Capítulo 38

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Lyla!

Sam mal conseguiu resgatar a Archeron antes que ela atingisse o chão. A puxou para perto de seu corpo, carregando-a. Sua pele queimava contra a ele; havia percebido aquilo um pouco mais cedo, mas achava que era efeito da dança. Agora, com ela apagada contra seu peito, a respiração nitidamente fraca, estava claro que não era o caso.

Atravessou o complexo, gritando pelos curandeiros. Sabia que eles não eram muitos, e nem de longe os mais poderosos do reino, mas com certeza saberiam lidar com o que ela tinha. Pelo menos era o que ele esperava. Os outros feéricos estavam altos e bêbados demais para reparar em alguma coisa, e só olhavam para ele, confusos, quando o príncipe usava o próprio corpo para tirá-los do caminho.

Uma fêmea baixinha que ele reconheceu ter vindo de Doranelle o recebeu na enfermaria, já preparada com uma pequena comitiva de auxílio. Eram os únicos sóbrios naquele lugar, embora aquele susto tivesse varrido qualquer confusão para fora da mente de Sam. Se ele estava bêbado cinco minutos antes, agora não se lembrava mais. Lyla era a única coisa ocupando seus pensamentos.

— Alteza! O que aconteceu? — a fêmea lhe indicou uma maca, onde ele colocou Lyla enquanto os outros da equipe tentavam despertá-la.

— Eu não sei. Ela estava bem, dançando, e então apagou — ele sentiu a respiração de Lyla mudando enquanto ela recuperava a consciência, e se aproximou para tentar falar com ela.

O alívio de ver o violeta brotando entre os cílios durou apenas alguns segundos antes que ela dobrasse o próprio corpo tossindo os pulmões para fora. Sangue vermelho e aterrorizante manchou seus lábios e seu belo vestido branco; ela parecia estar sufocando.

— Vire-a de lado!

Sam obedeceu imediatamente, segurando-a de lado para que não sufocasse. A Archeron ainda tossia todo aquele sangue, como se seu interior estivesse se desmanchando. A curandeira passava as mãos brilhantes no corpo dela, como se estivesse examinando o que estava errado com a magia, mas suas sobrancelhas só se franziam mais a cada segundo.

— É como se ela tivesse sido envenenada — ela falava mais para si mesma, ele percebeu, mas as palavras lhe chamaram atenção — Mas não são muitos venenos que funcionam com feéricos... Acônito, Cicuta, Meimendro..

Sanguinária.

Sam olhou para a fêmea que ainda vomitava sangue, lembrando dos experimentos com tortura que havia presenciado. Os sintomas de envenenamento por Sanguinária eram muito claros, mas... Ela não deveria ser vulnerável. A magia protegia dos efeitos mais graves.

Não custava investigar, no entanto.

Ele estava tentando não entrar em pânico, tentando manter a mente limpa enquanto seus instintos feéricos e protetivos se ativavam. Ele queria matar qualquer um que se aproximasse, então apenas empurrava todos que ficassem em seu caminho. Ia ser apenas mais um problema se alguém morresse naquela festa por culpa da raiva dele.

Não demorou muito para achar o cálice em que ela estava bebendo, quase vazio. Era algo que ele não reconhecia muito bem, mas com certeza continha Sanguinárias, pelo cheiro. Levou o copo com ele, para o caso da curandeira reconhecer mais algo.

Enquanto voltava, parecendo um furacão raivoso, foi parado por uma mão pálida, mais forte do que parecia ao primeiro olhar. Verena o encarava com olhos arregalados

— Eu vi você carregando a Lyla para a enfermaria. O que aconteceu? — ele não estava com paciência, mas ela parecia genuinamente preocupada.

— Veja por si mesma — Sam a arrastou para dentro, e a sentiu ficar tensa ao ver a amiga tossindo daquele jeito, encharcada de sangue.

