siga minha respiração, eu estou com você, não desista! — Jungkook afundou os punhos no chão ensopado, incapaz de se desligar de todos os estímulos ao mesmo tempo.

— Eu sei que dói, eu sei que dói... — As mãos calosadas de Hoseok nas costas nuas de Jungkook pareciam estranhamente mais macias naquele momento. O tórax do garoto expandia e se comprimia de forma despassada, mal planejada, ele estava ficando zonzo.

— Uma respiração de cada vez... Isso... Desse jeito... Devagar, garoto...

Aos poucos, Jungkook conseguiu domá-la, ou pelo menos amansá-la, e a chama foi diminuindo até não passar de uma coceirinha incômoda no fundo de sua mente. As cores voltaram aos poucos, ainda muito diluídas, o mundo diminuiu o volume, e Jungkook conseguiu erguer a cabeça para encará-lo.

Hoseok ainda tinha suas mãos firmes e carinhosas em seu rosto, o rosto numa careta indecifrável, e o monge não parecia estar em nenhum lugar à vista. Eles estavam na mesma sala, mas algo estava diferente.

As velas tinham se apagado, todas arremessadas em locais diferentes. As grandes janelas que iluminavam a sala se quebraram e os cacos estavam por todo o chão. Uma parte do teto havia caído, o pedaço enorme de pedra jazia cravado como um meteoro no meio da sala a poucos metros de Jungkook.

A banheira em que o moreno estava também se quebrara, uma das pontas afiadas lhe rasgara a coxa profundamente.

No entanto, ao olhar para sua perna, o corte não estava mais lá.

— O-O que...? E-Eu? — O mais velho não o respondeu, em vez disso, apenas lhe deu um olhar apologético. Mas Jungkook sabia que sim.

O monge entrou a passos apressados, abrindo o que sobrara das portas duplas quebradas para entrar.

Elysium| jjk + pjm [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora