Capítulo 47 -Juno

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- Finalmente um pouco de paz. – Suspirou a jovem chegando ao corredor silencioso, não hesitou um momento em sair do quarto mesmo que usando apenas a camisola e um véu opaco, se arrumar a certeza de acordar as mulheres que se amontoavam em seu quarto. A casa ainda em silencio, poucos escravos cruzavam com ela pelos corredores lhe dirigindo pequenas mesuras enquanto iniciavam suas atividades.

Aquele era provavelmente o primeiro momento de tranquilidade que teve desde que chegou a cidade, pensou se dirigindo para a cozinha. O cheiro de lenha queimando e som de massa sendo preparada fizeram seu estomago roncar.

- Comida. – Suspirou de alegria enquanto seus pés faziam o caminho conhecido e sua mente divagava sobre a semana tenebrosa que tivera.

Foi quase arrastada para uma liteira, que por mais que parecesse confortável a fazia se sentir ainda mais infeliz, condenada a uma prisão de seda. Suas companheiras de viagem, três das concubinas mais antigas de seu pai, filhas de Tapista bem nascidas e relacionadas a casas importantes. Filhas e netas de senadores e generais destinadas a gerar em seus ventres os herdeiros da casa dos Augustus, mas que em vez disto amargavam em seus braços mantas vazias.

Sempre amou suas mães que em sua maioria a cobriam de carinhos e mimos, mas neste momento elas a estavam sufocando quando o que mais queria era se concentrar no que deveria fazer.

O veto à companhia de Dressis, uma deferência que em muito agradecia ao pai lhe concedeu certo alivio. Ainda podia ver o sorriso sarcástico e suas palavras falsas quando lhe confiscou as caixas de joias, com a promessa de lhe devolver no dia da assinatura do acordo. Suas mãos coçaram de vontade de esmurrar a vadia, mas ainda não era o momento para estas reações.

Suas mães agiam mais como amas de uma criança pequena do que concubinas do pai. Dormindo amontoadas em seu quarto, preocupadas como se ela pudesse se afogar na própria tina. Estavam arrastando-a por toda a capital, procurando por sedas e cetins, ouro e prata da melhor qualidade. Gastando moedas de ouro como se não representassem nada.

Já haviam encomendado metade das provisões que existiam em todo o grande mercado. Juno tinha certeza que até o retorno a villa elas não deixariam para traz uma única migalha para alimentar a população nos meses que se seguiriam. Tudo era exagerado, opulento e irritante.

Ainda assim ao contrario de todas as provisões que estocava nas dispensas da casa, as mulheres estavam determinadas a mata-la de fome.

"Deve se preocupar com sua silhueta agora.", "Nem um mestre que se presa aceitara uma mulher sem formas graciosas em seu harém.", "Lembre-se das barbaras que ele já possuiu, mesmo sendo selvagens tem de admitir que são bem agradáveis a vista.", " Você não pode ficar abaixo delas.".

Que saudade sentia de Prímula. Era a primeira vez que se separavam em por mais do que algumas horas desde que a pequena trigueira chegou a seus serviços.

Deixar a jovem na villa e pedir a Giovannia para que a preparasse da melhor maneira possível em tão pouco tempo foi a melhor decisão que tinha tomado. Afastar Prímula era protegê-la das consequências de seus atos futuros. Mas tinha de admitir que ela seria muito útil agora, poderia ao menos lhe trazer comida descente em vez da quantidade ínfima que as mulheres de seu pai insistiam que lhe bastava.

Alguns escravos já estavam imersos em trabalhos na cozinha. Massa de pão sendo modelada, frutas frescas sendo arrumadas sobre bandejas e um caldeirão enorme cozinhava em fogo baixo deixando escapar o aroma de guisado de cordeiro com cevada que fez sua boca salivar.

- O que a senhorita deseja aqui, ainda mais tão cedo? –Perguntou uma das velhas cozinheiras sem largas a massa que modelava com maestria entre os dedos roliços.

Corações tauricosOnde histórias criam vida. Descubra agora