A fêmea curandeira se aproximou, parecendo tão assustada quanto qualquer um deles. O príncipe apenas esperava que ela tivesse capacidade de corrigir o que quer que estivesse errado com Lyla. Se ela morresse, não apenas uma guerra seria deflagrada, como cabeças iam rolar pelas mãos dele mesmo.

— Ainda não sei o que pode ter causado isso, alteza. Sem saber o motivo, é difícil saber que antídoto dar. Não temos magia suficiente para curá-la enquanto o veneno faz efeito — ele assentiu, entregando o copo para ela.

— Foi a última coisa que ela bebeu, veja se ajuda.

Ela aproximou do rosto, cheirou com a mesma expressão que teve ao examinar a lady.

— Parece Sanguinária, o que encaixa com os sintomas, mas... Como? A magia a curaria facilmente.

Isso pareceu ligar algo na mente de Verena, pois ela olhou para Sam tão rápido que ele ouviu seu pescoço estralar. Os olhos estavam ainda mais arregalados.

— Isso era dela?

Ela apontava para o copo, e quando ele assentiu, a ruiva o pegou, levando-o ao nariz e cheirando. Então pôs um dedo no líquido. Sam segurou a mão dela, alarmado.

— Eu não faria isso se fosse você — Verena o ignorou, e colocou o dedo nos lábios; apenas alguns segundos foram necessários para que ela encarasse a curandeira com olhar clínico e decidido.

— Isso está cheio de faebane, Stef — ah, então era esse o nome da fêmea — Ela é de Prytian, não é dos nossos.

As palavras não fizeram sentido nenhum para Sam, mas a curandeira assentiu e rapidamente deu ordens para seus acólitos, atrás de ingredientes específicos que Sam não estava prestando atenção o suficiente para compreender.

— Fae o quê? — o príncipe lançou um olhar para Verena, mas foi breve; nenhum dos dois conseguia tirar a atenção de Lyla por muito tempo. Sempre que ela parecia ter uma pausa daquele sofrimento, as tosses recomeçavam.

Faebane, veneno de fada. Impede a magia dos feéricos de Prytian do mesmo jeito que o ferro impede a nossa. Sabina me ensinou a reconhecer — ela fez uma pausa, como se pensasse — É... como se um de nós tivesse ingerido uma solução de ferro, e então veneno. A magia dela está bloqueada, não pode curá-la.

Aquilo fazia sentido, mas... Ela era uma fêmea forte, alta, era preciso muito mais do que bebidas adoçadas para matar um feérico, mesmo sem magia, era diluído demais. Disse aquilo para Verena, mas ela balançou a cabeça, olhando assombrada para a amiga.

— É, Sam... mas Lyla comeu frutas suficientes para matar um pequeno vilarejo.

Havia uma pontada de culpa em sua voz, e ele viu lágrimas marejarem os olhos castanhos. Ele e Verena brigavam mais do que conversavam, mas o príncipe se sentiu tocado por vê-la tão preocupada com Lyla. Pôs a mão no ombro dela, tentando ser reconfortante.

— A culpa não é sua, Verena — embora fosse de alguém_ apenas a urgência de garantir que a Archeron sobrevivesse o impedia de sair atrás de quem quer que tivesse sabotado a bebida dela e fazê-lo pagar — Vá, ajude a segurar Lyla. Eu vou ver se Stef precisa de algo.

A curandeira já tentava fazer Lyla engolir uma mistura de algo, enquanto outro macho, de pele levemente azulada, usava uma tecnologia nova, vinda da Corte Diurna, para inserir algo na veia dela com uma agulha furada. Ele não gostava muito da ideia, mas não ia interferir.

Não havia nada que pudesse fazer enquanto Stef, a que tinha mais controle da própria magia de água para curar, colocava as mãos sobre o peito de Lyla, para recuperar os pulmões, estômago, e o resto das entranhas que estavam sangrando internamente por causa do veneno.

