Tears

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"Eu sou um anjo
Que tem asas de papel
Eu sou um anjo
Mas não conheci o céu
Por trás do manto
Continuo a transbordar
As lágrimas que a chuva
Não te permite enxergar."

- Felícia Rock, Anjo de Papel.

[Capítulo 52: Lágrimas.]

Era bem incomum sair naquele horário ainda mais quando sua irmã tinha finalmente chego em casa, mas, Wen Ning fazia muitas coisas incomuns, estranhas e em forma de ato falho. Porém, nos últimos dias tinha ganho muitos devaneios e ações sem realmente notar que as fez, como por exemplo: Todos os dias as 14 horas em ponto o Wen andava até o parque nos arredores do centro e apenas ficava ali, chegando a um ponto em que já pulou a janela para ir e nem sequer percebeu que o fez. O mais estranho é que ao mesmo tempo que almeja seu destino, seu corpo e coração o sinalizam de perigo, sentia surtos de adrenalina frequentes como se precisa correr por sua vida a qualquer segundo.

- Ning? - Sarah lhe questionou preocupada. A mulher era alta e beirava os cinquenta assim como sua esposa, a legista Sarah Campbell tinha a pele preta e lindos olhos castanhos claros, talvez o mais chamativo fosse o cabelo crespo perfeitamente cuidado e tão negro quanto o céu escuro nas noites dos frios de inverno em Edimburgo - Esta tudo bem? Você tá olhando o nada a quase dez minutos.

- Ah, eu... Sim. Apenas me distrai. - O homem disse ao notar que estavam no tão conhecido parque, sentados em um banco de madeira ao lado de um carvalho já antigo e com alguns galhos podres. O parque era iluminado pelos postes que revelavam famílias caminhando de forma tranquila enquanto conversavam entre si, andando por aí ainda se podia ver os carrinhos de comida dando voltas pelo lugar. Honestamente Wen, o que ainda fazia indo ali? Se tinha medo então porque ia direto a ele? Eras o que? Burro? - Melhor irmos pra casa. Vai dormir lá em casa? Tem uns dias que não vê tua família. - O Wen disse se levantando e olhando em volta. Talvez tomasse um sorvete, a noite realmente estava quente e sem muitos ventos.

- Estou sendo expulsa? - A mulher disse brincando mas ao ver o rosto de espanto do homem ela riu e tratou de acalma-lo avisando que é apenas brincadeira. - Sinceramente, eu não sei. Não quero te deixar só, mesmo que teu pai saiba usar uma arma... e tenha uma. - Ambos riram e passaram a andar pelo belo local.

- Rapidinho, quero um sorvete. Quer um? - Ele disse gentil e a mulher já voltou a se sentar e assentir que sim.

- Um de menta, obrigada. Eu te vejo daqui, qualquer coisa grita que eu já chego na arma. - Ela disse e ambos riram, mesmo que com a falta de parafusos daquela mulher a frase tivesse um grande fundo de verdade.

Ning andou por entre as poucas pessoas ali até chegar perto de um senhor e um tipo de lanchonete acoplada em um caminhão. O velhinho lhe sorriu gentil e se pôs a questionar qual seria seu pedido, talvez com mais gentileza ainda o jovem médico lhe respondeu ao fazer seus pedidos. Enquanto esperava os sorvetes artesanais Wen Ning olhava em volta sentindo sua adrenalina dar picos novamente. Seu coração acelerou e sua boca se tornou escassa em umidade.

Seus olhos pararam em um homem de fios pretos e presos perfeitamente em um rabo de cavalo baixo, extremamente bem vestido mas com roupas longas demais pra uma noite de primavera. Estava sentado à alguns bancos de distância e lhe olhava fixa e pesarosamente, a luz vinda do poste ao seu lado iluminava os traços do que deveriam ser tatuagens em suas mãos e por breves segundos, o Wen achou ver o homem ganhar uma tatuagem de escorpião instantânea em seu pescoço. Um negro e torto escorpião. Fora impossível de controlar, seus olhos encheram de lágrimas mais rápido do que pode controlar, o medo rapidamente se transformou em pavor e tudo o que queria era saber se Sarah estava muito longe para que pudesse correr até a mulher e se sentir minimamente protegido, como se saindo de um transe o velho sorveteiro trouxe o jovem de volta a realidade, lhe entregando os sorvetes e perguntando se ele estava bem pois começou a tremer de forma anormal.

Ao se afastar o jovem ainda olhou para trás com um medo real daquele homem que mesmo bonito lhe despertou um medo digno de uma criança ao sonhar com os monstros que supostamente viviam em baixo de sua cama, apenas esperando um descuido para levá-lo consigo e lhe roubar daqueles que devem proteger-lhe. Apavorantemente, não havia nada ali. Nem sequer a sombra ou sinal do homem.

Os músculos tensos ganharam descanso e o coração errático ganhavam um freio de forma lenta. Ning sentiu seu medo se esvaindo e sua típica calmaria invadindo seu ser como estava acostumado. Com uma última mexida de cabeça para lhe garantir que tudo aquilo fora apenas sua mente cansada o homem refez seu caminho até Sarah com um sorriso calmo.

No fim da trilha de carvalhos, longe dos outros e segurando seu pescoço enquanto sentia sua nova marca aparecer, Huaisang chorava sentindo o peito afundar de forma violenta ao ver seu amor se afastando de si depois de ter sentindo tanto medo de si. O Nie via claramente a sombra de medo, pavor e dor banhados nos lindos olhos pretos que otroram eram tão brilhantes ao ponto de fazer o próprio sol ter inveja. A alma de Wen Ning o abominava, mesmo que seu coração ainda se sentisse unido a si. Mesmo depois de anos esperando que seu amor reencarnasse e tendo consciência de que sua maldição não seria fácil rompimento, nada lhe preparou para tamanha dor e falta de acalento.

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