Capítulo 53 - Juno

36 2 0
                                    



- Um conjunto de espadas? – Perguntou estreitando os olhos por sobre a nota de cobrança em suas mãos. – Achei que tinha lhe dito para comprar o que desejasse para uma festa. - Diante do silencio da filha ele continuou. - Esclareça por que nos infernos este conjunto de espadas? Qual o motivo de uma senhorita ou melhor pra que uma concubina adquirir armas!? – Disse lançando o papel sobre a mesa.

- É a tradição ofertar um presente ao mestre, como prova de rendição e gratidão por sua proteção. – Disse sem o encarar em momento algum.

- Verdade, entretanto acredito que saiba tanto quanto qualquer outra mulher nascida em Tapista que se dá uma outra sorte de coisas. Adornos ou vestes são bem mais indicados, deveria lhe bordar uma nova túnica, seria um encanto ver algo tão atencioso. – Falou provocativo.

- Não consigo imaginar Tiberiuns se agradando de nada bordado por mim. Nosso símbolo iria parecer mais uma aberração em vermelho e dourada. O senhor sabe que seria um total desastre.

Seu pai não pareceu inclinado a rebater o argumento, mas estava longe de se render.

- Famílias menos abastadas providenciam uma moeda, até um punhado de grãos serviria bem.

- Assim como em outras o novo mestre recebe um chicote. – Disse enfática. - Perdoe por não querer ver outro nas mãos dele depois de tudo.

A menção da arma o incomodou mais do que ela poderia supor. E apesar de ser um presente corriqueiro nesta situação, era mais do que claro a sua ojeriza à ideia.

- Está bem, que sejam as malditas espadas então. Mas se são para seu mestre que sejam para ele de fato e de direito, sem gracinhas. – Acrescentou depois de um segundo, suspirando em rendição. – Partiremos de volta a villa em dois dias, espero que tenha tudo preparado até lá.

- Como desejar senhor senador. – Respondeu fazendo uma reverencia acentuada que estava se tornando um abito birrento, fazendo com que o senador rola-se os olhos irritado.

- Não se repetira. – Disse seu pai antes que ela se reerguesse.

- Fiz tão mal a reverencias? – Perguntou irônica.

- Isso passou longe de ser uma reverencia e sim um insulto. – Falou com descaso para logo em seguida continuar mais sóbrio. - Mesmo que lhe desse o chicote, ele nunca mais o usaria contra você.

- Como pode ter certeza?

- Seu contrato.

- Confia tanto assim no poder se um documento? – Questionou depois que a surpresa desanuviou de seu rosto.

- Sou um senador, sei melhor do que ninguém como leis e palavras podem ser distorcidas ou mesmo atropeladas. Confio sim na honra do homem que escolhi e em seus sentimentos por você. - Depois de um grande suspiro continuou. - Pode fazer da vida dele um tormento e se encontrar com ele em meio a uma infelicidade atroz ou construir uma felicidade juntos, que é o que desejo.

- Nem todos os seus desejos podem ser realizados senhor senador.

- Sei disto melhor do que imagina. – Respondeu de pronto. - Você é teimosa e puxou de mim este traço, assim como seus olhos dourados. Mas creia, sei que não tola. Não se condene... apenas para ferir quem mais se importa com você.

______

- Partir tão cedo?

- Nem tão cedo, minha família chegou ao povoado pouco depois que a senhorita acompanhou o senhor senador a capital.

Corações tauricosOnde histórias criam vida. Descubra agora