Ele nunca se preocupara em aprender muito sobre cura além da cicatrização grosseira de alguns cortes em batalha. Se tivesse aprendido... a magia dele seria útil, e faria a garota sofrer bem menos. Lyla estava apagada, mal respirando, apoiada no corpo de Verena, que havia se sentado junto a ela na maca.

Era como se um punho esmagasse seu coração, vê-la daquela forma, a pele pálida e sem vida. Um pavor muito parecido com o que havia sentido quando eram crianças o inundava, e ele mal conseguia dar um passo. Não entendia o porquê, mas era como se seu mundo fosse desmoronar caso ela não sobrevivesse. Ele não conseguia admitir aquela possibilidade. Ela precisava ficar bem.

Levou uma hora até que Lyla deixasse de parecer tão pálida, e mais outra até que a respiração dela não o preocupasse mais. Todos os músculos dele estavam doendo de tão retesados que permaneceram durante aquele par de horas.

Quando a curandeira cambaleou para longe dela, parecendo exausta e um pouco aterrorizada, ele adiantou um passo para impedi-la de ir ao chão, e alguém lhe trouxe uma cadeira.

— Você está bem? — era um milagre sua primeira pergunta não ser sobre Lyla, mas a curandeira parecia prestes a vomitar, ou desmaiar. Ela assentiu, no entanto.

— Desculpe-me, meu príncipe... Eu não tenho treinamento completo, e nunca vi tanto sangue... Mas ela deve ficar bem — Stef enxugou o suor da testa — Não tenho magia para terminar de recuperá-la, ou tirar o faebane do sistema dela, então suponho que terá que fazer ela mesma, com o tempo. Eu posso conseguir poções para ajudar a recuperar o sangue perdido, mas é só isso que posso fazer.

Ela realmente parecia disposta a desistir da carreira de curandeira, mas Sam sempre seria eternamente grato àquela pequena fêmea.

— Então, consiga, por favor. Muito obrigado por sua ajuda essa noite — ela assentiu, sorrindo fracamente, e Sam se afastou, indo verificar Lyla e Verena, que ainda a segurava no colo, parecendo infinitamente aliviada.

— Ela precisa de um lugar para passar a noite? Eu posso ceder meu quarto — ele não havia pensado nesse detalhe, mas não conseguiria deixá-la longe dele. Sua mente gritava que ela era sua responsabilidade, que ele deveria protegê-la.

— Não, eu lido com isso. Pegue as poções com os curandeiros e fique com ela enquanto eu resolvo uma coisa.

A mente dele fervia, e a sorte da maior parte dos feéricos naquela noite era que já estava tarde o suficiente para todos já terem ido dormir. Na verdade, devia faltar uma hora ou duas para o amanhecer, então talvez fosse cedo demais. Sam se transformou em falcão, apressado demais para andar o complexo todo, e retornou à forma original logo depois de invadir seu próprio quarto pela janela.

Não estava vazio, como ele já sabia, e o clarão assustou o macho e as três fêmeas que ali estavam, entretidos em seus próprios afazeres. O macho era um Whitethorn, o mais mimado e irritante de seus primos, e abriu um sorriso lânguido quando reparou quem era.

— Primo! Que surpresa! Veio se juntar a nós? — Sam lançou um olhar homicida para ele. Não faria nenhum bem matar nenhum deles, teve de lembrar a si mesmo.

— Fora! — ele não controlou seu tom de voz, no entanto — Fora daqui, todos vocês!

As fêmeas eram o tipo do primo, mais tímidas e submissas. Não demoraram a levantar e vestir as próprias roupas. Ele, no entanto, era mais insuportável.

— Ah, qual é! Eu estava me divertindo aqui!

— E eu estou ordenando que você caia fora antes que eu jogue você pela janela e teste em quanto tempo você consegue se transformar em um gavião antes que sua cabeça atinja a porcaria do chão!

