Capítulo 25

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Lyla nunca havia se divertido tanto em um treino. Era diferente quando estava treinando com alguém tão leve, que fazia piadas o tempo todo. Ela já se sentia próxima a Verena em algumas horas de convivência, e percebeu o quanto seus padrões estavam baixos graças a Sam. Seus dias eram geralmente assim, em Velaris, sempre rindo, comemorando. Com Sam, ela estava sempre à beira do precipício de matar alguém.

Era considerado regicídio se ela matasse um príncipe ou tinha um nome próprio?

Tinha até mesmo se esquecido do almoço, porque aqueles momentos estavam tão bons... Ela tinha medo que, se parassem, aquela espécie de magia acabaria. Ela estava cansada de se sentir furiosa o tempo todo, queria alguns momentos de leveza, e Verena era toda leveza, sorrisos e piadas. Se pudesse escolher com quem passar o resto da viagem, a escolheria sem pensar uma vez sequer.

A magia, no entanto, acabou antes do que ela imaginava. No que poderiam ser umas três horas da tarde, elas viram Sam subir o vale, e abaixaram as espadas. Lyla tentou sondar o humor dele, mas seu rosto permanecia aquela estátua de pedra que conhecia bem. Seus olhos sequer repousaram sobre ela antes de se fixarem na ruiva.

— Verena.

— Sammy! Nem pudemos nos falar ontem — porque Lyla tinha um pressentimento ruim sobre aquilo...? Por que aquela voz, alegre demais, fazia seu coração se apertarde uma forma estranha? — Eu estive em Wendlyn recentemente, sabia?

Sam ergueu as sobrancelhas, como que esperando que ela completasse. Tudo o que Lyla queria era se mandar dali o mais rápido que pudesse. Ela se sentia perto se uma bomba prestes a explodir

— Eu falei com a Sabina, por lá. Ela sente sua falta. Sabia que não tem notícias suas há quase um ano? Está ficando preocupada.

E... Objetivo atingido.

Lyla sentiu. Sentiu todo o ar mudar, estalar com magia. Gelo e fogo. Ela nem sabia que ele era capaz de conjurar os dois ao mesmo.

Lançou um olhar para Verena, balançando a cabeça minimamente. A ruiva olhou para Sam. Ele ainda estava imóvel, os músculos rígidos, olhando para ela como se fosse uma presa, e Lyla quase conseguia sentir o sabor de sua raiva. Quem quer que fosse Sabina para ele, o que quer que tivesse acontecido... Aquilo era algo pessoal pra ele. Um espinho que Verena não deveria cutucar.

A morena quase podia ouvi-lo xingando Verena mentalmente com tanta raiva que até mesmo Aelin ficaria abismada. Isso apenas pela fúria em seus olhos, sem sequer mencionar todos os cenários que passavam em sua cabeça, cheios das milhares formas de como aquilo poderia terminar muito errado. Ela provocava e empurrava Sam todos os dias, mas não cometia o erro de achar que machos feéricos eram bichinhos de estimação inofensivos.

Vai embora, Verena. Apenas vá.

Não estava usando as habilidades daemati, mas repetia aquela frase tantas vezes em sua mente que Verena deve tê-las visto em seus olhos. Ela balbulciou "me desculpe", pegou suas coisas e foi embora.

Lyla não sabia o que fazer. O olhar de Sam mudou pra ela, os arcos de ouro queimando. O pavor poderia ter aparecido em seu peito, mas por algum motivo, não tinha medo. Sabia que não era o alvo de tudo aquilo.

Cuidado, Sam. Assim vou começar a achar que você se importa com alguma coisa nessa vida.

Ele não riu, mas fechou os olhos e soltou uma respiração brusca. Como se tivesse segurando uma risada. E com aquela respiração, a magia se dispersou, como névoa na luz da manhã. Se ela não o conhecesse bem, diria que ele tinha um sorriso no canto dos lábios.

— Que companhias você foi arranjar, Archeron.

— Não tenho culpa se você consegue odiar todo mundo.

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora