Can you hear me, A-Yuan?

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"Pode me ouvir? Ouvir meu coração
quebrar enquanto choro por
perder você?"

- A (im)perfeita realidade, Codinome: Lara Grace

[Capítulo 64: Você pode me ouvir, A-Yuan?]

LanlingJin, exatamente um ano após a morte de Quiangda-Jun.

Quando era apenas um adolescente mimado e mal criado, RuLan ouvia JingYi falando sobre as cartas que a Segunda Jade escrevia todos os anos. Uma carta para um ser sem rosto e que ninguém sabia quem era, ninguém a não ser Lan Shizhui.

Certa vez, quando questionou o Diamante Bruto de Gusu sobre tais manuscritos o rosto do Lan - com pouco mais de 13 anos - se abateu levemente, ele suspirou pesado e olhou para a grama como se fosse a coisa mais importante do mundo. O olhar gentil que fazia qualquer um ficar aos pés dele, estava opaco e levemente sem vida.

– Não posso falar sobre isso, Jin Ling. – Yuan tinha os olhos desfocados e com uma leve cortina de lágrimas. Naquele momento, RuLan jurou a si mesmo que jamais questionaria aquilo novamente. Se aquele assunto deixava o mais velho triste, não deveria ser pautado. Shizhui era precioso demais para sofrer.

No entanto, de dependesse do Jin aquelas palavras jamais sairiam de sua boca.

Mais tarde, pouco tempo antes de Wei Wuxian reencarnar, em uma reunião em GusuLan. Enquanto Sandu ShengShou, Zewu-Jun e Lan Qiren conversam os junior se reuniam para treinar e conversar. Eram um dos poucos adolescentes entre as grandes Seitas afinal.

JingYi corria com Fada, brincando e usando o pingente de sua espada para tal. Mais afastados, o mais novo e o mais velho estavam apenas sentados na grama. Shizhui dedilhava sua guqin em notas soltas, mas com uma melodia doce. RuLan apenas se permitia ver a aura de gentileza que o Lan tinha. A verdade era que o filho de Huanguang-Jun era um símbolo de gentileza que o dourado achava que combinaria com sua própria mãe.

Sempre que ouvia falar de como a princesa do Píer Lótus era gentil, bela e forte. E para si, um menino que normalmente não ligava para nada, Lan Shizhui era exatamente assim.

A música subitamente parou e o mais velho olhou fixamente para dentro dos portões de sua Seita. Ali, passando por entre as pelugens fofas de vários coelhos estava Lan WangJi, com sua 15° carta. Quando o dourado vislumbrou a Jade, percebeu que assim como nos outros anos ele parecia mais frio que o normal.

Como se sentisse o olhar de ambos os adolescentes, Lan Zhan os encarou. O olhar de ouro líquido não estava realmente focado, mas foi suficiente para RuLan fingir que não fazia nada. Diferente de Yuan, que continuou a encarar o pai. O cinza encontrou o dourado e Shizhui sorriu pequeno para o pai, quase o confortando.

RuLan pode ver, que lá no fundo da alma gélida da Segunda Jade, uma chama de carinho queimava pelo filho. O Jin havia entendido. Lan WangJi estava quebrado e a única coisa que o mantinha de pé era o filho.

– A-Niang. – O obrigando a sair de seu estupor, a voz do Lan mais velho saiu baixinho e até um pouco carregada. Yuan deixou de olhar o pai e apenas focou o olhar em seu instrumento, tocando a madeira apenas para se distrair.

– O que? – Jin Ling questionou desnorteado. O Lan levantou o olhar e o fixou em si, com um sorriso tão triste que o próprio Jin sentiu vontade de o ter em um abraço.

Huanguang-Jun escreve cartas para A-Niang. – A mesma cortina de lágrimas que vira anos atrás pairava novamente nos olhos cinzas e com filetes em azul. – O amor da vida do meu pai morreu quando eu era pequeno. A cada ano, ele escreve uma carta para sua pessoa especial esperando que quando ela voltar as leia e fique a par de tudo. Sobre mim, sobre ele, sobre o que não pode ver.

– A quanto tempo ele faz isso? – Viu o de branco suspirar e tocar as pontas de sua fita de testa em sinal de ansiedade.

– Quinze anos. O mestre Qiren já comentou como isso é algo péssimo, mas com todo respeito, ele não entende. – A expressão aérea deu lugar a uma mais dura. – Quando A-Niang morreu, uma parte de Huanguang-Jun morreu junto. Ele acha que não sei mas, o motivo de ter me adotado foi porque sou a última lembrança viva de A-Niang. – O Lan sorriu triste e sem humor. – Zewu-Jun sempre me diz que pareço com ela, a pessoa. Principalmente os olhos e o cabelo. Represento o passado, o presente e o possível futuro.

– Lembra dela? – Ling lhe questionou. Entendia como Yuan se sentia. Na verdade, os três se entendiam por terem se tornado órfãos muito cedo. Eram amigos justamente porque puderam apoiar um ao outro.

– Não muito, apenas a risada. – Shizhui deu uma risadinha gostosa aos ouvidos do Jin, o olhando com um pequeno brilhar de olhos que, agora estavam azuis graças a luz do sol. – E borboletas.

A noite em LanlingJin era fria e sem vida. A Torre da Carpa se assemelhava a uma assombrada torre, pelo menos no corredor dos aposentos do líder dourado. Depois que o noivo morrerá RuLan se tornou amargo nos primeiros meses.

Lan Yuan era a razão de todo o brilho no mundo de Jin Ling. O homem gentil e de coração puro era tudo aquilo de bom que ele se tornará. Shizhui o tornou uma pessoa melhor, o fez ver o mundo com seus olhos. Com os gentis olhos esmaltados em cinza e azul.

Durante os cincos primeiros meses, ele não saiu do quarto, mal comia e se mexia. Seus dias se resumia em deitar sobre a cama em que dividia com o ex-noivo e sonhar com a vida que teriam. Por vezes achou que estava sendo acordado pelas mãos delicadas lhe afagando os cabelos, ou com o som dele cantarolando enquanto se banhava na tina do quarto. No entanto, ele sabia que não podia ficar daquele jeito.

Yuan jamais se perdoaria se soubesse que o homem que amava estava naquele estado.

Por isso, o Jin tentava se reerguer. Mas não era como antes. O seu Lan lhe vinha a mente a casa segundo de cada hora. Porém as noites eram mais difíceis. Eram frias sem as mãos do Lan lhe acariciando o peito quando ele deitava sobre si, sem o calor do corpo alheio e sem a voz doce lhe contando sobre algum sonho que tivera mas lembrava apenas a metade.

– Eu sei que irá demorar, coelhinho. Sei que não te verei tão cedo, mas eu vou esperar. Vou esperar por toda a eternidade por você, Yuan. – O rosto vermelho pelas lágrimas grossas se permitiu sorrir e encarar um local vazio do grande quarto escuro. – Quando isso acontecer, vai enfim se tornar um Jin. Jin Yuan, o meu marido. Espero que aí em Cattleya possa me ouvir, coelhinho. Porque não irá se livrar de mim. – O Líder Jin caiu desolado e de joelhos sobre o carpete amarelo. As mãos foram ao rosto e se permitiu chorar como fazia a tempos, soluçando alto e sentindo a cabeça doer pelo choro.

O grito de dor de Ling fora abafado pelo travesseiro, sua alma quebrada e desolada se mantinha lhe causando dor e fadiga. Sua marca outrora viva e bela, era nada mais do que uma simples queimadura negra que crescia por seu braço, evidenciando que o amor de sua vida não estava mais ali e parte de sua alma também não.

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