- Estupida! – Disse entrando pela porta como um furacão, assustando as duas senhoras que bordavam entretidas em poltronas próximas à janela.
- Filha, o que aconteceu? – Perguntou uma delas se erguendo para encontrar a jovem.
- Nada! – Disse se esquivando da senhora.
- Como nada? Chega aqui deste modo e não foi nada? – Inqueriu a outra senhora incrédula.
- Já disse que não foi nada.
- Filha...
- Quero ficar sozinha. – Interrompeu as questões antes que estas se formassem. - Meu pai deve retornar em pouco tempo será melhor que o aguardem em seus aposentos. – Falou dando as costas para ambas.
Sabia o quanto estava sendo grosseira, mimada e ingrata com algumas das mulheres que mais haviam partilhado sua vida até ali. Podia perceber o quanto as estava ferindo, mas naquele momento tudo o que conseguia pensar era em ficar sozinha, longe dos olhares alheios por mais amados que estes fossem.
Depois de um instante as duas saíram silenciosas e preocupadas.
Apenas depois da porta fechada se permitiu extravasar os sentimentos que giravam dentro dela como um tornado desenfreado.
Ela desenrolou o véu de seu corpo com agonia, quase o rasgando no processo, assim como seus adornos de cabelo que foram lançando-os ao chão impaciente pouco se preocupando com a dor em seus cabelos sendo puxados de qualquer forma.
Precisava se por livre daquela fantasia de boa senhorita antes que esta a devorasse de dentro pra fora.
Retirando os anéis, quebrando o feixe do colar, arremessou os pesados braceletes com força contra a parede. Tudo parecia queimar em contato com sua pele, como que fossem os grilões que tanto temia.
O quase frenesi só encontrou o fim depois de se ver livre de tudo aquilo e sua respiração descompassada começava a se acalmar.
- Eu tenho de me manter firme. – Sussurrou para si mesmo. – Falta pouco, muito pouco. – Disse encarando o próprio reflexo desalinhado refletido no espelho.
Os cabelos em emaranhados, a pintura borrada, arranhões pelo colo e braços. Parecia ter saído de uma briga há poucos instantes. O que não era de todo errado.
Só depois percebeu a pequena trinca na borda do espelho assim como na boca do vaso de azul repleto de flores que enfeitava a parede ao lado da penteadeira.
Alguns dos anéis ou braceletes devem ter batido quando os jogou de qualquer modo para longe de seu corpo.
Havia muito tempo que não se dava conta daquele vaso especialmente, refletiu correndo os dedos pela borda da porcelana quebrada.
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Sete anos atrás.
Fazia quase meio ano que não se viam e quando o pai recebeu uma carta o chamando ao senado. Ela implorou para que ele permitisse que o acompanhasse, mas nada nem seus gritos e esperneios resultaram em sua vontade cumprida.
O pai se recusou em lhe trazer em uma viagem curta de poucos dias, a seus olhos a troco de nada. Ela teve de aproveitar um descuido dos escravos e escondeu-se na carroça de carga. Ficou tão quietinha, encolhida entre sacas de farinha e baús de pertences do pai que quase chegou a capital sem ser percebida. Quase.
Seu estomago roncava de fome, sentia caibra nas pernas e ainda assim se manteve imóvel até que um mensageiro da vila os alcançar. Suas mães aparentemente perceberam sua falta antes do que ela imaginava e mandaram uma mensagem desesperada que a forçou a se mostrar antes que o pai desse meia volta na caravana.
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Corações tauricos
RomanceArton, um mundo de magos e guerreiros, onde diversas raças convivem entre humanos e a magia e real. Uma jovem presa em uma vida que nunca desejou, sonhando com uma liberdade impossível. Filha única de um importante senador de Tapista (reino dos mino...