Monster

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"Mas e se eu, e se eu tropeçar?
E se eu, e se eu cair?
Então eu serei o monstro?
Apenas me avise."

- Monster, Shawn Mendes.

[Capítulo 48: Monstro.]

YummengJiang, horas antes da morte do penúltimo Líder de GusuLan.

O casal já conhecia bem aquele quarto, afinal, sempre permaneciam ali e foi ali que fizeram as pazes. Um subto momento de fragilidade de ambos os egos resultante na fagulha que os unia assim como seus laços divinos. No entanto, aquele cômodo tão querido parecia estranhamente frio, sem cor, sem vida.

Particularmente falando, o Lan por adoção gostava da vista daquela janela. Podia ver o lago que rodava a residência principal de Yummeng e ver a lua refletida sobre as águas quietas junto ao, sempre bem-vindo, silêncio da noite. Um grande espelho natural refletindo a visão de muitas constelações e um grande mar de azul escuro. Amava o céu como amava borboletas e ele amava muito borboletas.

- Não vem deitar? - O Jin perguntou, estava a alguns bons minutos deitado naquela cama de casal, admirando a face serena que não via a um tempo pairando sobre o rosto do então noivo. - Já se passou das 9, Líder Lan.

- Eu sempre me esqueço como o Píer Lótus é bonito. Deve ter sido bom crescer aqui. - Yuan ignorou a fala alheia, queria apenas mais um segundo para o que quer quê fosse acontecer.

- Por que estamos tão longe, A-Yuan? - O Jin deixou a máscara cair. Estava preocupado, não fazia sentido. - Eu amo você e você me ama, então o que há? - Shizhui o olhou, sorrindo meigo e compreensivo.

- As vezes existem variáveis, Jin Ling. Sabe, amar é algo complexo demais. As vezes não é suficiente. - Os olhos cinzas voltaram a fitar além da janela, sorrindo ao ver os vagalumes pairando sobre o lago e sobre as lótus. - Rotina, confiança, amizade, orgulho, mil e uma razões que interferem em um relacionamento. Não é por ser amor verdadeiro que será eterno. - Ele permitiu que os olhos se tornassem baixos e pesarosos, sentindo o peito doer lentamente na medida em que seu mal presságio aumentava. Por fim, sorriu triste e derrotado.

Aquela seria sua última noite e entendia isso. Sabia não ser o fim, talvez apenas mais um novo e estranho começo.

- Sabe, A-Ling. Lembro de você na primeira vez que te vi. - O Lan passou a divagar com carinho, vendo o quase marido com uma feição cheia de culpa. - Devia ter pouco mais de dois anos, estava nos braços de JiuJiu. Com uma carinha adorável de quem queria brincar. - Shizhui soltou uma risadinha fofa ao lembrar do bebê gordinho e escandaloso. - Eu me lembro de ter recebido minha fita pouco tempo antes e você quis pegá-la de todas as formas. Mesmo que eu, A-Die, Cheng JiuJiu e Xichen JiuJiu dissesemos que você não podia, mesmo assim você queria. - Ambos se olharam e sorriram compartilhando da mesma boa sensação. - Eu estava triste na época, porque percebi que A-Niang talvez não voltasse como tinha prometido. Passei uns bons meses cabisbaixo e grudado em Huanguang-Jun, com medo dele me deixar também. Aquela foi a primeira vez desde que tinha sido adotado e apresentando como herdeiro que sorri de verdade. Sorri pra sua fofura e pelos teus passinhos desordenados.

- Não me lembro disso. - RuLan disse um tanto envergonhado, mas não demorou em ter um sorriso nostálgico. - Mas lembro de te encontrar aos dez anos. O filho de Huanguang-Jun, o diamante bruto de GusuLan. - O Jin se levantou do acolchoado e rumou a sentar junto ao outro na pequena sacada. - O discípulo mais gentil e o mais talentoso em guqin. O que era o irmão mais velho de todo mundo. - Abraçou o outro por trás, pousando a cabeça na curvatura de seu pescoço. - Sempre te achei lindo, o tipo de beleza diferente das Jades. Cheguei a pensar que realmente fosse filho de Lan WangJi, vocês se parecem. - Um selar foi depositado no ombro alheio, assim como um carinho doce. - Me perdoe, meu marido.

- A-Ling. - O Jin estranhou o tom de voz, estava baixa e chorosa. Sentiu o peito apertar, quase a doer. - Eu não passo desta noite, meu amor.

- Você o quê?! Do que diabos esta falando, Yuan?! - O mais novo se exaltou, levantando e puxando o Lan junto. Ambos choravam, mas enquanto RuLan estava aos prantos e em desespero, Shizhui deixava finas lágrimas caírem, junto a um sorriso pequeno e culpado. Por alguns segundos o Jin sentiu raiva, até assim seu marido era belo.

- Eu não passo de hoje, mas saiba que não importa em que vida estejamos, eu sempre vou te achar. Me entendeu? - As testas se uniram, mas Yuan distribuía selares pelo rosto do mais novo, até parar nos lábios vermelhos. - Meu corpo, meu coração e minha alma pertencem a ti, Jin RuLan. - O Lan uniu as bocas e talvez aquele tenha sido o melhor e mais doloroso beijo que os líderes já trocaram. Um ósculo tão intenso que lhes roubava o ar e desnorteava o coração.

De subto, ouviram um grito alto e agonizado. Os olhos do Lan se tornaram de um esmeralda beirando o neon. A hora havia chegado.

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