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Se pudesse exemplificar como a mente de Jungkook se encontrava no momento, uma palavra bastaria: perturbada. Sentia como se alguém apertasse seu pescoço ao ponto de não conseguir mais respirar. Raiva, repulsa e medo se misturavam dentro dele. Jungkook sentia um medo avassalador.

Sempre imaginou seus pais de uma forma diferente. Claro, Seokjin nunca deu detalhes sobre seus progenitores, apenas disse que faleceram de forma trágica. Jungkook sempre imaginou que Seokjin não gostava de falar sobre isso devido à tragédia da morte de seus pais. Mas havia outro motivo para Seokjin omitir os fatos, e isso decepcionou Jungkook profundamente. Seu peito ardia em raiva e amargura, pois ele era um Original, e nada poderia mudar isso. Seokjin poderia ter seus motivos, mas isso não alterava o fato de que Jungkook sentia repulsa de si mesmo naquele instante.

Jungkook caminhou até o precipício das colônias, buscando um refúgio longe da agitação de antes, tentando de verdade não odiar Seokjin. O precipício tinha pouco mais de vinte metros de altura, não muito convincente para o nome, mas era conhecido pelo extenso "depósito" que se estendia atrás dele. Depósito foi a maneira mais bonita que encontraram para chamar o ferro-velho abarrotado de sucata, expelindo um desagradável cheiro de ferrugem no ar. Jungkook passou as pernas pela grade de proteção da escada. Abaixo dele, andares de degraus e pedra desciam até o depósito, trancado em um confim mórbido de paredes. Diante de seus olhos, havia um panorama completo das colônias. No centro de tudo, seu pesadelo. Espirais sobrevoavam o local, assim como dentro de sua cabeça.Ele apoiou os braços no ferro e suspirou. Cada passo até ali foi um esforço para deixar para trás as emoções turbilhantes que o assombravam desde a revelação sobre Seokjin. Fechar os olhos foi um alívio momentâneo, permitindo que sua mente se acalmasse, ainda que brevemente. As palavras não ditas e as verdades dolorosas ecoavam em seus pensamentos, mas ali, no precipício solitário, Jungkook encontrava um espaço para respirar fundo e tentar compreender o que sentia.

Ao ouvir passos atrás de si, Jungkook abriu os olhos e viu Maria se aproximando. Ela sentou ao seu lado com um movimento barulhento o suficiente para ele notar, mesmo perdido em pensamentos. Ela chegou poucos minutos depois dele, assistiu-o por um tempo até ter coragem de subir, observou seu silêncio em silêncio, pensando no que iria dizer, pensando na forma como poderia confortá-lo, pensando no que faria agora também.

— Já faz um tempo que você não vem aqui — ela falou suavemente, o cabelo curto balançando no canto da visão de Jungkook. Quando ele finalmente se virou para ela, Maria estava sorrindo, mas o sorriso era pequeno, quase triste — Deve ter sido uma merda descobrir tudo... Do nada... — ela continuou, sua voz carregada com a compreensão de quem sabia que, às vezes, as palavras são insuficientes.

— Você me odeia agora? — Jungkook perguntou em um sussurro triste, e Maria negou imediatamente com a cabeça.

— Você ainda é o meu Jungkook nerd e fofo. — Seu tom brincalhão arrancou um breve sorriso de Jungkook, um pequeno raio de luz na escuridão emocional que o envolvia.

— Estou com raiva, Maria. — Jungkook murmurou, sentindo-se impotente diante das revelações recentes.

— Bem, você não é um dos seus robôs, então é compreensível que se sinta assim. — Maria aproximou-se mais, ficando ao alcance do seu toque. — Não é sua culpa... Nem de Seokjin. — Jungkook ergueu a cabeça para encará-la, seus olhos buscando conforto nas palavras dela.

— Se ele tivesse me contado antes...

— Não mudaria muita coisa, Jungkook. Ele ainda cuidaria de você como sempre fez, ainda seríamos melhores amigos, você ainda faria parte da Colônia Três, e ainda seríamos uma família louca e desajeitada. Eu ainda te amaria.

