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No início da nova era, o Número 01 desenvolveu diversos programas para criar seres humanos perfeitos. Não era nada tão extravagante ou fora do comum, ele também não gostava muito da ideia de fazer experiências em banais então criou um sistema rígido. Recrutando crianças órfãs de até dez anos de idade, o Número 01 passou a executar inúmeros testes para verificar se alguma delas se destacava em certa área. As crianças então eram separadas e mandadas a um centro de criação adequada.

Cada uma delas possuía algo em específico que se destacava em alguma proporção. Foram divididas em diferentes casas de formação para super profissionais em áreas renomadas, desde soldados extremamente habilidosos a gênios da ciência. Havia uma grande variedade de crianças predeterminadas a trazer um futuro melhor para a humanidade.

Esse desenvolvimento passou por mudanças e foi evoluindo aos poucos. As crianças não eram mais frágeis e pequenas, elas faziam parte da elite que mudaria tudo. Mesmo depois de anos, o recrutamento não parou.

Em uma tarde de inverno extremo, muitos que viviam no vácuo morreram de frio por não terem como se aquecer. Nos vácuos eram encontradas crianças abandonadas, famílias que as vendiam por alguma coisa que lhes ajudassem a sobreviver, dor, sofrimento, covardia...

No meio daquele branco e gélido espaço, havia um pequenino que tentava se aquecer ao lado de seu avô. No entanto, estava muito frio, mesmo que usasse luvas, nada o esquentava.

— Vamos morrer. — o menino sussurrou para si e o mais velho negou.

— Não, meu filho, vamos viver. — ele tossiu triste. — Você vai viver.

— Eu não me importo. — o garoto falou brincando com os dedos. — Não tenho medo de morrer.

Ele não podia discutir com o menino sem esperança, não existia possibilidade nenhuma deles saírem vivos daquela nevasca.

— O que são? — o garoto levantou encarando vários soldados ao longe banhando a neve de negro e amedrontando os outros com suas armas colossais.

— Fique atrás de mim. — o avô escondeu o pequeno atrás de si — Não fale nada e nem se mexa.

O menino se sentiu amedrontado. Seu avô ajeitou a postura e esperou o pior, afinal, o que soldados armados estariam fazendo em um lugar como aquele?

Algumas pessoas correram para longe, outros já não estavam mais vivos para se mover, mas o velho começou a entender o propósito dos homens quando viu algumas famílias empurrarem suas crianças para o corredor. Uma ideia passou por sua cabeça, porém, ele se repreendeu por pensar nisso.

— O que esconde aí? — um soldado perguntou e o velho se assustou, remexendo-se com medo.

— Nada, meu jovem. — respondeu tentando manter a calma.

— O que houve? — um homem bem-vestido perguntou ao se aproximar. O velho encarou aquele rapaz de sobretudo de pele e sapatos caros demais para um simples soldado. O que mais chamou a atenção nele foi a cicatriz em seu queixo, que desviava até o pescoço.

— O velho esconde algo. — o soldado falou segurando a arma.

— Não deve ser importante. — o homem  respondeu fingindo desinteresse. — Se fosse uma criança, eu tenho certeza que ele não a esconderia. — sorriu e o velho engoliu em seco. — Afinal, arriscaria que ela morresse de frio? — perguntou olhando em direção ao velho.

— Eu... — o velho abaixou a cabeça triste. — Me perdoe. — sussurrou e começou a chorar. O homem revirou os olhos e respirou alto.

— Onde está? — perguntou e o velho se mexeu.

— Meu filho — chamou saindo um pouco da frente do garotinho encolhido coberto por um pano velho.

— Vô? — ele o chamou confuso.

— Vem aqui. — o homem de sobretudo se abaixou até ficar na altura da criança. — Quantos anos tem?

— Não sei.  — respondeu se aproximando.

— Ele tem nove. — o velho respondeu e o menino sentiu algo estranho.

— Vou te levar para uma casa quente, onde terá comida e uma cama lhe esperando. — o homem sorriu, apesar da proposta tentadora o garoto não confiava nele nem um pouco.

— Meu avô vai comigo? — perguntou e o velho desatou a chorar.

— Não, eu não vou. — murmurou — Mas você não precisa se preocupar comigo, um dia nos veremos novamente.

O soldado riu baixinho.

— Não quero ir. — o menino se afastou do homem, este se levantou e começou a caminhar.

— Tragam-no. — ordenou e partiu.

O garoto gritou de desespero, mas ninguém ali se importou com seu sofrimento. Era uma cena trágica, porém, todos estavam acostumados com a vida trágica que tinham.

Aquilo não surtia efeito algum.

— Olhe para mim. — o homem segurou o rosto dele. — Jamais chore por coisas banais. Isso demonstra o quão fraco você é, e você não pode ser fraco. — completou sério e depois sorriu. — Entendeu? — perguntou soltando as bochechas do menino que afirmou engolindo as lágrimas.

Ele, de traços asiáticos e pele branca como neve, foi colocado com os outros dentro de um caminhão minúsculo. Enquanto ouvia as outras crianças chorando de desespero, ele sentiu precisar ser forte pela primeira vez. Mesmo com a memória de seu avô em sua mente encharcando e expulsando qualquer outro pensamento que pudesse ter tido, ele se sentou no chão do veículo e fechou os olhos, forçando-se a não se importar de morrer naquele exato momento. Contudo, estava satisfeito por ainda não ter morrido.




















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Espero que estejam gostando.
Até logo ♡

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