O macho pareceu alarmado, e também se levantou, para seguir o mesmo caminho das fêmeas. Sam aproveitou e arrancou os lençóis cheirando a sexo de sua cama, jogando em cima dele.

— E leve isso com você, também.

A porta se fechou, deixando-o apenas com o rugir do sangue em seus próprios ouvidos. Se lembrava de avisar os guardas sobre o envenenamento, e pedir que o informassem se alguém tentasse sair escondido da Defesa. Isso aconteceu em algum momento naquelas duas últimas horas infernais, feito automaticamente por conta de seu treino. Mas os instintos de Sam ainda não estavam muito satisfeitos em não estraçalhar a garganta de alguém aquela noite.

Lyla era prioridade, no entanto. Ela fora envenenada sob a guarda dele, sob a responsabilidade dele. Era uma falha dele. E agora ele deveria cuidar que ela ficasse bem antes de ir caçar quem havia feito aquilo.

Repetia esses pensamentos como um mantra conforme colocava um lençol novo e acendia a lareira. Seu quarto era um dos maiores na Defesa, tinha um anexo com uma banheira para que não precisasse descer sempre que quisesse tomar banho, e uma cama de casal bem grande. Poderia trazer uma cama extra para ela, mas não era como se ele se importasse em dividir.

Voou de volta para a enfermaria, e Verena o observou com olhos atentos enquanto ele ajeitava Lyla em seus braços. A Illyriana parecia pequena perto dele, mesmo que não fosse, realmente. Algo naquela situação a fazia parecer frágil, e tudo nele gritava que devia protegê-la.

Sua mãe chamava aquilo de "idiotice de macho feérico", mas ele não conseguia evitar, mesmo que fosse com Lyla. Talvez, porque era ela, ele se sentia ainda pior.

— Disseram para dar esse assim que ela acordar, porque vai estar com muita dor, e esses outros de seis em seis horas para ela recuperar o sangue perdido — a ruiva colocou a alça da pequena sacola no pulso dele — a curandeira deve passar para vê-la amanhã, e eu também.

Verena afastou o cabelo de Lyla, beijando sua testa com ternura, e Sam levou a illyriana embora, andando com cuidado, mas veloz, em direção ao quarto. Pensou nos acontecimentos que o levaram àquele momento, em como a noite provavelmente terminaria se nada daquilo tivesse acontecido.

Ela estava tão linda. Provavelmente ainda mais do que quando usou aquele vestido vermelho pecaminoso. A cor branca e o vestido simples a faziam muito mais atraente. Aquele sorriso solto de quem havia bebido mais do que deveria. Lyla era resistente, mas ficava particularmente alegre com álcool nas veias.

Sam não tinha chances. Nunca conseguiria não encurralá-la contra aquela pilastra, ou dançar com ela, vendo-a gargalhar. Podia facilmente tê-la beijado em qualquer momento daquela noite, mas... Não. Aquele pesadelo todo havia acontecido e tudo a visão dela tossindo sangue estava marcada em suas retinas. O cheiro ferroso do sangue dela inundava suas narinas. Não, a noite não acabara como ele queria, e agora ele colocava uma Lyla inconsciente e fraca em sua própria cama; não era o jeito que ele havia imaginado fazer enquanto dançavam.

Tirou as botas que ela usava, e as meias, mas ela não reagiu. Precisaria tirar suas roupas, limpar sua pele. O vestido branco estava maculado de vermelho, o sangue quase seco.

Apoiou o corpo dela contra o próprio para conseguir desabotoar a roupa, e reparou em uma cicatriz forte e retorcida na nuca, perto do couro cabeludo. Provavelmente era daquele dia, há dez anos, quando Yrene retirou o valg dela; se perguntou porque ela nunca pedira que removessem. Um curandeiro habilidoso provavelmente conseguiria.

