Capítulo 22 - Juno (alterado)

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- Alguma novidade? – Perguntou Juno baixando o infeliz bordado, repleto de linhas tortas, frouxas ou demasiadamente apertadas ao qual Dresis insistia que ela praticasse.

- Não senhorita, parece que a senhora Elisa esta bem, o seu senhor Kaius permanece com ela no quarto.

- E meu pai?

- Recolheu-se agora a pouco, a senhora Giovania parece ter conseguido persuadir o senhor senador a sair de seu escritório.

- É bom saber disto. – Falou um pouco mais tranquila, imaginou que o mal estar de Elisa havia trazido ao pai lembranças dolorosas. Em uma casa repleta de mulheres, Giovania parece ter sido a única a conseguir que ele se permitisse cuidar.

Prímula a ajudou a tirar o vestido e a soltar seus cabelos, o dia quente e a noite abafada com nuvens escuras no céu prenunciavam uma chuva bem vinda.

Enquanto tinha suas costas esfregadas e escutava o alegre tagarelar de sua dama, se pegou olhando para a gaveta de sua penteadeira.

- Prímula, onde estão as mulheres de Tiberiuns? Já que ele foi a capital elas ficaram em seu quarto ou ainda estão no harém?

- Estão no segundo andar senhorita, não seria de bom tom que elas ficassem no quarto do mestre sem ele. 

- Entendo, mas com o tipo de mulher que ele parece ter, o que é de bom tom nem sempre é levado em consideração. – Descansando a cabeça na borda metálica da tinha, deixou-se relaxar sob a água fresca que lhe tocava a pele.

- Ainda assim, preferiram ficar no segundo andar. – Respondeu com um risinho antes de continuar. - Uma das parteiras parece ter conversado com uma delas, a que o acompanhou até Tiberus.

- O que ela queria com uma parteira? – Perguntou desconfiada.

- Não sei disser senhorita, algumas das mulheres da cozinha dizem que ela deve estar carregando um filho, afinal que outro assunto poderia ter.

- Um filho...

- Ele já tem harém há certo tempo, na verdade é estranho que já não tenha um ou dois filhos a esta altura. Algumas pessoas começavam a cogitar... – Parando de falar abruptamente.

- A cogitar... o que? – Perguntou Juno, já se enxugando.

- A cogitar se ele teria algum tipo de problema... para gerar um filho. – Sussurrou estendendo uma toalha de linho a mestra, sabendo que suas palavras não deveriam ser ditas.

- Como meu pai. – Respondeu sem titubear. – Não se preocupe Prímula, você não me disse nada que já não tenha escutado antes, as pessoas podem ser bem cruéis ainda mais quando julgam que uma garota é jovem ou tola demais para perceber suas maldades. – Já se erguendo da tina.

- Eu sinto senhorita. – Respondeu segurando uma pesada escova de prata, profundamente envergonhada. – Não era minha intenção ser tão indelicada ou indiscreta.

Com um gesto de cabeça Juno a chamou a pentear seus cabelos e enquanto sentia a escova passando em seus fios groso e negros, sua mente fluiu.

Por mais que se desentendesse ela nunca desejaria ao primo o mesmo tipo de frustação que acompanhou seu pai por toda a vida. Sempre cercado de comentários viperinos e acintosos, mesmo sendo um dos senadores mais impolutos e um dos maiores generais que Tapista já teve coberto de toda sorte de honras e comendas, parecia que sempre eram alvos de olhares cruéis, sussurros desleais, como se mesmo com tudo o que ele já fez por sua amada pátria não representasse nada se ele não tivesse um filho seu, seria como ser um amaldiçoado entre seus pares.

Ela não contou às vezes que rezou a Tauron implorando que fosse transformada num de seus minotauros, sonhando em livrar seu pai do mal estar que a condição de ter tido uma única filha provocava. Ele sempre desejara um filho e com todas as forças ela queria ser este sonho realizado.

Corações tauricosOnde histórias criam vida. Descubra agora