Picking it up

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"Não tenho mais lágrimas para chorar
Então eu estou me levantando, estou me levantando
Estou amando, estou vivendo, estou me levantando."

- No tears left to cry, Ariana Grande.

[Capítulo 71: Levantando.]

Era curioso, se me permite dizer, a forma que as pessoas fantasiavam sobre a morte. Sabe, sempre se houve a história de que "se vê a vida diante dos seus olhos", porém não era de todo assim. Não eram os momentos bons e felizes que já vivenciamos que lhe rondavam a mente, mas sim momentos imaginados aos quais ainda não se teve.

Enquanto mantinha-se entre a vida e a inércia dentro daquela ambulância, tudo o que rondava Lan Huan era o vislumbre de uma imagem que lhe parecia nítida, quase uma lembrança, mas que nunca havia ocorrido.

Seu irmão jurado o visitando em um fim de semana, uma casa clássica a qual ele dividia com o marido e um elétrico JingYi criança, nada mais que dois anos, ele supunha. Via o irmão e o cunhado aparecendo com um Yuan bebê no colo protetor e carinhoso de WangJi, o menino que parecia ter apenas meses ressovana baixinho enquanto segurava a blusa do A-Die com os dedinhos gorduchos. Via também YanLi e Zixuan, ambos conversando com HuaiSang em um canto da cozinha enquanto Jin Ling - que parecia consideravelmente mais velho que as outras duas crianças, talvez beirando os quatro anos. - estava a se enfurnar sobre Jiang Cheng, que por sua vez tentava conversar com Madame Yu sem ameaçar quebrar as pernas do amado sobrinho.

A cena era bonita, era caseira e parecia sua vida - ou pelo menos a que queria ter. Ali, naquela ambulância, Huan sentiu o peito encher de algo que ele sabia ser confiança.

Ele não iria morrer, porque se havia a mínima possibilidade de ter aquele futuro ele o faria. O Lan se deixou suspirar em agrado pela "visão" pré-morte. Apesar dela não ser um bom sinal, de que provavelmente sua vida séria arrancada de si no segundo que deixasse o cansaço lhe levar. Uma armadilha que parecia estar o levando para Morpheu quando, na realidade, o levava para Bastet e Odisséia.

Entretanto, Huan se deixou apagar sem nenhum medo. Sua alma não deixaria aquele corpo, havia certeza disso em seu ser. Até porque se ele morresse...

Wanyin quebraria suas pernas.

[❤️🌸❤️🌸❤️🌸❤️🌸❤️]

Traços cor de prata passavam sobre a fresta das cortinas brancas do hospital, a janela aberta deixava a luz da lua banhar o sofá em frente a janela e o corpo acamado logo a sua frente. Um belo homem, com cabelos cortados de forma extremamente curta para que os pontos de sua cirurgia fossem feitos de forma correta e sem erros, o corpo - já não tão musculoso - estava repleto de roxos e com ataduras na mão e em antebraços, mas não chamavam atenção como o rosto - antes de beleza extrema - com tons variando entre o roxo e o amarelo, além do corte em sua testa que continha a linha perfeita de pontos.

Do lado da janela, ali sentado no sofá e vendo os tecidos finos voando como em uma dança desordenada mas bela, Jiang Wanyin olhava tudo com olhos vermelhos e inchados, esboçando íris violetas e sem foco nenhum. Tão abatido que qualquer um que o visse acharia ser apenas mais uma parte da mobília de tão quieto que estava. As lágrimas secas em suas bochechas lhe causando certo incômodo pela pele que grudava, cabeça latejando graças a secreção que entupira seu nariz.

Havia quase três semanas que o Lan mais velho mantinha-se apagado, lutando constantemente contra a morte. O elo que os unia, a marca em sua panturrilha, se tornando cada vez mais claro, chegando a um ponto em que parecia apenas uma linha muito fina contornando o desenho. Huan morria a cada segundo que se passava e o pânico do Jiang chegava a níveis inimagináveis.

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