O resto das costas era liso como veludo, sem cicatrizes de treino ou luta. Ele sabia como sua pele seria macia, a superfície marcada por músculos. Sabia que no final encontraria duas covinhas em seus quadris. Seu cérebro estava funcionando de modo prático, no entanto, e não se apegou aos detalhes da beleza dela.

Não conseguiu não reparar, embora, em como parecia pequena para a cama, em como sua pele bronzeada reluzia à luz da lua, e na única outra cicatriz destacável que havia nela. Ficava na parte baixa do abdômen, um pedaço escondido sob a lingerie delicada que ela usava; era uma lua minguante no lado esquerdo de seu corpo, uma linha branca e em alto relevo que parecia ter sido um corte feio, mas antigo.

Quem havia feito aquilo com ela? E por que manter essas duas marcas específicas quando todas as outras haviam sido, claramente, retiradas? Além daquela duas, apenas alguns finos traços restavam, mas pequenos demais para serem notados facilmente.

Ainda com essas perguntas em mente, molhou um pano com água morna, e passou rapidamente nas partes de seu peito e abdômen em que o sangue havia ultrapassado o tecido. Limpou os braços e as pernas da maneira mais rápida que conseguiu, já que ela havia começado a tremer com o frio.

Rapidamente, pegou uma de suas camisas e a vestiu. Dessa vez, ela se revirou, deitando de lado na cama. Um sinal de que a inconsciência havia se tonado um leve adormecer. Aquilo era bom. Mesmo que significasse que ela podia acordar com dor a qualquer momento.

Depois de descartar o vestido, o pano molhado, e as próprias roupas sujas de sangue, se enfiou em uma calça de algodão e aumentou o fogo na lareira. Estava exausto. Nunca havia se sentido assim na vida. Era mais do que físico. Havia algo em tê-la visto tão perto da morte que o havia drenado.

Cobriu Lyla com um leve cobertor, e deitou ao lado dela, sentindo o próprio corpo pesar na cama. Sam enrolou uma mecha do cabelo negro nos dedos. Quase nunca conseguia resistir à maciez dele. Teria dormido, caso a respiração dela não tivesse se alterado tão abruptamente.

Lyla engasgou na própria dor, abrindo os olhos com certo desespero. Sam podia dizer que ela estava sofrendo, querendo falar, mas não conseguia. A garganta dela quase havia sido destruída, e deveria arder depois de tanto tossir.

— Calma — ele sussurrou enquanto tentava alcançar, com um braço só, o frasco com a poção azul — Beba isso, vai se sentir melhor.

O príncipe conseguiu que ela engolisse, e em pouco tempo, ela parecia bem mais calma, apaziguada. Perguntava, com os olhos, o que estava acontecendo, por que não conseguia usar a própria magia. Sam achava que devia ser apavorante não conseguir alcançar algo que estava com você desde o nascimento. Deveria ser debilitante.

— Colocaram faebane em sua bebida — o tom dele mal passava de um sussurro, e ela estava grata por isso — Você deve começar a se recuperar logo. Amanhã eu te explico tudo, você precisa dormir.

Ela assentiu, fechando os olhos. Sam acariciou o rosto de Lyla, que se inclinou contra sua mão.

— Machos feéricos super protetores — a Illyriana conseguiu empurrar em um fio de voz — Eu falei que ia conseguir uma cama para ficar.

Ele mal conseguia entender o que ela dizia, mas sorriu quando seus olhos se abriram.

— Eu só não imaginei que seria desse jeito, Astraea — o nome arrancou um esboço de um sorriso de seu rosto.

— Nem eu, Sammy — um silêncio se fez por um tempo, Sam achou que ela havia dormido — Que ótima forma de se passar o aniversário.

Sam abriu os olhos de súbito, ligeiramente alarmado. O que ela tinha falado? Ele provavelmente escutara errado, mas... quando perguntou, ela já havia adormecido.

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⏰ Última atualização: Jan 13, 2021 ⏰

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