Capítulo 39 - Juno

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- Dentre todos os templos familiares que já visitei o desta Villa e o primeiro onde vejo uma estatua feminina entre seus ancestrais, a maioria das casas não tem esta consideração por suas filhas.

Comentou enquanto caminhavam tranquilamente pelo pequeno pomar junto a casa. Pássaros cantavam alegremente enquanto bicavam as frutas mais maduras ainda em seus pés.

- Não é a imagem de uma filha e sim de uma mãe, minha mãe. – Falou orgulhosa. - Meu pai mandou coloca-la lá logo após sua perda. Foram momentos sombrios pra todos nos.

- Imagino que sim. Perdoe se minha curiosidade foi indelicada.

- Não há motivo para que se desculpe. Não foi o primeiro a perceber a estatua e duvido que seja o ultimo. – Respondeu com sinceridade. – Meu pai foi muito criticado pela atitude. Meu tio Horátio achou uma verdadeira afronta a memória de nossos ancestrais.

Olhando sobre seus ombros em alguns momentos, não via sinal de Tiberiuns em parte alguma. Apenas uns poucos trabalhadores passavam por perto, cuidando dos canteiros de verduras e ervas, colhendo figos, pêssegos e amoras para a próxima refeição.

- Como disse a maioria das casas não tem esta mesma consideração. O senhor senador devia ter muito apreso por ela. – Falou com seus olhos esverdeados se estreitando brevemente. - Uma mulher singular sem duvida. A que família pertencia antes de vir a seu pai?

- Ela não pertencia a nem uma casa de Tapista.

- Uma Barbara?! – Perguntou brincalhão. – Curioso, a casa dos Augustos sempre preferiram manter sua linhagem nascida de filhas de Tapista.

- É verdade. Meu avô não concordava que mulheres estrangeiras figurassem em haréns, acreditava que não teriam filhos tão fortes como as que filhas de minotauros seriam capazes de gerar. Para ele elas era apenas uma distração. – Acrescentou como um gosto de tristeza na boca, ao se lembrar de sua amada Apolônia. - Diversões para momentos de tédio imaginam.

- Muitas grandes casas tem este pensamento, apesar de até mesmo nos haréns de princips o sangue estrangeiro já se mostrou bem apreciado. – Falou com o bom humor que parecia lhe ser tão peculiar. - Me pergunto como poderia haver esta distinção, visto que não temos fêmeas em nossa própria espécie, então de onde vieram nossas primeiras mães se não entre as bárbaras. Não há motivos para que sejam menos valiosas do que o nossas filhas. Fale-me um pouco de sua mãe, me deixou curioso.

- Nasceu na região de Collen e como todos de lá tinha olhos divergentes. Era clériga de Lena e pelo que sei acabou chegando a Tapista com um pequeno grupo de aventureiros em algum tipo de missão. Entraram em combate com um destacamento e minha mãe foi a única que sobreviveu... Foi lançada ao mercado de escravos e foi lá que meu pai a conheceu. – Era impossível não se sentir nostálgico com a historia. – Ele disse que havia ido comprar uma dançarina élfica, que os comerciantes haviam alardeado como uma princesa de Lenorien, mas quando a viu mesmo suja e machucada não pode resistir a sua graça.

- Isto a torna ainda mais fascinante e ainda mais relevante a ação do senador. Gostaria de ter conhecido-a.

- Tenho certeza de que se encantaria com sua delicadeza e sua doçura. – Disse relembrando as poucas lembranças da mãe. – Tinha um lindo sorriso e uma beleza sem iguais.

- Imagino, a senhorita deve ter herdado muito dela pois também é uma joia sem igual.

- Obrigada mas não sou nada como ela, doce e cordata. Me surpreende que o senhor ainda me chame para estes pequenos passeios. – Alfinetou passando por arbustos cheios de amoras. – Não costumo ser um encanto a meus visitantes.

Corações tauricosOnde histórias criam vida. Descubra agora