Capítulo 17

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Lyla estava sinceramente grata pela lareira dentro do quarto, pois a noite trouxe junto com ela frio e neve. Tanto que, assim que ela pôs os pés para fora do aposento, correu de volta pela porta para pôr um casaco grosso de pele além em cima das camadas de roupa que ela já vestia.

Ela podia ser feérica, Illyriana, e morar nas montanhas, mas ainda era muito mais afeita aos climas amenos: não muito quentes, e nem muito frios. Aquilo, definitivamente, se enquadrava como muito frio. Apenas perdia para a Corte Invernal, e Terrasen na semana anterior.

O dia começava cedo em Defesa Nebulosa, mas o dia dela começava mais cedo ainda. Teve que esperar o sol despontar do céu, e ainda assim, estava adiantada para seu turno na cozinha.

Emrys ergueu as sobrancelhas brancas quando a viu entrar pela porta, e Sajja riu, pondo uma tacha de pão para assar. 

— Vai atravessar os desertos gelados, menina? Tire esse casaco enorme, não é necessário na cozinha — Lyla riu, mas tirou o agasalho de pele, pondo em um cabide alto. 

— Não, mas pra chegar aqui eu preciso. Se os Desertos Congelados forem ainda mais frios que isso aqui, eu não quero conhecê-los nunca — ela se posicionou estrategicamente perto do calor do forno, sorrindo para Sajja — Então, já tem algo para eu fazer?

— Você chegou cedo, menina — foi Emrys que respondeu, sentando à mesa — Coma alguma coisa, ainda tem uns vinte minutos, e como eu não te vi ontem pelo jantar, imagino que esteja faminta.

Ela estava. Na noite anterior estava tão cansada da viagem, do temperamento de Sam, de tudo, que apenas deitara na cama após arrancar as próprias roupas e dormira direto, sem interrupções, até umas duas ou três da manhã. Não havia relógios em Defesa Nebulosa, então ela não sabia exatamente.

Sorrindo, sentou-se junto ao velho, que lhe empurrou morangos e um figo da bandeja.

— Aproveite que tivemos sorte e recebemos um carregamento de frutas mais cedo — ela aceitou, experimentando a fruta doce. O caldo escorria por seu queixo, fazendo Emrys rir.

— Vocês recebem suprimentos de fora? Achei que fossem autossuficientes.

— Nós temos o básico — a voz do outro macho soou de dentro da despensa — E muito mais do que tínhamos na época da rainha anterior. Não comemos mais batatas todos os dias, por exemplo. Temos outras formas de carboidratos e outras raízes.

— Mas ainda recebemos carregamentos de frutas e outras coisas, como vinho, hidromel, e chocolate em pó — Emrys completou — Quando damos sorte deles chegarem, é claro. As montanhas são um pouco hostis para carregadores. No inverno, quase nunca as recebemos.

— Vocês deveriam construir uma estufa. Não é difícil cultivar essas frutas delicadas em temperaturas controladas. Imagino que tenham pomares por perto.

— Sim, temos, mas elas não dão frutas durante o inverno, obviamente — Sajja a respondeu, pondo um pão quente e cheiroso no prato dela — Pão de batata, minha especialidade. Coma com queijo de cabra, é delicioso.

Ela riu, e fez o que ele disse.

— Daqui a três semanas deve chegar outro. Os carregamentos de festa sempre chegam — Emrys empurrou as palavras entre uma colherada e outra de algo que parecia mingau.

— Para o Nynsar? — ela franziu a testa; não sabia que aqueles continentes comemoravam o Nynsar. Aquele era um costume de Prytian.

— Sim. Vai chegar uma carroça cheia de Sanguinárias e... Emrys, como é mesmo o nome daquela fruta preta?

— Amora de Hellas — Lyla arregalou os olhos engolindo um gole de chá de frutas silvestres adoçado com mel.

— Simpático — os dois riram da expressão e do tom dela — Por que tantas?

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora