Capítulo 49 - Juno

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- Vale mais do que isto.

- Quinhentas pesas de ouro e nem um cobre a mais, é tudo o que posso pagar.

- Um homem honesto pagaria o justo.

- Neste caso deveria vender pra alguém honesto. – Respondeu com um sorriso desdentado por sob o espeço bigode encardido.

Ela olhou ao redor avaliando o lugar. Nunca tinha visto igual coleção de quinquilharias. Pratarias, peças de porcelana e vidro além de uma infinidade de véus ricamente bordados. Tapetes espessos intercalados com outros bem desgastados forravam o chão da loja que parecia mais escura do que deveria, ao contrario da loja de Antônio onde tudo era de uma luminosidade cegam-te.

Cada um investia em sua própria clientela. Um queria que suas joias luzissem e resplandecessem, impressionando seus clientes, o outro queria que as joias se tornassem opacas e sem graça, as desmerecendo diante dos olhos dos vendedores.

- Escute queridinha, não me importa qual o motivo de estar aqui vendendo este anel, mas seu mestre não vai ficar feliz com o desaparecimento dele. – Disse sacudindo a joia no ar, antes de fazer um gesto amplo ao redor. - Provavelmente vai procurar por ele, quem sabe pode até vir atrás de Salim? O que vou fazer neste caso? Eu lhe digo o que vai acontecer o fim de Salim. O que acontece com Salim se um minotauro chegar em minha loja quebrando tudo em busca de um anelzinho que sua concubina "perdeu" pelas ruas do mercado? – Perguntou, continuando sem dar tempo que ela o responde-se. – Sabe o que acontece com humanos que são pegos comprando peças roubadas? Escravidão. E não aquela historia de passar dez anos e está livre, não mesmo. Salim vai passar o resto de sua vida em correntes e arando terra. Você quer isto? Não você não quer, nem eu quero. Salim é péssimo em arar terra, acredite um desastre completo em qualquer coisa que necessite força. Então Salim tem de dar uma moeda aqui e outra ali, sabe pra desviar os olhos da guarda e poder seguir seu caminho. Por isto não posso pagar mais, já estou correndo muito risco em receber esta peça.

- Ninguém virá atrás do anel. – Falou impaciente.

- Ninguém virá atrás do anel. Ninguém virá atrás do anel. Você entra aqui me jurando que é seu, mas como posso saber se é mesmo? Pode ser muito bem a dama de uma velha matrona e o surrupiou da senhora sem que ela perceba. Além disso Salim está sendo gentil em pagar tanto assim por prata barata.

- É meu! Já disse que é meu e não é prata, isto é ouro!

- Querida não sei que historia você escutou por ai, mas ouro é amarelo e está coisa e branca.

- Mas é ouro. Um ouro mais claro que a nobreza inicia a usar, dentro de pouco será a liga mais popular entre as mulheres do Princpes.

- Neste caso quando elas começarem a aparecer aqui com este ouro claro ficarei sabendo. Até lá quinhentas peças e nem um cobre a mais.

- E quanto à pedra? Ela vale dez vezes este valor.

- Querida realmente o seu mestre deve ser bom de lábia, mas este pequeno cristal de sílica não vale nada.

- E está me dando todo este ouro por nada? Apenas por um alo de prata vagabunda?

- O que posso fazer? Tenho um coração bom. Além do mais você poderia me dar uns minutinhos de atenção ali atrás. Quem sabe eu coloco mais umas peças de ouro. – Falou tocando com admiração um cacho escuro que lhe caia sobre o ombro, dando um novo sorriso repugnante. - Você agrada Salim e Salim te agrada e todos nos ficamos felizes.

- Duvido que você dure alguns minutos comigo. – Respondeu espantando com uma tapa forte a mão do velho mercador. - Se não vale nada, você não vai se importar que a pulverize não é mesmo. – Acrescentou pegando um pequeno bloco de mármore que segurava papéis sobre a mesa do mercador.

Corações tauricosOnde histórias criam vida. Descubra agora