Capítulo 23

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Se havia uma pessoa capaz de deixar Lyla completamente desorientada era Sam Ashryver Whitetorn Galanthynius.

Na manhã seguinte ao primeiro jantar, ele simplesmente havia fingido que nada havia acontecido. Ele parecia mais relaxado na presença dela, mas continuava sendo aquele péssimo professor que a provocava até o limite. Lyla tentava entender o que ele estava fazendo, mas era simplesmente desgastante se segurar para não acertar a mão na cara dele a maior parte do tempo.

No segundo jantar, no entanto, a noite se repetiu. Ambos escutaram as histórias um ao lado do outro, a perna dela sobre a dele por opção dessa vez, e ambos tão relaxados na presença um do outro que ela mal questionava as pequenas carícias em sua coxa nua, que a deixavam arrepiada. O Caldeirão sabia que se fosse qualquer outro macho ali, ela já teria empurrado aquela mão perna acima, para o lugar onde ela realmente a queria

Que os deuses a ajudassem, e Sam não sentisse a forma como o cheiro dela mudava com aqueles simples toques. Apenas... Era difícil fazer o corpo resistir quando o cérebro dela o achava extremamente atraente e ficava fantasiando a respeito do que poderiam fazer juntos em um quarto. Ela mal havia conseguido dormir naquela noite, seu corpo totalmente ligado e sensível a tudo.

Maldito fosse aquele príncipe.

O terceiro dia se repetiu igual, e Lyla já estava começando a ficar frustrada. Sam era a definição de manter as coisas separadas. Como alguém conseguia ser tão frio uma hora, e então, se tornar tão suave que a aquecia inteira? Ela havia passado a maior parte do dia querendo gritar, mas não era estúpida. Ele acharia que ela estava confundindo as coisas.

Em ambos os dias, ele deixou claro que não havia esquecido a punição dela. Primeiro, a fez destripar e tratar tantos peixes que ela havia passado quase uma hora tomando banho apenas para se livrar daquele cheiro que a fazia querer vomitar. Da segunda vez, ele a fez perceber o quão bom ele era guardando informações, pois a havia mandado para os estábulos.

Depois de quase levar um coice de um cavalo, pisar em mais pilhas de bosta do que ela podia contar, e achar que federia a cavalos a vida toda, ele a havia dispensado, e novamente ela havia se atrasado para o jantar por passar a maior parte do seu tempo tentando cheirar a algo mais agradável.

Quando ela chegou para comer, ele a aguardava no local dos dois dias anteriores, seu prato quase no final. Lyla ficou ao lado dele novamente, mas sua mente estava distraída das histórias, tentando entender o quebra-cabeça que era o macho que a abraçava com um braço só naquele momento, após terminar a própria comida.

Quando escutou seu nome, e sentiu Sam apertando sua coxa, levantou os olhos para Emrys, que olhava com expectativa para ela.

— Por que não nos conta uma história da sua terra, Lyla? Sei que Prytian deve ter histórias muito boas.

Surpresa, Lyla se endireitou, saindo do colo de Sam, e esticou a coluna, sentindo o olhar de todos ali recaírem nela.

— Eu não sou tão boa quanto você, Emrys, mas conheço algumas histórias, então posso, sim— ela deu um meio sorriso nervoso, tentando lembrar como Amren havia começado aquela narrativa — Quando o Caldeirão formou os mundos, as realidades ainda não eram separadas. Haviam portais que se abriam, e se fechavam; portais que ligavam um mundo a outro. Às vezes, alguma criatura passava, e o portal se fechava atrás dela, trancando-a em um mundo que não era o seu.

Ela tinha a atenção deles, ela percebeu. A narrativa dos vários mundos era comum aos dois continentes.

— Uma vez, três irmãos passaram por esse portal. Eles eram deuses da morte, e se tornaram entidades temidas em Prytian. Antes mesmo dos humanos e feéricos se estabelecerem definitivamente na terra, eles já espalhavam seu império de terror. Stryga carregava no corpo a beleza de quem ela matava, O Feiticeiro passou séculos vagando e amaldiçoando mulheres, transformando-as em seus animais de estimação. O terceiro, e mais novo, tomou a decisão de não ficar entre seus irmãos caso algo acontecesse, e se trancou quilômetros abaixo da terra, em uma prisão mais velha do que qualquer Reino ou Corte, cujos seus prisioneiros recebem punição perpétua. Quem é preso ali, nunca mais sai.

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora