Capitulo 07 - Tiberiuns

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Olhando pasmo para o tio, Tiberiuns custou a acreditar no que acabou de ouvir.

Durante a discussão, pedia aos deuses pela misericórdia, que ela fica-se bem, que seu tio a perdoa-se como sempre perdoou suas palavras mal pensadas e impulsivas, mas o olhar de seu Audebaram dizia a ele, que alguma coisa estava muito diferente desta vez.

- Senhor, desculpe, mas não acha que esta sendo duro demais? – falavam um tom levemente assustado, enquanto gesticulava para o tio - Já vi discursões bem mais acaloradas nesta mesma sala é o senhor em momento algum cogitou...

- Os tempos são outros – Interrompeu Audebaram, erguendo a mão – Ela esta certa quanto a já não ser mais uma garotinha, na idade dela muitas mulheres já estão em bons haréns de senhores respeitáveis, acha que ela se enquadraria em algum deles? Mesmo do mais benevolente minotauro? Tenho certeza de que não. Seria castigada, devolvida ou pior, iria parar nos mercados de escravos. Sabe quantos inimigos já fiz em minha vida? Imagina o que poderiam fazer a ele?

Com um grande suspiro ele se calou, como se as ideias mais do que remoídas em sua mente tivessem tornado duras demais até para um general de infinitas batalhas.

Tiberiuns nunca viu seu tio desta forma, tão preocupado e desconsolado, grandes rugas vincavam sua pele e olheiras escuras se acumulavam sobre seus olhos, dando a impressão que anos haviam alcançado ele em minutos.

- O que o senhor pensa em fazer? – Ele engoliu seco, temendo a resposta do tio.

- Sou um pai velho de uma filha jovem, uma filha que não esta pronta para viver no mundo que a rodeia. Você lutou em muitas batalhas no exercito não é verdade?

- Sim senhor.

- Então sabe tão bem como eu que ninguém esta fora do alcance da foice de Len** - Falou refletido, olhando para as chamas das velas.

- O senhor esta longe de encontrar com Len e – Apresou-se em falar, mas foi calado com um gesto do tio, que ainda fitava a luz das velas.

- Não foi você mesmo que estava sugerindo a pouco mais de uma hora que eu começa-se a andar dentro de uma carroça, como um invalido? – Perguntou ironicamente.

- Apenas para se poupar, o Senhor sabe disto – Respondeu Tiberiuns rapidamente – Nunca sugeri que estivesse incapaz de caminhar com suas próprias pernas.

- Mesmo assim, você sabe o que acontecera a Juno quando eu me for? Ela provavelmente passaria como a maior parte de meus bens a seu pai, meu querido irmão Horátio e sua moral questionável, quantos minutos você acha que ele levaria para vendê-la a qualquer minotauro que desse a ele qualquer vantagem, assim como fez com suas próprias filhas, por Tauron a grande maioria de suas irmãs mal tinha idade legal de pertencer a um harém. – Calando-se por um minuto, apenas para acrescentar em seguida – Porque acha que ele agiria diferente com a minha filha, se nem com as dele teve compaixão?

- Isto nunca aconteceria, Kaius e eu nunca permitiríamos. – Falou de modo enfático.

- Vocês não permitiriam que seu pais desposse-se de uma propriedade legalmente dele, exatamente como fariam isto? Como foi com suas irmãs? – Perguntou recostando-se no divã.

- O senhor não esta sendo justo! Quando as meninas saíram de nossa casa, nos não tínhamos como evitar, nem éramos adultos ainda, muito longe dos homens que somos hoje, não tínhamos como evitar, com Juno seria diferente, o senhor sabe disto! – Falou com as palavras rojando de sua boca.

– Você sabe que você e seus irmão são como filhos pra mim, vieram trazendo vida a uma casa morta. Você ainda se lembra de quando era a única criança a correr pela casa? – Perguntou sorrindo para a lembrança ao olhar para Tiberiuns.

- Sim senhor, lembro mais desta casa e desta vila do que da de meu pai. – Respondeu olhando para Audebaram, sem entender pra onde ele estava querendo chegar.