Jungkook arregalou os olhos, sentindo o rosto esquentar gradualmente. Maria sempre foi direta em tudo, e não era segredo para ninguém que Jungkook sentia algo diferente por ela. A forma como ela invadia e bagunçava seu mundo o fazia amá-la de uma maneira única e profunda. No entanto, Maria era muito melhor que Jungkook, e ele nunca imaginou que ela sentisse o mesmo, então ele sabia que esse amor ao qual ela se referia era diferente.

— Sou um original de merda. — Disse com um riso sem humor, tentando afastar os sentimentos tumultuados de sua mente. Era melhor do que o coração acelerado e a confusão que Maria lhe causava.

— Não, não é. — Maria encarou Jungkook como se pudesse ler seus pensamentos. Seus olhos escuros e penetrantes transmitiam uma mistura de compaixão e firmeza. — Você é o Jungkook. — Sua voz, suave e firme ao mesmo tempo, trouxe um conforto inesperado.

Jungkook respirou fundo ao sentir Maria segurar sua mão carinhosamente. Era incomum para ela demonstrar afeto dessa maneira, o que o surpreendeu e reconfortou ao mesmo tempo.

— Eu queria desaparecer um pouco. Não sei se consigo ouvir o Seokjin agora. — Ele foi sincero, sentindo o peso das informações recém-descobertas pressionando seus ombros.

— Só não esqueça de tudo o que ele fez por você todos esses anos por causa disso. Eu sei, não tem justificativa para ele esconder essa informação, mas... Ele é o Seokjin. — Maria aproximou-se mais de Jungkook.

Jungkook ficou em silêncio por um momento, deixando as palavras de Maria ecoarem em sua mente. A raiva e a frustração ainda estavam lá, mas havia algo no tom dela, na maneira como segurava sua mão, que começava a suavizar as bordas de seus sentimentos mais sombrios.

— Você sempre sabe o que dizer, Maria. — Ele murmurou, com um sorriso triste. — Mesmo quando eu não sei o que pensar ou sentir, você está lá, de alguma forma.

Maria deu de ombros, com um sorriso modesto.

— Faz parte do pacote de melhores amigos, não é? — Ela apertou a mão dele com mais força. — Estamos nessa juntos, sempre estivemos.

Jungkook olhou para ela, realmente olhou, e viu a determinação nos olhos dela, a mesma que sempre o inspirava a seguir em frente, a lutar um pouco mais. Ele suspirou profundamente, deixando que um pouco do peso em seu peito se dissipasse.

— Você está certa. — Ele disse, mais para si mesmo do que para ela. Maria assentiu, satisfeita com a aceitação gradual dele.

— E você não está sozinho nisso, Jungkook. Nós todos estamos aqui para você, todos nós. — Ela fez uma pausa, seus olhos brilhando com uma sinceridade que o tocou profundamente. — E eu, especialmente. Porque... Bem, você sabe. — Jungkook tentou entender aquela frase, mão não conseguiu. — Você significa muito para mim, e eu quero que saiba disso.

A expressão de Jungkook suavizou ainda mais ao ouvir isso, um calor confortante se espalhando por seu peito.

— Eu realmente não sei o que faria sem você.

Maria riu suavemente, um som leve e cheio de vida que parecia dispersar um pouco mais da escuridão ao redor deles.

— Bem, você nunca vai precisar descobrir. — Ela respondeu, sua voz carregada de uma promessa silenciosa.

Eles ficaram ali por mais algum tempo, em um silêncio confortável, ambos perdidos em seus próprios pensamentos, mas encontrando consolo na presença um do outro. Finalmente, Maria se levantou e estendeu a mão para ele.

— Vamos voltar. — Ela sugeriu.

Jungkook não sabia ao certo o que queria naquele momento. Sua mente era um turbilhão de emoções conflitantes, rodopiando em meio à confusão. O vazio ao seu redor parecia refletir o que sentia por dentro, mas havia uma certeza que se destacava em meio a tanto caos: ele não queria ficar sozinho ali. 

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