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Mesmo que o inverno já estivesse desaparecendo e não se via mais o branquear da neve, o frio ainda estava presente. 
  
O céu acinzentado era tão triste, carregando aquela pequena melancolia. Quem gosta de dias frio e cinzas? Hoseok se perguntava a cada tragar que dava no cigarro que chegava quase no seu fim.

Hoseok tinha esse escape. Ficar só em algum canto, refletindo sobre algo incrivelmente desnecessário e na companhia daquela pequena caixinha que carregava em seu bolso.  
Sentiu seu corpo se arrepiar pelo frio, mas não ousaria descer até seu quarto para buscar uma única peça de roupa para aquecer sua pele. Precisava terminar aquele ali primeiro. 

Ou só não queria se esbarrar em uma certa pessoa. 

Hoseok não sabia o que sentir. Durante muito tempo se afundou em sua própria mente devastada. Foi como retirar um órgão importante seu, doía diariamente e gradualmente tudo iria o matando. O tornou incapaz. Incapaz de sorrir, incapaz de falar, incapaz de comer, incapaz de ficar sóbrio. 

Hoseok já experimentou de tudo, estar vivo agora poderia ser chamado de milagre, se caso ele algum dia acreditasse nessas coisas. Lembrava detalhadamente de como Jimin chorou ao encontrá-lo num beco, sujo e sem conseguir distinguir o que realmente era real. Taehyung não falou com Hoseok por um bom tempo, e o restante da equipe não dizia nada em relação ao ocorrido, mas Hoseok sabia que eles se decepcionaram. Foi quando prometeu para si mesmo, que mesmo não vendo mais sentido em estar vivo, não desistiria de viver, e prometeu também, que não usaria aquelas substâncias. 

Mas não conseguiu largar o cigarro. Ele gostava de como parecia que seu cérebro descansava, que ele deixava se relaxar e o peso em suas costas ser deixado de lado por um momento. 

Talvez seu tempo de vida se tornasse mais curto, talvez seu pulmão um dia parece de funcionar. Mas, e daí? Ele não esperava estar vivo por muito tempo. 

Até aquele dia. 

Aquele dia que ele quase pode acreditar em milagres ou qualquer que fosse o ser divino que a fez voltar dos mortos. Se Valerie realmente estivesse morta. 

— Sabia que estava aqui. — A voz de Jimin fez Hoseok soltar a fumaça devagar enquanto a observava ir intoxicando o ar. — Você está bem? — Jimin se encostou na beirada do terraço, de frente para Hoseok, ele não esperava uma resposta verdadeira. 

— Sim. — Hoseok terminou o segundo cigarro do dia e sorriu ouvindo sua própria mentira. Talvez se repetir a mesma mentira por um tempo, ela acabe se tornando verdade.

— Você não sabe mentir. — Jimin afirmou relaxando a postura e se encostando mais na beira. — Está mais distante que o normal. — Comentou ainda de olhos fechados. O cabelo caia em sua testa e o nariz estava levemente vermelho por conta do frio, mas nada era tão gelado quando a parede que Hoseok criou em sua volta. 

— Ela falou comigo ontem. — Hoseok disse em um desabafo baixo. — Valerie. — Deixou claro e Jimin abriu os olhos tentando decifrar os enigmas que Hoseok deixava.

— E o que mais? — Perguntou receoso. Hoseok colocou às duas mãos no bolso da calça preta na tentativa de esquenta-las

— Ela viu a tatuagem — Hoseok não queria ver a reação de Jimin ao ouvir sobre algo aparentemente tão simples. — E perguntou sobre ela.

A questão é que não era nada simples. E Jimin sabia bem disso, mas não sabia como ajudar. 

— Era de se esperar que isso em algum momento viria acontecer. — Foi sincero desviando o olhar para a porta que levava ao elevador. — Talvez, de alguma forma, foi bom ela ter perguntado. De que outra forma você falaria com ela se ela mesma não tomasse iniciativa? — encarou Hoseok o vendo lançar um olhar de indignação. 

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