Chegou a seu quarto naquela tarde aos prantos, um choro tão dolorido e profundo que parecia vir direto do ponto mais profundo de seu coração. Prímula preocupada tentava verificar ferimentos e machucados, sem entender o que poderia gerar toda aquela enxurrada de lagrimas. Não permitiu que ninguém entrasse, nem mesmo Bará que tentou falar com ela parado por um bom tempo a sua porta.
Não foi a primeira vez que escutou palavras duras de Tiberiuns, mas nunca as havia sentido tanto como daquela vez. Por um curto momento na noite passada, enquanto remexia descaradamente em seu quarto, movida por uma curiosidade incompreensível e tola, ela vislumbrou o Tiberiuns que cresceu com ela por aquela mesma villa, achou realmente que ele ainda podia estar ali, em algum lugar sobre toda aquela aspereza e sisudez grosseira. Mas agora tinha certeza de que não, o havia perdido há muito tempo e isto a fazia se sentir em carne viva, o próprio ar parecia incomodar seus pulmões.
Amaldiçoou seu nascimento, seu gênero e sua condição que a obrigavam a suporta a maldade das pessoas e em especial a dele.
Apenas quando a enxurrada já havia se acalmada e parecia que nenhuma única lagrima ainda existia em seu corpo, ela se ergueu da cama, fria de um modo que nunca se imaginou, esvaziou sua cômoda, suas arcas e baús de tudo o que ele já havia lhe dado, os perfumes, óleos, seda e linho, tudo até suas travessas de cabelo.
- Prímula, quero que tire tudo isto daqui! - Falou enquanto lançava sobre a cama item por item. - Fique com o que desejar, venda troque, atire fogo ou faça panos de chão se preferir, eu não me importo, apenas tire das minhas vistas.
- Senhorita, eu não posso aceitar, são muitos vestidos e tão lindos, não são próprios para uma escrava. – Falou abismada.
- Você tem irmãs? Tem mãe não tem?
- Sim senhorita.
- Então divida entre elas, guarde-os em sua arca, ajuste-os, venda-os se preferir, apenas não suporto mais a ideia de tê-los em contato com a minha pele.
Separou as joias em um saco de pano e amarrou firme, sem saber direito o que faria com elas. Entrega-las a Prímula seria fazer com que a jovem corre-se risco, afinal não era provável a uma escrava comum aparecer com um saco de tão valioso conteúdo, conseguido de modo licito. Devolve-las seria o melhor.
- Existem perfumes fechados aqui senhorita. Olhe este, eu nunca nem mesmo o havia visto. – Disse erguendo o pequeno frasco que ela havia furtado do quarto dele na noite anterior.
- Fique com eles se desejar ou vou quebra-los um a um. – Falou olhando para o vidro de liquido verde que na noite passada não resistiu a trazer com sigo.
- Mas a senhorita... – Falou a jovem com os olhos arregalados. – A senhorita sempre gostou tanto das travessas, não pode se desfazer delas.
Era verdade, sua mãe sempre gostou de penteá-la e enfeitar seus cabelos, mesmo quando treinava na arena seus cabelos sempre estavam bem cuidados e longos, mesmo quando Adriano reclamava e dizia que era uma desvantagem, que seria fácil de usar seu cabelo contra ela em um combate verdadeiro, ela nunca escutou, imaginando que a mãe gostaria de a ver com eles assim. Para Juno era como uma pequena ligação com ela, mesmo depois de tantos anos de sua morte.
Tiberiuns sabia disto e desde o seu primeiro ano na academia sempre que viajava lhe trazia um enfeite ou travessa, mesmo nos piores momentos era um presente certo que a agradaria. Olhando para elas disposta sobre sua cama, lembrando de ter usado cada uma delas em todo o tipo de situação e as guardado com carinho mesmo quando eles gritavam e se insultavam, eram a sua pequena ligação com o antigo ele, que hoje tinha certeza não existia mais.
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Corações tauricos
RomanceArton, um mundo de magos e guerreiros, onde diversas raças convivem entre humanos e a magia e real. Uma jovem presa em uma vida que nunca desejou, sonhando com uma liberdade impossível. Filha única de um importante senador de Tapista (reino dos mino...