Capítulo 40 - Tiberiuns

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Seu tio certamente o estava cozinhando em banho-maria. Mesmo com tudo o que ofereceu ele ainda pediu um tempo para pensar.

O que havia de ser pensado em nome de Tauron?! Ele havia abdicado de tudo por ela. Seus ancestrais deveriam estar se revirando nas tumbas vergonhados de sua loucura, da loucura que invadia sua mente sempre que a via. Como gostaria de sentir o menor arrependimento de suas palavras, mas pela primeira vez em tempos tinha a certeza que agira corretamente.

O dia havia transcorrido em meio à papelada que um mensageiro trouxe de suas terras, relatórios sobre o andamento de plantações, escravos problemáticos e trabalhadores livres em debandada.

Mesmo pagando salários bem acima do normal era um verdadeiro enigma à sua mente o ir e vir daquele povo que às vezes pareci mais inclinado a mendigar pelas praças do que trabalhar na lavora.

Seus olhos já começavam a incomodar, ainda assim agradecia a distração que o fez se concentrar em outra coisa além de um par de olhos dourados que sempre o assombravam.

O exercito sempre fora sua principal atividade e agora com suas terras, ganhas em premiação por missões em nome de Tapista, se deparou com a dificuldade em lidar com bons servos. Volta e meia se via cercado em problemas que iam de pragas a roubos. Nunca imaginou que seu pai ou mesmo seu tio lidavam com tantos de sabores na lida em suas posições de senhores de terras.

- Senhor? Deseja que mande trazer uma bandeja aos seus aposentos? - Perguntou seu escravo quando o entardecer já se iniciava no horizonte.

- Não Criscos, obrigado. Irei ter com os meus. – Disse esfregando o rosto enfadado.

- Pois não senhor.

- Criscos nunca lhe perguntei como meu pai o comprou. - Comentou guardando os papeis em uma pasta de couro e o entregando ao humano sempre austero e sisudo. – Não me pareceu o tipo de homem que se deixa enredar em dividas ou pratica delitos. Nem tão pouco é nascido escravo pelo que já me disse. O que troce estas correntes até você?

Um silêncio incomodo pairou no ar por alguns instantes, antes do servo resolver falar algo de si.

- Minha mãe e uma filha de Tapista senhor, que por algum motivo que não sou capaz de compreender, escolheu como companheiro um humano tolo e fraco, que logo se sentiu "oprimido" pelo peso de uma família e despareceu no mundo, mas não sem antes nos lançar em um mercado imundo. Meu avô generosamente nos resgatou a muito custo e fomos abrigados em uma pequena faixa de terra onde sobreviviamos. – Engolindo em seco, como se as lembranças lhe provoca-se incomodo, antes de continuar a falar com a mesma tranquilidade que sempre demonstrava ao anunciar um visitante ou o tipo de carne que trazia em sua bandeja. - Os outros filhos de meu avô haviam seguido o exercito como era comum em nossa casa, mas não tiveram vidas longas. Então éramos apenas nos. Levávamos a vida como lavradores, arando a terra de sol a sol e vivendo quase que inteiramente do que ela nos dava, até que veio a seca e a fome.

Sua voz já não parecia tão inabalada, tremulando ante as memórias dolorosas de um período que deveria ter sido de infinita angustia. Depois de uma pausa tão longa que Tiberiuns se perguntou se ele voltaria a falar ele continuou.

- Meu avó já não possuía saúde e minhas opções eram bem resumidas, vendia uma de minhas quatro irmãs e a colocava em risco em um mercado de escravos ou vendia a mim mesmo e tentava conseguir o bem estar deles.

- Vendeu a si mesmo? – Perguntou surpreso.

- Não é tão incomum quanto o senhor imagina. - Disse como se o ato fosse nada. - Muitos pais já tomaram esta atitude para garantira a vida de seus filhos.

Corações tauricosOnde histórias criam vida. Descubra agora