Circus Game

Me decepcionando aos poucos

"Esta noite está fria no reino

Eu posso sentir você desaparecer

Da cozinha para a pia do banheiro e
Seus passos me mantêm acordado."

- Let Me Down Slowly, Alec Benjamin.

Faltava poucos segundos para as cinco e meia da manhã, já se podia ver minimamente os primeiros raios da aurora e os postes de luz começavam a se apagar. Entre as poucas pessoas que andavam na rua, seja voltando para o conforto de seus lares depois de uma noite trabalhosa, ou até mesmo iniciando o dia de trabalho, uma figura masculina com roupas sociais andava pomposamente, nunca realmente levantando suspeitas. O homem com nada mais que 28 anos segurava uma maleta preta com seus "materiais". A rua em questão era a secundária do centro, onde as jades de GusuLan residiam, mas o homem não estava ali por eles, estava ali por Jiang Cheng. Sinceramente? Ele achava ridículo perder seu tempo com Sandu ShegShou, nem sequer chegou a conhecer o homem, mas ele teria de ser o primeiro a morrer. Teria de seguir a mesma ordem da primeira vida.

Iria induzir Sandu ShegShou a um desvio de Qi, deixaria ele agonizando durante o sono. Mantendo a energia ressentida em si atacando o belo homem que um dia empunhou Zidian. Depois seguiria para seu parceiro: Lan Xichen. Torturaria minimamente o homem e o deixaria ser levado ao hospital para morrer lá mesmo. Apenas depois ele chegaria nos detentores da liderança de GusuLan, mais especificamente: Lan Wuxian. O patriarca Yiling.

Queria, precisava, almejava da morte dele. Wei Wuxian representou tudo para si uma vez, ele foi sua esperança. Sua chance de uma vida melhor. Mas o que ele fez? Agarrou a oportunidade? Não! Na primeira chance que teve se pôs a submissão de Lan WangJi!

Ele respirou fundo, deixando que as marcas de seu ódio deixassem de transparecer por seu braço esquerdo. A puta LingJiao já havia praticamente falhado, então ele não podia se dar a este luxo. Os três cortes desaparecerem e ele voltou a pose de jovem executivo, parando na frente da casa dos Lan. Mais precisamente: Em baixo da sacada do Lan mais velho. Ele olhou para os lados, visando achar alguma testemunha e sorriu satisfeito por não encontrar. O homem foi se dissipando com o vento, se tornando uma fumaça pouco visível, mas com níveis estratosféricos de energia ressentida. Foi lentamente se entremando por entre as paredes da casa, até para no único quarto habitado dali.

Do outro lado da rua, em uma árvore de verde vibrante, um pequeno passarinho de plumas brancas e imaculadas viu a cena se desenrolar. Ela não tardou em abrir as asas e levantar voou até o quarto do casal, mesmo que o espírito já estivesse lá dentro.

Lan Xichen estava com um livro em mãos, lendo tranquilamente seu conteúdo. Estava apenas com a calça do pijama e sentado no colchão fofo, tendo as costas repousada na cabeceira de madeira branca. Em seu colo, um sonolento Sandu ShegShou se mantinha entre o mundo real e o doce mundo dos sonhos, usando o marido como cama e a curvatura de seu pescoço como travesseiro.

O mais velho ali sentiu um frio subir por sua espinha, olhando pelo quarto ao se sentir observado, no entanto não achou nada apenas constatou a estranha mudança de temperatura. Sua atenção foi roubada quando seu marido enrijeceu o corpo, se tornando quase frio e mantendo uma respiração ofegante. Huan sentiu algo molhado e quente tocando a pele de seu pescoço, logo escorrendo por suas costas e peitoral, olhando para baixo ele viu filetes de sangue manchando sua calça e tocando sua pele. Se sentiu desesperar, o sangue vinha de Jiang Cheng.

O corpo menor foi deitado na cama, e no mesmo segundo se pôs a tremer e se contrair, deixando mais e mais sangue escorrer pelos lábios - agora pálidos - e pelos os ouvidos já sensíveis. O Lan sentiu a marca em sua panturrilha formigar, olhando de relance pode ver ele perdendo a cor... Seu marido estava indo embora.

Ele não sabia o que fazer, não tinha como ajudar. Em meio ao desespero, viu a pequena criaturinha entrar pela janela e por algum motivo sentiu paz, além de familiaridade. O pequeno e branco Chapim¹ se posicionou na cabeceira da cama e cantou, afastando o frio do quarto e fazendo o líder Jiang se acalmar aos poucos, só parando quando o homem esta inerte em um sono seguro e calmo. Sem mais sangue ou desvio.

Lan Huan chorava como uma criança desamparada. Via seu corpo, o corpo do marido e a cama banhados em sangue. Viu também o passarinho levantar voou e cantar enquanto planava pelo quarto, espantando o espírito maligno que ali estava, trazendo o clima primaveril de volta e agora pousando ao lado do homem desacordado. Ela o encarava, mas logo olhava o mais velho, como se dissesse que ele ficaria bem e que Huan poderia parar de chorar. Xichen pôs as costas das mãos nos olhos, evitando as palmas cobertas de sangue e tentou parar o líquido que escorria de seu canal lacrimal. Ação que foi em vão.

- Muito obrigado, Liebing. Obrigado... - Ele foi ao Jiang, o abraçando e sentindo a pele voltar ao calor normal, sentindo o coração bater em baixo de sua palma. A Chapim cantou novamente, saltando um pouco no colchão por felicidade, afinal foi reconhecida. A ex-flauta se aproximou do marido de seu amo, esfregando a cabeça plumada em seu rosto e cantando, resultando em um Jiang abrindo lentamente os olhos.

Cheng olhou em volta e logo começou a chorar, implorando pela presença de seu companheiro. Sentia que iria quebrar novamente, sentia que estavam todos por um tris. Não queria sentir aquilo, nunca mais queria sentir aquilo.

- Bebê... - Xichen começou, enquanto abraçava o Jiang. Ele também chorava por alívio e medo, mas viu um soluço escapar entre os lábios carnudos como se ele quisesse dizer algo.

- F-Foi ele. Des-de o início foi ele. - Cheng se agarrava ao Lan, pouco se importando com o sangue. Precisava de alguma estabilidade, precisava de alguma base. Odiava admitir, mas estava com medo.

- Ele? Ele quem, amor?

- M-Mo. Mo XuanYu