Tiberiuns havia dispensado suas concubinas naquela noite, apesar de suas meninas haverem insistido em passar a noite com o mestre, como era de costume, ele as mandou de volta aos quartos do harém no segundo andar da vila, atribuindo a recusa ao cansaço da viagem desgaste, a desculpa pouco as convenceu, mas ainda assim o deixaram sozinho.
Kandra, sua concubina mais antiga, lhe dirigindo um olhar interrogativo e preocupado, de quem o conhecia muito bem.
Em um gesto ele a dispensou, fazendo uma leve reverencia ela se retirou do quarto, fechando as portas atrás de si.
Estavam no período mais quente do ano e as janelas eram mantidas abertas a maior parte do tempo em busca da ventilação que ajudava a suportar o clima.
A noite abafada dificultava a conciliação do sono, assim como as palavras de seu tio, que rodearam sua mente ate quase o amanhecer.
Escutou o choro de Juno vindo pelo corredor, durante uma boa parte da noite, sem atrever-se a fazer nada, com receio de piorar ainda mais a situação.
Fechou os olhos e lembrou com saudades de um tempo em que a relação dos dois era tão próxima que podia consola-la sem restrições.
Dezesseis anos antes
- Mamãe! Quero a minha mamãezinha! - Chorava aos gritos a menininha de cabelos negros desgrenhados e grandes olhos amarelos, repelindo qualquer pessoa que se aproxima.
Aos quatro anos, ela conseguia fugir com facilidade de uma dúzia de escravos e servos que corriam tentando alcança-la, não entender bem o que acontecia ao seu redor, apenas não queria que niquem chega-se perto, tudo o que ela queria eram seus pais.
Tentava chamar os dois aos berros, mas eles não apareciam por mais que grita-se.
- Ela já esta sem comer desde ontem – Comentou uma das servas preocupada.
- Não esta deixado niquem se aproximar, assim vai acabar adoecendo ou que Lena não permita, coisa pior! - Falou outra, correndo atrás da menininha, com preocupação clara na voz.
A casa estava um verdadeiro caos, desde que a senhora Taiala havia entrado em trabalho de parto, este caos havia apenas piorado no decorrer do dia, ate que acabou ao cair da noite, da pior forma possível.
Ela fora a única concubina de seu tio, a conseguir trazer vida a este mundo, primeiro Juno e agora o pequeno minotauro que agonizava no quarto, após a perda da mãe. Seus pequenos pulmões não conseguia respirar direito e segundo as conversas das parteiras e servos, não passaria desta noite.
Tiberiuns não via o tio desde o dia anterior e agora ele estava trancado no quarto com o corpo de sua preferida e a criança, servos e sacerdotes disseram que ele estava desolado, como nunca se imaginou.
Embalando o filho recém-nascido, acalentando em seus fortes braços o varão tão desejado, enquanto sentia a vida se esvair do pequeno corpo.
Esta casa já havia visto sua cota de mortes, abortos e natimortos, mas de alguma forma, todos esperavam que esta maldição não tocasse a doce senhora Taiala.
Como clerica de Lena, parecia que sua deusa a protegia, assim como a seus filhos, a julgar pela menininha de cabelos negros, corajosa e saudável que corria pela casa, fugindo dos criados.
- Juno, esta tudo bem, não precisa chorar - Falou finalmente saindo do lado do irmão mais novo que observava tudo com olhar arregalados e a expressão de quem não entendia bem o que acontecia, já cansado de ver uma garota de quatro anos, escapulindo de humanos tontos, o garoto minotauro de pelos negros, com uma voz tão tranquila e gentil quanto possível, se aproximando.
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Corações tauricos
RomanceArton, um mundo de magos e guerreiros, onde diversas raças convivem entre humanos e a magia e real. Uma jovem presa em uma vida que nunca desejou, sonhando com uma liberdade impossível. Filha única de um importante senador de Tapista (reino dos mino...