- Você lembra quando minha querida Taiala estava prestes a dar a luz a Juno? Você estava com quase seis anos e andava emburrado pelos cantos da casa, calado e irritado, deve ter brigado mais com os meninos da vila em poucos meses do que em todos os anos anteriores que passou aqui, lembra disto? – Perguntou rindo.

- Lembro de brigar, do senhor estar muito distante, sempre com a senhora Taiala... – Acrescentou refletindo. - lembro de me sentir muito sozinho.

- Algumas das mulheres do harém diziam a Taiala que você estive-se com ciúmes, acreditando que o novo bebe fosse tomar seu lugar e que quando a criança nascesse, deveria ter cuidado para que você não a machucasse, sabe o que ela respondeu?

- Não senhor, não sabia que tinham cogitado uma coisa assim – Respondeu boquiaberto com a informação.

- Ela disse que você tinha um bom coração, amoroso e cheio de coragem, que você só estava com medo, mas que logo este medo acabaria e tudo voltaria ao normal – Falou Audebaram, sorrindo para a lembrança.

- Ela era uma mulher sem igual, não surpreende ser...

- A mãe de Juno?- Interrompeu o tio. - Sinto discordar mas ela é toda minha filha, Augustus até os ossos.

Ambos finalmente riram de verdade.

- Durante um tempo, um bom tempo eu sinceramente esperei que ela se entendesse com Kaius ou com você. Isto deixaria aquele velho terrível do seu pai bem feliz, as nossas linhas se uniriam e tudo o que é meu seria passado para um de seus filhos, na qualidade de dono de minha única filha. – Acrescentou com um riso matreiro.

Tiberiuns foi pego de surpresa pelas palavras do tio, nunca esperava escutar isto.

- O que mudou, deixamos de ser boas opções para o senhor? – Perguntou tentando clarear a conversa.

- Esta brincando? Kaius é um completo descabeçado em uma semana ela estaria lutando na arena livremente e morrendo logo em seguida para dar o exemplo. – Respondeu com uma bufada.

- E... e quanto a mim? – Perguntou em um suspiro, hesitante em olha-lo nos olhos.

- Quando Juno nasceu, por mais que a mãe confia-se em você, eu me envergonho em dizer que não tive a mesma fé. Um dia Taiala saiu do quarto e deixou Juno ainda bebe, dormindo no berço e foi ate mim, quando escutamos o choro da nossa bebe, saiu correndo até ela comigo logo atrás, quando chegamos lá, você estava no quarto com Juno sorrindo no colo. - Tomando um gole de vinho continuou. - Eu quis tira-la de seus braços, tive medo de você estar com ciúmes ou de machuca-la, mesmo sem querer. Mas Taiala me deteve, disse par confiar. Você embalo-a com cuidado e a colocou pra dormir no berço novamente. - Perguntou franzindo as sobrancelhas. – Lembra-se disto?

- Lembro que a escutei chorar e fui até o quarto, quando a pequei no colo ela parou e sorriu pra mim, era tão pequena e roubava toda a atenção da casa e naquele momento eu entendi o porquê. – Falou Tiberiuns, pausando bem as palavras.

- Eu sei que você cuidaria bem dela e a manteria segura, há algum tempo atrás... – Parou a frase na metade, e balançou a cabeça como que pra se livrar de ideias indesejadas, para logo depois suspirar e prosseguir - A relação de vocês se deteriora a cada encontro, nestes últimos anos a única coisa que aumenta entre vocês e animosidade e não é isto que desejo a nem um dos dois.

- Senhor esta pensando em... – Perguntou um pouco apreensivo.

- Procurar um bom dono pra ela, provavelmente ate o final do ano ela já esteja em um bom harém – Falou com tamanha resolução que não deixava espaço para duvidas.

O coração de Tiberiuns se contraiu de imaginar Juno, sua Juno em um harém que não fosse o seu próprio.

** Len – Um dos vinte deuses maiores, Deus da Morte. É sua face mais civilizada enquanto Ragnar, como é conhecido e venerado pelos goblinoides e sua face mais destrutiva e monstruosa.

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